Amparado por Antonio e livre do Fla, Luiz vira página por “chance da vida”

A corrida do pequeno Antônio, de dois anos, rumo ao abraço com gritos de “papai
chegou!” a cada vez que o carro embica
na garagem surge quase que como um lembrete para Luiz Antônio: os erros do passado
não podem se repetir. Uma das crias da base com mais jogos do Flamengo na
década (178), o volante viu a certeza do sucesso após ser eleito o craque da
final da Copa do Brasil de 2013 (confira vídeo acima) virar dúvida por escolhas que ele mesmo
reconhece terem sido equivocadas. Perdeu espaço, rodou por Sport, Bahia e
chegou a Chapecoense com uma convicção: 2017 será o ano que definirá o rumo de
sua carreira.

Depois de mais de dez anos, Luiz Antonio não retornará
ao Flamengo. Apesar da proposta da diretoria, o contrato não foi renovado
diante de um novo empréstimo, e o volante estará livre no mercado em dezembro. Ato final para independência de quem se viu obrigado a amadurecer na
marra. Do polêmico processo contra o clube que o revelou, no início de 2014,
até a chegada a Chapecó, o ainda jovem de 25 teve que encarar pressão da
torcida, da família e oscilações dentro de campo até encontrar a serenidade que aponta como
determinante para ter um 2017 redentor:

– Estou encarando como se fosse minha última chance, meu prato de
comida. Se eu for mal, fico livre e não consigo um contrato melhor. Se for bem,
posso conseguir minhas coisas. Depende só de mim. O tempo está passando.

Já instalado em Chapecó, Luiz recebeu o GloboEsporte.com
para um longo bate-papo entre beijos e abraços do pequeno Antonio. Não se
privou de falar de Flamengo. Pelo contrário, falou muito. Admitiu os erros do
passado, bancou a decisão de cortar o cordão umbilical com o clube e mirou
o futuro em verde e branco:

Adeus ao Flamengo

Foram 12 anos, desde o mirim. É difícil. Fui criado,
sempre fui Flamengo, e é um fim por opção minha. Eles me ofereceram mais um
ano, mas não foi significante. Pelo que fiz fora, acho que poderia ser um
pouquinho mais valorizado, mesmo que tenha mágoa do passado, porque acho que
ficou um pouco. Tive história no Flamengo, é difícil, complicado, mas pretendo
um dia voltar e terminar a carreira. É minha casa. Sou Flamengo de coração.
Agradeço por tudo que fez, ao torcedor, que é
sensacional. Tive
erros, ficou a mágoa, mas passa. Um dia termina o ciclo no clube. É uma página
virada. Vida que segue.

Decisão de não renovar

Eu poderia ser emprestado, ir muito bem, e no ano seguinte
não ia ser aproveitado de novo. Acabaria ficando preso. Achei que não seria
interessante para mim. Tenho condições de estar ali jogando, mas isso acontece.
Foi opção do Flamengo, do treinador, e foi o que pesou. Eu olhei e vi que não
teria oportunidade de voltar. Optei por seguir minha vida e fazer meu pé de
meia no futebol.

Retaliação pelo processo?

Ficou um pouco de mágoa pelo peso que a torcida tem. Por
mais que digam que tenha afetado a parte psicológica, no ano seguinte eu joguei
pouco. Não tinha como demonstrar o mesmo futebol, e logo depois fui para outro
lugar. Acho que ficou um pouco de mágoa, a torcida ficou chateada, mas acho que
passa. Cometemos erros. Eu cometi um erro. Não tive a maturidade de dizer que
não ia fazer. As pessoas me levaram para o outro lado, mas consegui reverter
isso e mostrar que tenho valor. Espero que essa mágoa cicatrize e eu tenha a
chance de mostrar meu valor de novo. Não foi bebida, não foi balada, não foi nada. Foi um
acaso que aconteceu.

Influência externa

Foi muito. Foi aquele negócio de garoto. Confiei em uma
pessoa que quis me usar como produto. Ele (empresário) de certa forma me
afastou da minha família para colocar coisas na minha cabeça. Lógico que eu
tenho parcela por não ter me imposto, por ter me precipitado, mas é muita
influência. Não tira minha culpa, podia ter feito algo diferente. Tive atrito
familiar, foi ruim para mim naquele momento. Hoje, tenho minha esposa, meu
filho, e penso mil vezes antes de tomar qualquer atitude. Se tivesse mais
maturidade na época, teria um entendimento melhor da situação.

Oportunidade da vida

Estou encarando a Chape como a oportunidade da minha vida. Por mais
que tenha ido bem no Bahia, é a minha chance porque fico livre no fim do ano.
Vou jogar Libertadores, Copa do Brasil, Brasileiro e conseguir ter uma melhora
em relação a minha vida financeira, aos sonhos que tenho de jogar na Europa,
conhecer outro estilo de jogo. Estou encarando como se fosse minha última chance, meu
prato de comida. Se eu for mal, fico livre e não consigo um contrato melhor. Se
for bem, posso conseguir minhas coisas. Depende só de mim. O tempo está
passando.

Independência

Nunca tinha saído do Flamengo e no começo foi difícil.
Aprendi no Bahia e no Sport a melhorar minha marcação, eles me ajudaram muito.
A pegada é diferente. Foi bom sair um pouco. Sempre tive pressão do meu pai
para jogar. Ele dizia que eu tinha que ser diferente, não ser um jogador normal.
Isso tudo me amadureceu. Hoje, tenho minha esposa, filho, família. Tudo isso é
bom para entender o valor da família, te dá confiança. Nós, homens, demoramos a
amadurecer e essa convivência fora do Flamengo, sem ser visto como um
garoto, foi boa.

Identidade em campo

Quero me firmar como segundo ou terceiro homem
de meio-campo, mas sem deixar o lado versátil. Aqui no Brasil, esse jogador não
é muito valorizado. Acaba virando coringa, mas nunca titular, vira o
quebra-galho. Lá fora, já é mais valorizado, está sempre jogando. É legal
mostrar minha capacidade, mas dificulta para se firmar no Brasil. Isso é
importante para mim. Nesse primeiro momento, preciso jogar para ganhar ritmo.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/chapecoense/noticia/2017/02/amparado-por-antonio-e-livre-do-fla-luiz-vira-pagina-por-chance-da-vida.html

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