Agora ex-Fla, Mugni abre o jogo: “Se quisesse dinheiro, eu iria para o Catar”

Contratado com direito à camisa 10 e para ser o 10 que o Flamengo não tinha desde a saída de R10, Lucas Mugni não vingou no clube. Aniversariante desta quinta-feira, ele deixou o clube na quarta após chegar um acordo amigável com o Rubro-Negro – ficou com R$ 1 milhão.

Seus últimos meses se limitaram a treinos na academia do CT, já que estava fora dos planos do clube. Durante o período de afastamento, a torcida caiu de pau em Mugni devido ao fato de ele ter rejeitado diversas propostas – entre elas duas muito boas do Al-Rayyan, do Catar. O gringo gosta do Rio, e a torcida via as recusas a possibilidades de saída ou de empréstimo como uma forma de ficar aproveitando e a cidade com o polpudo salário que recebia (R$ 150 mil).

– Se quisesse dinheiro, eu iria para o Catar, porque meu salário era o triplo do Flamengo. Eu estaria de boa, com casa e tudo. Salário não foi problema. Não vou ficar aqui por salário ou nem sair por salário. Sempre procuro jogar e me sentir competitivo. Podem falar que todos estavam brabos: torcida, imprensa… Eu estou muito tranquilo, porque eu não queria ficar pela grana. A gente chegou a um acordo muito bom, estou procurando jogar e mais nada. Está tudo certo – afirmou.

Abaixo confira papo no qual Mugni admite ter sentido a pressão da camisa 10. Em contrapartida, argumenta que o Flamengo de 2014, ano no qual chegou, era bem diferente do atual.

Por que você não deu certo no Flamengo?

Sou autocrítico e sei as coisas que fiz errado. Não senti que fiz muita coisa errada, a principal pode ser a cobrança que recebi quando peguei a camisa 10 do Flamengo, que todo mundo sabe o que significa no clube. Mas falando hoje eu voltaria a pegar. Quem não gostaria de pegar a 10, com tudo que se sabe de Zico e o Flamengo? Poderia sair muito bem ou muito ruim. Saiu mal, mas tranquilo. O clube não era o que está sendo hoje.

Que mudanças você observa?

Hoje você vê as instalações e vê que hoje é um clube grande. Está pronto para jogar copas internacionais e ganhar títulos. Eu falei com a diretoria que eles estão fazendo um trabalho muito bom e que agora dá para ver que o Flamengo vai dar resultado. Aconteceu no último campeonato, o Flamengo esteve muito perto do título. Continuando por esse caminho aí, vai ter muito mais título.

E quais eram os principais defeitos?

Quando cheguei, as coisas eram bem diferentes. O treinador era da base (Jayme de Almeida), que subiu, o time não estava muito bem organizado. As instalações do CT não eram como as um de clube grande. Quando cheguei, falei: “Bom, é o Flamengo”. Aí pouco depois o moral caiu, porque o time não estava bem na verdade. Então é preciso colocar na balança. O que eu fiz errado e o que estava de errado no clube. Acho que tanto eu como outros jogadores dificilmente conseguiriam triunfar no Flamengo.

Você falou em treinador da base… Teve problemas com Jayme de Almeida, o técnico do time na época de sua chegada?

Não, nada. Falo que eles não escolheram nenhum treinador. Deixaram por questão de economia. A diretoria não apresentou um projeto. Nunca falaram, por exemplo, “o Flamengo quer jogar a Libertadores, quer sair campeão”. Não. Foram resolvendo problemas, da seguinte forma: “ah, o treinador vai ser esse aqui, a contratação vai ser assim…”. Não tinha um projeto muito bem organizado. Agora que você vê que o CT está muito bem, que está sendo muito organizado e que o clube vai melhorar muito.

Você falou em projeto, e houve um treinador seu que insiste na palavra “projeto”: Vanderlei Luxemburgo. Você viveu bons momentos com ele. Quais foram os seus melhores no clube?

Acho que com Luxemburgo tive muitos bons momentos, eu me sentia muito bem. Talvez a cobrança era muito grande, e eu não conseguia ser esse jogador. Nunca senti que estava tão ruim no campo. Senti que muitos jogos eu joguei bem em campo.

Como foi a relação com o Vanderlei Luxemburgo? Ele tentou te transformar em volante. Gostou da experiência ou foi ruim?

Eu gostei muito, me acostumei. Luxemburgo me queria muito, eu o respeitava, e ele me respeitava. Obviamente todo mundo o respeita. Se você vê o número de quando cheguei e quando chegou o Luxemburgo, nesses períodos eu fui um dos que mais entraram em campo. Acho que isso quer dizer alguma coisa. Você vê que chegam outros jogadores e não jogam. Tentei ser volante e me senti muito bem.

Vieram as propostas, e você recusou boas ofertas do Catar. Por quê?

Para mim, não importa o dinheiro e sim a felicidade. Se fosse por dinheiro, estaria no Catar. Minha vida estaria resolvida, minha família, filhos e tudo, porque é muito dinheiro. Filhos, netos e tudo. Minha felicidade é jogar. Estava jogando num clube grande, havia competição. Eu gosto de ser cobrado, era um desafio e queria jogar. Escolhi minha felicidade. Ia ganhar muita grana, mas não ia ficar feliz. Meu salário no Flamengo pode ser muito bom. Beleza. Mas eu sou um cara competitivo e quero me sentir um cara importante no elenco, no time. Então busquei um acordo para a diretoria e para mim. Tivemos uma reunião muito boa com o Rodrigo e resolvi minha vida. Vou procurar um time para me sentir assim.

Também disse não a propostas de Vitória, Atlético-PR, América-MG… Foi pelo fato de não terem a mesma tradição que os maiores clubes do Brasil?

É um tema mais pessoal, difícil de falar. Não foi tão assim como parece. Parecia que eu falava que não, mas isso fica comigo. Eu queria jogar, mas eu tinha alguns problemas a resolver. Tive problemas com meu agente, que agora, graças a Deus, solucionei. Ficou tudo de boa, eles me trataram muito bem. Estou muito agradecido ao Flamengo, tanto aos meus companheiros e diretoria. Sempre tentaram me ajudar. Queria resolver as coisas do lado pessoal e com o Flamengo. Isso que eu fiz.

Você foi pressionado a sair pelo clube?

Não, nada a ver. Nunca me pressionaram. Eles só apresentavam as propostas.

Por que você também não deu certo no Newell’s Old Boys?

Na verdade, eu tive seis meses muito bons. Saía do Flamengo, onde não tinha vaga, cheguei ao Newell’s, comecei a jogar até o fim do campeonato. Me senti muito bem novamente, estava conseguindo o que queria, aí depois é como eu falo: “todo mundo só vê o jogador dentro de campo, não vê fora”. Até hoje uma dívida de Newell’s Old Boys. Não pagaram praticamente nada dos meus salários. Imagine jogar praticamente seis meses de graça e outros seis que foram só de luta? Isso a torcida e a imprensa não vê: o esforço que o atleta fez.

Aí você volta e é comunicado de que não fazia mais parte dos planos do clube. Como reagiu quando soube disso?

Primeiro fiquei triste, um pouquinho bravo com certeza, mas sou profissional. Eu tinha que respeitar aquela decisão, não sei quem a tomou, mas eu tinha que respeitar. Por respeito, falei que ia treinar onde e quando eles me mandassem. Ia fazer tudo que tinha que fazer com uma atleta profissional. É o que eu sou. Treinei os dias todos até as férias, e foi o que fiz.

Costuma ler redes sociais?

Não tenho hábito. Só tenho um Instagram, e ele é fechado. Não sou muito de ficar em internet.

Na internet, a torcida estava batendo forte em você. Diziam que você só queria treinar e levar seu dinheiro. Isso chegou a você?

Isso aí chega, claro, o jogador não é bobo, não. Mas estou muito tranquilo. Se falar em dinheiro, vou voltar ao tema anterior, porque meu salário era o triplo do Flamengo. Eu estaria de boa, com casa e tudo. Salário não foi problema. Não vou ficar aqui por salário ou nem sair por salário. Sempre procuro jogar e me sentir competitivo. Podem falar que todos estavam brabos: torcida, imprensa… Eu estou muito tranquilo, porque eu não queria ficar pela grana. A gente chegou a um acordo muito bom, estou procurando jogar e mais nada. Está tudo certo.

Como foi ficar quase seis meses sem treinar com os companheiros?

Fiquei muito triste, porque jogador vive de concentração, treinamento e jogos. O dia a dia é de pensar, de como vai jogar, de como vai ser a atuação. Tiraram isso de mim. Sabia que não ia jogar nem concentrar. Mas, graças a Deus, eu tirei disso o melhor. Eu tinha que ficar na academia e fazer três ou quatro meses fazendo só trabalho físico. Para me sentir melhor, eu trabalhei, deixei tudo na mão de Deus.

O que representa o Flamengo na sua vida após o fim da frustrante passagem?

Aprendizado, levo comigo também muitas pessoas com carinho. Tive pessoal de trabalho dentro do Flamengo com muita gente do bem, uma aprendizagem muito grande.

Que jogadores, por exemplo?

É feio citar nomes, mas tinha uma relação muito legal com o Gabriel… Paulo Victor. Obviamente Canteros, estávamos praticamente juntos o dia inteiro. Todo mundo, graças a Deus, vai falar bem de mim.

Como ficou sua relação com a diretoria?

Ficou muito boa. Assim como eu respeitei a eles quando tive que treinar sozinho, acho que eles viram essa vontade e esse cara do bem que eu sou. Eu só queria ser um atleta profissional, e era o que eu estava sendo. Tivemos uma reunião muito boa onde falei com presidente e Rodrigo. Fiquei com um carinho muito grande e tomara que dê para eu voltar ao Flamengo, é minha vontade também. Chegamos a um acordo mútuo e ficou tudo bem.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2017/01/agora-ex-fla-mugni-abre-o-jogo-se-quisesse-dinheiro-eu-iria-para-o-catar.html

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