Balancete do Flamengo confirma redução da dívida e situação de liquidez

Alguns dias atrás, antes da liberação do balancete do Flamengo referente ao segundo trimestre desse ano, comentei a queda nas dívidas do clube a partir de ações do Departamento Jurídico, juntamente com a direção executiva e financeira em alguns casos. Agora, com o balancete já publicado, a visão sobre a realidade econômico-financeira do clube fica mais clara e completa.

Como já era esperado, os resultados seguem sendo muito bons, podendo, mesmo, serem chamados de espetaculares.

Vamos aos números mais importantes, em especial para o torcedor:


Receita orçada para 2016: R$ 419,4 milhões

Receita já realizada:R$ 221,8 milhões


O valor da receita já auferida de janeiro a junho é bruto, sem deduções de impostos e direito de arena, e representa52,9%da receita estimada para todo o ano.

Novamente, repetindo o que já disse em outras oportunidades, isso ocorre num ano muito difícil para a economia do país, das empresas, dos próprios governos e, naturalmente dos clubes e, principalmente, das pessoas. Mais um ano não de recessão, mas de verdadeira depressão econômica.

Se ficarmos somente nesses números já será o suficiente para dizer que o clube vai bem, certo? Nem sempre, pois é comum vermos grandes receitas conviverem (até quando?) com realidades financeiras terríveis, a ponto de tornarem as receitas, mesmo robustas, incapazes de alterar a realidade.

A leitura de um balanço ou de um balancete fornece um mundo de informações preciosas. Tanto as que estão expostas como também, e isso é comum no futebol brasileiro, as que não estão claramente expostas ou simplesmente estão “escondidas”, graças a detalhamentos inexistentes – o que não é, já adianto, o caso do Flamengo e de alguns outros poucos clubes com balanços claros e bem detalhados.

Abordar todas as informações, porém, foge muito ao interesse do torcedor, especialmente num momento como esse, de meio de ano, sem números definitivos e sem as comparações com outros clubes. Falei, então, da receita, que é fundamental para se aferir como o clube está indo, e vou falar de outro ponto importantíssimo, às vezes muito mais que a receita: a dívida.

A dívida ficará mesmo menor que a receita

Como antecipado no post citado mais acima, a dívida do Flamengo já teve uma boa redução até esse momento e terminará o ano num patamar inédito na história do clube desde há muito tempo: ela ficaráabaixo do valor total das receitas.

Naturalmente, há um semestre quase inteiro ainda pela frente, mas tudo indica que o ano, em termos contábeis, terminará dentro das previsões e a dívida líquida do clube estará reduzida a um valor entreR$ 370 e R$ 380 milhões.

Dentro do clube, uma previsão mais conservadora trabalha com o fechamento da dívida total emR$ 385 milhões.

Pelo lado da receita bruta, a previsão orçada – R$ 419,4 milhões – pode ficar um pouco abaixo em função de queda na receita de marketing e ter um valor final por volta de R$ 410 milhões. Por outro lado, porém, essa queda pode ser compensada por um aumento das receitas estimadas para bilheteria e programa de sócio-torcedor. Naturalmente, esse crescimento dependerá do desempenho do time e do impacto das contratações recentes, principalmente Diego.

Em qualquer dos cenários previstos, porém, arelação dívida/receita estará entre 0,88:1 e 0,94:1.

É, portanto, muito provável que o Flamengo termine o ano “líquido”, ou seja, apresente receita superior ao seu endividamento. Um fato inédito desde há muito tempo.

E o futebol com isso?

Essa é a pergunta que já é feita há muito tempo por muitos torcedores: e o futebol com isso?

As contratações recentes do clube – Diego, Donatti, Leandro Damião – foram feitas estritamente dentro do limite das despesas projetadas para o futebol, mantido a 50% da disponibilidade orçada no início do exercício. A prioridade foi e continua sendo o pagamento das dívidas.

Um pequenoparêntesis… Este é um exemplo claro, entre outros, do que pode ser chamado de conservadorismo financeiro. Ele funciona no futebol, funciona na vida pessoal, funciona na vida das empresas e funciona na administração pública. Não se iludam com o vocábulo “conservadorismo”, tido e havido como coisa ruim, chata, ultrapassada… Triste engano. Hoje, na gestão da coisa pública ou coisa do povo –res publicaem latim – pode-se dizer sem medo, sem receio de equívoco, que nada é mais revolucionário e avançado que o conservadorismo financeiro.

Durante 2017, o Flamengo terá uma boa margem para investimento em novas contratações, de custo total igual e até maior do que o que foi investido nas contratações recentes.

Essa possibilidade será maior em meados do ano, coincidindo com a janela de verão da Europa. Isso permite a diluição dos custos da contratação feita em 2017 por 2018 e 2019, sempre dentro das previsões orçamentárias.

Sem estouro de caixa e sem a venda obrigatória de direitos federativos, inclusive de jovens valores.

Isso acontecendo, já poderemos usar outro nome para a situação como um todo:sustentabilidade.

Alguns leitores já estranharam o fato de este OCE dar tanto espaço e tanto comentar as finanças rubro-negras. Muitos até dizem que isso ocorre porque eu sou rubro-negro. Não, nem sou torcedor do Flamengo (como sabem os leitores que já leram meia dúzia de posts eu sou são-paulino) e nem mesmo penso que o Flamengo tenha muito espaço no OCE.

Na verdade, considerando o que eu acredito ser saudável para os clubes e para o futebol brasileiro, eu deveria falar ainda mais desse Flamengo, nessa gestão.

Porque é disso que nossos clubes precisam e, portanto, o nosso futebol: mais responsabilidade, mais respeito com as instituições, mais conservadorismo, mais conservadorismo financeiro.

Se queremos um brilhante futuro para o esporte e para as paixões que nos movem e alegram, precisamos que os clubes caminhem seriamente para a sustentabilidade.

Os torcedores fazem sua parte, e a sociedade, através do Congresso Nacional e do Poder Executivo, também fez a sua parte.

É hora de os clubes fazerem a parte que lhes compete.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/olhar-cronico-esportivo/post/balancete-do-flamengo-confirma-reducao-da-divida-e-situacao-de-liquidez.html

Share this content: