Carta Aberta a Jerome Meyinsse por Alexandre Póvoa

Caros amigos rubro-negros,

Depois de quatro anos em que a alegria predominou com dez conquistas de títulos, vivemos um dia triste para o basquete rubro-negro. Com todo respeito que os adversários nos merecem, o sentimento amargo de uma derrota não chega próximo ao nosso sentimento. É duro termos que informar que o Flamengo não contará mais na próxima temporada não somente com o atleta, mas um cidadão rubro-negro chamado Jerome Meyinsse. Uma pessoa que se tornou muito especial, um ídolo rubro-negro, não somente pela sua qualidade profissional, como também pelo excelente convívio com a Comissão Técnica, companheiros, profissionais e dirigentes de todos os níveis hierárquicos. Mais importante, pelo profundo respeito e carinho sempre dispensados por ele ao Manto Sagrado e à nossa torcida, com sua postura impecável dentro e fora da quadra.

Adotando a transparência que se tornou nossa regra na comunicação, eis o histórico:

Conversamos com o Jerome ao final da NBB8, ação que é de praxe com todos os atletas, antes de sua volta aos EUA. Enviamos a proposta de renovação ao seu agente há aproximadamente dez dias. Cabe enfatizar que é verdade que estávamos prevendo dificuldades na negociação, por conta da intensa valorização do dólar frente ao Real desde 2014, quando renovamos por dois anos o último contrato. A péssima situação econômica atual do país, que tem afugentado patrocinadores no basquete brasileiro, também não contribui em nada nesse momento da formação dos elencos para a próxima temporada.

Porém, com enorme surpresa, antes de qualquer avanço da discussão de proposta (estávamos insistindo em uma posição sobre nossa oferta), recebemos uma mensagem do atleta, que aqui reproduzimos em uma parte, em seu português admiravelmente quase perfeito.

É com grande dificuldade que venho informar a vocês que eu não vou retornar para o Flamengo na próxima temporada. Vocês me deram a oportunidade de fazer parte de uma organização campeã e de alto nível, de fazer parte da melhor torcida do mundo, e especialmente fazer parte de uma família de grandes pessoas, cuja amizade vou estimar para o resto da minha vida.

Embora isso me entristeça profundamente, eu sinto que a melhor escolha para mim neste momento da minha carreira é deixar o Flamengo. É de longe uma das decisões mais difíceis que já tive que fazer. Gostaria de dizer "muito obrigado"

Abraços,

Jerome Meyinsse

Jerome, apesar da melancolia que nos invade nesse momento, não é hora, de nem o Flamengo e nem ninguém questionar a decisão. Todos devem respeitar a opção de carreira, baseada em motivos pessoais e profissionais que fazem acreditar que o atual ciclo terminou no Flamengo, vislumbrando agora outros desafios. Sinceramente, não achamos que serão maiores, porque jogar no Flamengo é o auge para qualquer atleta, mas talvez diferentes. Em breve, saberemos qual o time que terá a sorte de contar com uma pessoa e um atleta tão diferenciado em seu grupo.

O Clube de Regatas do Flamengo agradece profundamente por todo o empenho em divulgar como ninguém o nome do clube. Você foi "Grandão" na acepção da palavra, desde o primeiro dia que pisou em solo brasileiro e se tornou carioca e flamenguista por opção. "Grandão" não somente como jogador, mas, sobretudo, em termos de caráter, que ajudou a personificar o perfil que transformou-se hoje em exigência número 1 para vestir a camiseta do "Orgulho da Nação".

Você virou uma referência para todos nós, um ídolo. Você entendeu e exercitou a química que torna o Flamengo muito forte, quase invencível, na sinergia entre atletas e torcida. Três anos lindos se passaram quando juntos, e nos braços pela Nação, conquistamos três campeonatos cariocas, três NBBs, uma Liga das Américas, um Campeonato Mundial, além de termos adquirido o respeito até da NBA. O nome Jerome Meyinsse entrou definitivamente para a nossa história, fazendo parte do grupo "Campeão de Tudo". Difícil agora será perder o seu bom humor diário, as gozações com seus pratos enormes e refeições quatro vezes repetidas, a sua propaganda eterna do açaí, suas brincadeiras inteligentes nas redes sociais, além de obviamente sentirmos a sua ausência como grande jogador dentro de quadra.

Você, Jerome, provou aos pseudo-profissionais do esporte no século XXI que, ser um grande atleta profissional, paradoxalmente, é comportar-se simplesmente como um "atleta amador", no melhor sentido da palavra, amando o seu esporte e as pessoas à sua volta, em uma entrega diária. É respeitar o clube e os torcedores em todos os momentos, até a sua última mensagem que muito nos emociona. Nesse mundo atual tão duro e frio, torna-se reconfortante constatar que ainda é possível cultivarmos relações como essas dentro do esporte, nunca devemos aceitar menos do que essa atitude como modelo para um atleta do Flamengo.

Aliás, nos permita somente recusar a ideia de que essa tenha sido uma derradeira mensagem final. As portas do Flamengo sempre estarão escancaradas para o cidadão de Baton Rouge, Lousiana, o mais carioca e rubro-negro norte-americano da face da Terra. Até muito breve! A palavra saudade, de difícil tradução para o inglês, já não cabe em nosso peito.

A vida do Flamengo continua, estamos ainda em fase de construção do nosso elenco para a temporada 2016/17, com a renovada missão de formar a mais forte equipe dentro do orçamento existente, em tempos difíceis no Brasil. A saída de Meyinsse repete o caminho de alguns grandes atletas em passado recente, fato natural de um clube que se tornou "vítima" do nosso próprio sucesso, com os nossos jogadores mais vencedores sendo assediados por equipes de várias partes do mundo. No entanto, a historia nos mostra que culturas vencedoras devem ser cultivadas diariamente para continuar a dar frutos e não são facilmente replicáveis em outros locais.

Vamos manter nossa a filosofia vencedora e ambiciosa (mas sem nenhuma chance de exceder o limite da responsabilidade financeira), enfatizando que a instituição Flamengo estará sempre cima de todos nós. Todos passarão (atletas, comissão técnica e dirigentes), mas o Flamengo ficará, no caso do basquete, com a responsabilidade de sempre honrarmos a alcunha "Orgulho da Nação".

Obrigado, Meyinsse!

Saudações rubro-negras,
Alexandre Póvoa
Vice-Presidente de Esportes Olímpicos

Fonte: Por e-mail

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