Arthur Muhlenberg: “Os cafajestes”

Presepadas aeroportuárias, No futebol tem muito safado, e eles estão distribuídos, nem sempre em proporções iguais, nos times, nos clubes, nas federações, na imprensa e nas torcidas. E nisso o mundo do futebol é igualzinho ao mundo da política, da medicina, da engenharia, da música ou da gastronomia. A safadeza é uma característica da condição humana, mas que, para nossa sorte, não é e nunca foi obrigatória.

Para quem não é safado e se conduz através desse mundo com honestidade intelectual e respeito à inteligência alheia a verdade dos fatos nunca é dolorosa, assustadora ou feia demais para ser exposta ou debatida. As coisas são o que são e bola pra frente. Se falar a verdade causar prejuízo à imagem, queda de audiência ou muxoxos da torcida, azar, segue o jogo.

Mas assim como a safadeza, a honestidade intelectual também não é obrigatória. E mal acabou o jogo, e em plena semana de Pentecostes, já tinha um pessoal falando do empate do Flamengo com o River no Monumental como se fosse um grande vexame do Flamengo, enquanto apontavam diversos candidatos a jesuscristinhos para imediata crucificação. Uma cafajestada.

Onde está o vexame? O Flamengo, que até agora só conseguiu ganhar do Emelec nessa Libertadores, em nenhum momento mostrou futebol para sair dessa fase como líder do seu grupo. É um time que está jogando a Liberta com técnico improvisado, elenco capenga, arbitragens antipáticas e jogadores importantes contundidos ou suspensos. Não pode reclamar da sorte por ter se classificado em 2º. Estar entre as 16 melhores, ou as menos piores, equipes do continente parece ser uma recompensa justa pelo o que o Flamengo realizou até aqui.

Que jogadores, dirigentes e comissão técnica declarassem que o Flamengo iria à Buenos Aires buscar a vitória e a liderança do grupo tudo bem, é uma estratégia motivacional obrigatória. Que alguns torcedores tomassem essas declarações como verdades absolutas tudo bem também, não se pode criminalizar a pureza de coração e a cegueira da paixão. Mas na verdade o que o bom senso e o pragmatismo recomendavam era que o Flamengo jogasse no Monumental fechadinho, à Bangu, fechando a casinha e torcendo por uma bola vadia. Que foi exatamente o que aconteceu. Volto a perguntar, onde está o vexame?

Claro que depois do jogo jogado podemos reclamar da falta de um mais de vontade ou coragem para se impor diante de um River que mostrou que não é essa coca-cola toda. Inclusive tivemos reais chances de gol perdidas por afobação, preciosismo e por pura ruindade. Mas eles também tiveram. Agora façam o calculo, que não é dos mais difíceis, do que poderia acontecer se o Flamengo adotasse a estratégia sugerida por alguns brabos, partisse pra cima, já que podia até perder, e tomasse um vareio dos argentinos?

Na torcida, que no caso estaria prenhe de razão, ia brotar a genuína revolta, e esse sentimento seria adubado pelos fluxo piroclástico dos comentaristas de resultado e arcoíristas inconfessos, além das presepadas aeroportuáriasde rigueur, tudo temperado pelos inevitáveis oportunismos políticos que são naturais e até esperados em anos eleitorais. Não é muito científico fazer levantamento de prejuízos de uma tragédia que não aconteceu, mas é óbvio que tal chuva de lava incandescente poderia afundar o moral desse time de forma definitiva. O que seria a mesma coisa que não ter se classificado para as oitavas, só que mais vergonhoso.

O empate foi ruim, mas perder seria ainda pior. Diego Alves, Rodinei e Everton Ribeiro deram vários moles. Paquetá e Dourado estão em má fase, mas foram muito piores do que se pode tolerar. Jean Lucas foi mediano, assim como o outro dimenor Vinicius Junior. Leo Duarte, Rhodolfo e Renê surpreenderam positivamente e junto com Cuellar foram os melhores em campo. Ao Barbieri reservo uma critica especial, porque mesmo vendo o jogo de longe conseguiu ser irrelevante, incapaz de passar um Whatsapp pro seu estagiário no banco mexer mais cedo no time.

Ao fim do jogo o estudioso neo-treinador coroou sua não atuação com uma cretiníssima declaração exaltando a invencibilidade. Lamentável. Primeiro que é desanimador ver um cara tão jovem usando de recursos de retórica típicos de treinadoresold schoolespecializados em tirar o seu da reta. Em segundo a vasca. E pra finalizar, não é qualquer invencibilidade que poder ser exaltada. A do Flamengo na Libertadores é equivalente a ir na zona, não comer ninguém e ficar feliz porque não gastou dinheiro com as prima. Mandou muito mal o Barbieri.

Não quero pedir cabeças, ainda não tive nem tempo de ter algo contra o Barbieri, mas até acabar a Copa do Mundo e voltar à Libertadores o Flamengo terá tempo mais do que suficiente para encontrar uma maneira de aproveitar o talento dos nossos talentosos, neutralizar a perebice dos nossos perebas e jogar melhor do que está jogando. Ou encontrar um treinador que seja capaz de fazer isso.

Fora isso, não teve vexame. A meta era se classificar pra oitavas e foi cumprida. Agora é sorteio, não dá mesmo pra escolher adversário, e ficar no pote dos 2ºs não é o fim do mundo. Ainda mais porque esse time já nos mostrou que é capaz de perder decisões jogando fora ou em casa com extrema naturalidade. Agora a direção, a comissão técnica e o elenco têm uma belíssima oportunidade de nos mostrar que também são capazes de aprender com seus próprios erros.

Mengão Sempre

Reprodução: Arthur Muhlenberg | Blog República Paz & Amor

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2018/05/arthur-muhlenberg-os-cafajestes/

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