“Che”, Chico e Chile: Mario Salas é o líder temperamental da Católica

Mario Salas já falava há quase 20 minutos na coletiva de imprensa até ser lembrado da última derrota do Flamengo – em outubro para o Internacional (1×2), pelo Brasileiro. O técnico da Católica – que passou por times menores no Chile e comandou a seleção chilena sub-20 antes da Católica – sabia que a invencibilidade era longa, mas não se recordava a quantidade de jogos exata e nem quando havia sido o resultado..

– Está querendo me colocar medo? – disse, aos risos, o treinador de 50 anos.

Temperamental e vitorioso, Salas foi expulso de campo sete vezes nos últimos dois anos – mais do que qualquer jogador de sua equipe. No período, foi bicampeão nacional no Chile com a Católica, em ascensão fulminante no cenário do país. Há três anos comandava um time da terceira divisão e agora está na Católica, que enfrenta o Flamengo nesta noite de quarta-feira, às 21h45, atrás da primeira vitória na Libertadores.

Antes de falar com o GloboEsporte.com, ainda na coletiva de imprensa, provocou os jornalistas chilenos e perguntou quem era o artilheiro da segunda divisão do Chile. Como ninguém sabia, brincou: “são esses os que entendem de futebol no Chile”.

Confira a entrevista com “El comandante”, chamado assim pelo uso de frases motivacionais de Che Guevara no dia a dia com seus atletas.

Li numa entrevista você dizer que “mais do que ganhar a partida, o que te importa é como você ganha o jogo”. É possível pôr em prática está filosofia numa carreira tão instável?

Acho que pode haver uma entrega paralela, algo equilibrado nesse sentido da frase. Me interessa muito o fato de poder mostrar uma forma de jogo e uma proposta de futebol. Que pode ser diferente entre os técnicos. Mas me interessa que haja uma forma de jogar estabelecida e uma proposta de jogo clara, ofensiva. Eu trabalho para ganhar, tenho isso muito claro. E sei que minha estabilidade de trabalho depende dos resultados. Mas não sou uma pessoa que diz: ”os fins justificam os meios”. Para mim, o fato de jogar bem e jogar como eu gosto que jogue a equipe me faz muito mais feliz, satisfeito, do que apenas a vitória.

Você jogou rúgbi e sempre cita alguns conceitos do jogo ao falar de futebol. O que é possível trazer para o dia a dia?

No rúgbi se fala muito do trabalho em equipe. São conceitos muito importantes e tratamos de passar aos atletas. É uma questão também de se ir adiante dentro do espaço do campo. No rúgbi é muito importante ganhar metros de campo, avançar. No futebol, a perspectiva é de se atacar o gol. Estar mais perto do gol adversário te coloca mais longe do seu gol. E então significa estar mais perto da vitória. Esse tipo de conceito é do rúgbi, de jogar bem, estar junto ao recuperar a bola, saber que há um companheiro a seu lado que joga por ti. São conceitos que eu gosto muito.

O sucesso de Jorge Sampaoli influenciou o futebol do Chile?

Eu acho que a influência atual no Chile vai além de Sampaoli. Acho que a real influência foi Bielsa. Eu, pessoalmente, gosto muito do que ele faz, mas não me sinto influenciado por Sampaoli. Sempre gostei do jogo ofensivo. Mas não vejo o futebol como uma parte somente, só pelo tema ofensivo. Entendo ofensivo, defensivo, as transições, forma física, um monte de coisas. Não vejo separado. Gosto de ganhar de 4 a 0, fazer gols e não levar. Esse é o ideal. Agora, se tiver que ganhar 5 a 4 também gosto. Não vejo separado, gosto de futebol ofensivo e também de defender bem.

Você usa frases e ideias de Che Guevara com jogadores. Como eles recebem as mensagens? No Brasil muitas vezes se há resistência em “misturar” política, história e futebol.

Os jogadores no Brasil e aqui no Chile são muito parecidos. Eu quando falo de frases de Guevara, falo em geral e trato de não relacionar ao tema político. São só motivações com frases pontuais que significam conceitos de futebol também.

Qual frase você usa, por exemplo?

Tinha uma que usava no início da minha carreira que era ”Hasta la vitória siempre”. É uma frase de Che Guevara que significa que trabalhamos e lutamos sempre pelas vitórias. Se vinculava desta forma (de associação ao personagem), mas não havia nada político. Mas, sim, ele é uma personalidade que admiro.

Vai usar alguma em especial para esta partida? Você gosta de Gabriel García Marques, Vargas Llosa.

Gosto de escritores latino americanos, mas não gosto de ter uma carga muito emocional nos dias dos jogos. Prefiro deixar mais informação de futebol e de confiança aos jogadores.

Algum autor brasileiro te inspira?

Não leio muitos brasileiros, creio que pela barreira do idioma. Mas gosto muito da música brasileira. Bossa nova, Chico Buarque… Caetano Veloso escuto também. Mas gostava mais de Chico Buarque. Ele ainda canta? Sou fã de Chico Buarque.

UNIVERSIDAD CATÓLICA X FLAMENGO
Data: quarta-feira, às 21h45 (de Brasília)
Local: San Carlos Apoquindo, Santiago
Flamengo: Muralha, Pará, Réver, Rafael Vaz e Trauco; Romulo, Willian Arão e Diego; Berrío (Gabriel); Everton e Guerrero
Universidad Católica: Toselli Espinoza, Kuscevic, Lanaro, Parot, Fuentes, Kalinski Fuenzalida, Buonanotte, Noir e Santiago Silva
Árbitro: Diego Haro (PER) auxiliado por Coty Herrera (PER) e Jorge Luis Yupanqui (PER)

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2017/03/che-chico-e-chile-mario-salas-e-o-lider-temperamental-da-catolica.html

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