Análise: Romulo pós-cirurgias inspira pé atrás, mas chega para ganhar vaga

Romulo chega no domingo de manhã cedo ao Rio de Janeiro para se apresentar ao Flamengo. Sem dúvida, é uma contratação de impacto para o Flamengo. Mais pelo que mostrou em três anos como titular do Vasco e em convocações para a seleção brasileira – olímpica e principal -, menos pelas últimas temporadas no futebol russo. As duas cirurgias no joelho prejudicaram sua ascensão e a sequência dentro do Spartak Moscou.

Da peneira com mais de 100 crianças em Picos, no Piauí, onde nasceu, até a venda por 8 milhões de euros ao Spartak, a passagem de Romulo no Vasco o credencia para ser titular absoluto do Flamengo. É superior tecnicamente e tão combativo quanto Márcio Araújo – que é mais veloz, porém – e mais experiente e disciplinado taticamente que Cuéllar – o colombiano é um caso à parte no Flamengo, já que quase sempre jogou de segundo volante, mas foi contratado para disputar posição com Márcio Araújo.

Acompanhei o início da trajetória de Romulo no Vasco como repórter setorista do clube de São Januário. Antes de completar 17 anos, ele era titular do Porto de Caruaru. Custou R$ 500 mil para trocar Pernambuco pelo Rio de Janeiro e chegou ao Vasco ainda na base, em 2009 – no ano seguinte foi campeão estadual de juniores. No segundo semestre já começava a entrar no time para não sair mais. O que poucos lembram é que ele foi vítima do caldeirão de pressão que era o Vasco naqueles oito anos sem título. Romulo chegou a ser defendido por Felipe.

– O Romulo se dedica bastante na marcação, e a torcida o vaiou. Ele é um
jovem. Sem o apoio fica muito mais difícil. O rendimento cai – disse, à época, o
atual técnico do Tigres.

No Vasco, Romulo iniciou como segundo volante, mas num 4-4-2 bem tradicional, ao lado de Eduardo Costa, com Felipe e Diego Souza na criação – dois jogadores que marcavam pouco e exigiam muito do garoto Romulo, que muitas vezes ficava sobrecarregado. O experiente Eduardo Costa, que já sentia o declínio físico aquela época, corria bem menos – e mostrou até certa insatisfação com a importância dada ao jogador em sua saída.

– As coisas mudam muito rapidamente. Ano passado muitos não queriam nem que o Romulo jogasse. Mas ele foi crescendo com a equipe. Era um jogador importante? Sim. Mas não se pode colocá-lo como peça fundamental da equipe. O meu currículo, por exemplo, não dá nem para comparar com o do Romulo – afirmava o hoje aposentado Eduardo Costa.

Fato é que Romulo foi fundamental na campanha do título da Copa do Brasil em 2011. E se encaixou melhor ainda com Nilton, que saía mais para o jogo, no ano seguinte. Romulo se encontrou desta maneira em cima das orientações de Ricardo Gomes – que já previa àquela época que o volante chegaria à seleção brasileira.

Com boa estatura – 1,84m – e passadas largas, Romulo tinha ótima dinâmica de jogo, fazia rápida cobertura das laterais e já era ótimo na bola aérea defensiva e ofensiva – fez oito gols em 106 jogos pelo Vasco. Com muito treinamento, melhorou a saída de bola, que gerou algumas críticas da torcida e da imprensa no seu início de carreira.

A evolução do volante ficou clara no confronto das semifinais da Sul-Americana de 2011 contra a Universidad do Chile comandada por Jorge Sampaoli, que no mesmo ano goleou o Flamengo por 4 a 0, no Engenhão. Atuando avançado, Romulo driblou, chutou a gol com frequência e fez dois de seus melhores jogos pelo Vasco no empate por 1 a 1, em São Januário, e na derrota por 2 a 0, em Santiago. Tornou-se o tipo de jogador que todo treinador quer ter no seu meio de campo – por ser carregador de piano, disciplinado e com boa técnica.

No clube russo, foram 67 partidas (quatro gols marcados) em pouco mais de quatro anos – entre Campeonato Russo, Copa da Rússia, Liga Europa e Copa dos Campeões. O clube fez cerca de 100 jogos no período. A média de partidas é baixa – menos de 20 jogos por ano – e se explica pela grave lesão que sofreu. Artur Petrosyan, editor chefe do Sportfakt, da Rússia, conta que o início do volante foi muito bom, mas a passagem termina sendo abaixo da expectativa.

– No geral é uma decepção, mas por razões que Romulo com certeza não é culpado. Ele impressionou com a seleção brasileira em 2012 e, logo depois, o Spartak investiu cerca de 8 milhões de euros com grandes esperanças nele. Ele foi realmente acima de todos os outros nos seus primeiros jogos pelo Spartak. Mas, em setembro, teve lesão grave num jogo contra o Rostov, que rompeu os ligamentos de seu joelho esquerdo, e o manteve muito tempo fora de jogo. Nunca mais voltou ao seu nível, infelizmente – disse o jornalista russo, acrescentando que o jogador atuava “box to box, mas ênfase em tarefas defensivas”.

Romulo operou duas vezes e ficou sem jogar do fim de 2012 ao segundo trimestre de 2014. A temporada em que mais entrou em campo foi a última. Fez 21 partidas no campeonato russo. Nesta última etapa no futebol russo, foram apenas oito jogos no campeonato russo (três como titular), um na Copa da Rússia e um na Liga da Europa, quando atuou apenas por 22 minutos, entrando no segundo tempo.

Jogador sereno, frio e disciplinado, Romulo concentrou-se em voltar em grande forma ao futebol brasileiro. O preparador físico e técnico Cleojones Cearense, que acabou “antecipando” o acerto do amigo com o Flamengo, afirma que o volante vai se apresentar em estágio bem avançado de preparo físico.

Foram 15 dias de treinos intensos em Picos, mas com um cronograma também para os dias de descanso de Romulo com a família nas curtas férias em Fortaleza. Entre trabalhos de prevenção, preparo físico, aeróbico e resistência, o jogador passava 1h30 por dia treinando.

– Para um jogador que está saindo de temporada e vai começar outra agora, ele está bem adiantado. Ele chegou muito bem de volta da Rússia. Fizemos trabalho de manutenção para não perder massa muscular, resistência. Mas a lesão está completamente curada. Temos feito prevenção de forma geral para ele, mas está totalmente recuperado – avisa o preparador físico.

*Com reportagem de Amanda Kestelman.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2017/01/analise-romulo-pos-cirurgias-inspira-pe-atras-mas-chega-para-ganhar-vaga.html

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