Coisa de maluco? PV encara desafio na Turquia por sonho de volta ao Fla

De reserva de Alex Muralha a titular na Turquia. Em menos de três semanas, Paulo Victor – para os turcos, apenas Victor – trocou o Flamengo pelo Gaziantepspor, ganhou a posição de principal goleiro do clube mesmo com apenas um treino e começou a escrever um novo capítulo na carreira. Contudo, as lembranças do roteiro com a camisa do Rubro-negro ainda são fortes, assim como a certeza de que ainda existem páginas em branco para serem preenchidas.

Após derrota por 4 a 0 na estreia, a primeira vitória veio no segundo jogo, com direito a escolha de melhor em campo. Revelado na Gávea, Paulo Victor passou por bons e maus momentos no Flamengo, assim como destaca em conversa pelo telefone com a reportagem do GloboEsporte.com. Aos 30 anos, e quase 13 de Rio de Janeiro – nasceu em Assis-SP -, viu no futebol turco a oportunidade de retomar a motivação e viver novas experiências. A surpresa para muitos, porém, foi a situação do novo clube, atual lanterna da liga nacional.

– As pessoas julgam muito as escolhas porque não vivem os nossos sonhos. Muitos vão achar que é coisa de maluco, sair do Flamengo, bem estruturado, recebendo em dia, onde vivi praticamente 13 anos, uma história linda, e vir para um time que está na última colocação. Aceitei por vários motivos, o crescimento, a realização profissional. Goleiro joga em alto nível até 36, 37 anos, me vejo ainda jovem. Quando a oportunidade apareceu era difícil a escolha, clube na lanterna, só que não sabem o outro lado, o esforço que fizeram para que eu chegasse aqui. Todo desejo que coloquei no contrato eles aceitaram para que tudo fosse tranquilo.

Flamenguista assumido, o goleiro revela que fica de olho nas notícias e acompanha o clube do coração mesmo longe. Antes de acertar o empréstimo com duração de 18 meses ao Gaziantepspor, Paulo Victor estendeu o vínculo com o Flamengo até julho de 2019, motivo que ainda o faz sonhar com um retorno vitorioso.

– A alegria não foi de ter saído do Flamengo, mas sim a porta que Deus abriu para mim. Quando acabar meu contrato aqui ainda volto e fico mais um ano, minha história no Flamengo ainda não terminou.

Confira a entrevista de Paulo Victor:

Ainda não tem nem um mês de Turquia, como está a adaptação nesse início?

Muito feliz pela oportunidade. Não feliz pela saída do Flamengo, mas pela porta que Deus abriu. A gente sabe como é difícil entrar no mercado, ainda mais para uma primeira divisão aqui na Turquia. Agora a chance apareceu e, com 30 anos, vi que era o momento. Sempre tem o lado financeiro, mas eu buscava mais do que isso. É uma realização profissional, crescimento como ser humano, uma outra cultura.

Chegou a ter que explicar o motivo de trocar o Flamengo por um clube que briga contra o rebaixamento na Turquia?

As pessoas julgam muito as escolhas porque não vivem os nossos sonhos. Muitos vão achar que é coisa de maluco, sair do Flamengo, bem estruturado, recebendo em dia, onde vivi praticamente 13 anos, uma história linda, e vir para um time que está na última colocação. Aceitei por vários motivos, o crescimento, a realização profissional. Goleiro joga em alto nível até 36, 37 anos, me vejo ainda jovem. Quando a oportunidade apareceu era difícil a escolha, clube na lanterna, só que não sabem o outro lado, o esforço que fizeram para que eu chegasse aqui. Todo desejo que coloquei no contrato eles aceitaram para que tudo fosse tranquilo.

É sua primeira experiência no exterior. Assustou com a goleada de 4 a 0 sofrida logo no primeiro jogo?

Existem dificuldades, muitos não sabem que treinei só uma vez e fui para o primeiro jogo. Sairia na segunda de São Paulo, o voo foi cancelado, tive que ficar. Eles me mandaram para Milão, depois Istambul, para daí chegar até Gaziantep. Fiquei três dias viajando. Por todo esse esforço eu quis contribuir da melhor forma, por mais que soubesse das dificuldades do jogo, só eu e Wallace de estrangeiros. Encarei mesmo por tudo que fizeram por mim, para que fosse inscrito para jogar. Joguei cansado, a gente sabia que o Trabzonspor era complicado, é um dos maiores da Turquia, fizeram grande investimento, não seria fácil jogar lá.

Logo depois já veio a primeira vitória. Qual sua real expectativa para a temporada?

A gente sabe que disputa uma liga com jogadores consagrados mundialmente, muito forte. Até na minha estreia, nunca tinha jogado na neve, o jogo foi abaixo de zero e nevando (risos). São essas experiências que fazem você um profissional melhor, um ser humano melhor. O lado financeiro é excelente, mas não me alimento só dele. Meu sonho era buscar isso. Muitas pessoas dependem de mim, mas é essa realização como profissional que vai me manter ativo até os 37 anos. O nível aqui e alto, país que pode contratar bastante estrangeiro, vai ser muito equilibrado. Sentindo um pouco pelo frio, normal pra quem viveu 13 anos no calor do Rio de Janeiro.

Como está se virando início, sozinho ou com a família?

No começo vim sozinho, minha esposa vem no mês que vem para visitar, mas se muda de vez no meio do ano, nas férias de verão por aqui, até porque daqui um mês e meio estou em casa, de férias. Ainda tem isso, tudo que abri mão. Era muito cômodo jogar na maior equipe do Brasil, receber em dia, tudo tranquilo. Agora deixar a filha de um ano e três meses e a esposa no Rio é pela vontade de crescer em todos os aspectos, passar por coisas que passei no passado, lá no meu início de carreira. Ter que me virar de novo, língua que não sei.

Você deve se lembrar dos momentos como titular no Flamengo. Na reta final estava na reserva do Alex. Como é ter novamente uma sequência?

Atleta vive de motivação, eu vim porque eles quiseram que eu estivesse aqui, aceitaram todas minhas exigências. É bom viver aquilo que vivia no Flamengo, entrar no estádio e ter o nome gritado pela torcida. Feliz por sentir isso de novo. A diferença é que aqui é só Victor (risos). Estou pensando jogo a jogo, dia a dia, para que possa fazer o melhor.

No Gaziantepspor você vai reeditar a parceria com Wallace, jogaram juntos no Flamengo…

A gente pode dizer que nossa parceria foi de sucesso. Conquistamos dois títulos no Flamengo juntos. Futebol é isso, a gente passa por altos e baixos, toda atleta passa, falo que o que ainda não passou, um dia vai passar. O saldo dele no Flamengo foi positivo, dois títulos em três anos. Claro, algumas pessoas vão gostar, outras não, mas nós vamos procurar fazer o máximo pelo nosso clube.

Enquanto goleiro do Flamengo, chegou a se abater com as críticas em alguns momentos?

Jamais. O ser humano tem que entender que tudo tem uma hora. A gente alimenta tudo que a gente, e o que eu fiz pelo Flamengo vai estar marcado para sempre. Nos momentos difíceis, como em 2014 quando comecei a ser titular, a gente era vice-lanterna, com grandes chances de cair, mas conseguimos a virada, ainda conquistei títulos. Tenho que pegar essas boas lembranças, tanto que renovei com o Flamengo antes de vir para cá. A crítica é normal, todos passarão por isso. Tive maturidade durante esse tempo todo no Flamengo, porque é difícil ser quarto, terceiro goleiro, esperar a sua vez chegar, alcançar aquilo. É o que sempre falo.

Você fala do Flamengo com carinho. Segue acompanhando tudo daí?

Claro, sempre aqui ligado para acompanhar todos os detalhes. Ainda estou no grupo da rapaziada aqui, não dá para abandonar. Deixei muitos amigos, não vou nem falar nome, porque realmente é 100% do grupo, tenho um carinho grande. Aproveitar para fazer um agradecimento à diretoria, por entender meu lado. É difícil liberar um jogador no início do ano com todas as competições que o Flamengo tinha. Todos foram importantes, partindo do (Rodrigo) Caetano, Fred (Luz), o presidente. Fiz questão de ligar um por um, porque sabia que podia ter alguma dificuldade, mas entenderam meu desejo. Por isso eu digo, a alegria não foi de ter saído do Flamengo, mas sim a porta que Deus abriu para mim. Quando acabar meu contrato aqui ainda volto e fico mais um ano, minha história no Flamengo ainda não terminou.

O Flamengo estendeu seu vínculo antes da sua saída. Pensa nesse retorno ainda mais experiente?

Com certeza, penso muito nisso. Oportunidade para sair do Flamengo tiveram várias, mas fiquei em momentos difíceis. Eram propostas até melhores, mas decidi permanecer. É algo que não preciso ficar falando, vocês sabem. É o momento, por mais que as pessoas falem, “mas está indo para um clube que está na última colocação”, temos que respeitar o momento de Deus, as coisas não acontecem sempre como a gente quer. E eu sou Flamengo, não tem como. As críticas vão existir, mas as lembranças na minha cabeça são boas.

Fez parte do grupo do Zé Ricardo, então pode falar: o que o Fla pode conquistar esse ano?

O Flamengo tem que ser parabenizado por todos, pelos atletas, pelas pessoas de fora, pela imprensa, por tudo que está construindo. Dá para ver como as pessoas dentro do Flamengo lutam para isso. Estive aí durante 13 anos, posso falar com autoridade, vi a evolução do Flamengo como jogador, a prova é o Brasileiro, que ficamos entre os melhores do país. Quando monta um elenco com jogadores campeões, renovados, a busca é sempre por títulos. Estarei aqui torcendo pelos meus companheiros. Quem sabe a gente não leva essa Libertadores? Eu saí do Flamengo, mas o Flamengo não sai de mim nunca.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2017/02/coisa-de-maluco-pv-encara-desafio-na-turquia-por-sonho-de-volta-ao-fla.html

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