Coluna do Torcedor: ”EM DEFESA DOS CONTESTADOS”

Como montar uma boa equipe de futebol? Ao olhar o elenco de grandes times do futebol europeu, ficamos maravilhados ao ver formações de meio-campo com alto nível técnico ou um trio de ataque poderoso, bem como defesas que se parecem como verdadeiras muralhas! E no entanto, ao olhar para os principais times do Brasil, a decepção por parte de muitos torcedores é enorme, pois além de muitos não contarem com atletas à nivel de seleção, muitas vezes são obrigados a assistirem o futebol de jogadores considerados “ruins” sob o seu ponto de vista…

No Brasil, os clubes nacionais NÃO possuem o mesmo poder financeiro dos principais times europeus (apesar de rivalizarem com muitos times considerados médios), tornando a montagem de um bom elenco um processo bastante complexo em geral. E a solução encontrada pela direção técnica é mesclar jogadores de diversas categorias, para tornar a equipe competitiva dentro do cenário nacional. Eis, uma breve descrição geral de cada categoria:

1. Alto nível: são jogadores “classe A”, ídolos, titulares absolutos e
frequentemente convocados para as seleções de seus países, capazes de realizar grandes proezas, como decidirem o resultado de uma partida, cadenciar o jogo e comandarem as ações ofensivas (e defensivas) da equipe. Em geral, são muito valorizados, bastante assediados pela mídia e torcida. Naturalmente, recebem muitas propostas financeiras e seus ganhos são considerados astronômicos, em vista do alto rendimento que oferecem aos clubes.

2. Bom nível: são jogadores “classe B”, que embora não sejam
frequentemente convocados (dependendo do país), em geral são os principais titulares dos seus times e queridos pelos torcedores (à salvo algumas exceções). Em geral, a sua performance reflete diretamente no desempenho da equipe, o que pode gerar elogios e contestações por parte da torcida, dependendo dos resultados. Frequentemente, eles recebem boas propostas financeiras, seja tanto para jogar como titular, quanto para compor o elenco (de acordo com o clube). No entanto, os seus ganhos não tão consideráveis, variando de jogador para jogador.

3. Médio nível: são jogadores “classe C”, com raras convocações e que podem (ou não) ser titulares das suas equipes. Alternam bons e maus momentos, embora sejam mais lembrados pelos torcedores em vista dos resultados ruins. Nem sempre são habilidosos e por isso, dividem a opinião da torcida, as quais podem ser tanto “à favor” quanto “contra” o atleta. Em geral são jogadores considerados de bom custo x benefício e as propostas financeiras aparecem mais em vista da necessidade de outros clubes em compor o elenco e até mesmo ocupar posições carentes
do time.

Em geral, um bom time possui em média de 2 a 3 jogadores de alto nível, sendo as demais posições mescladas com jogadores bons e medianos. No Flamengo, temos os jogadores Juan, Diego e Guerrero considerados como “nível A”, ao passo que os jogadores Muralha, Réver, Donatti, Jorge, Cuellar, Willian Arão, Mancuello, Éderson e Leandro Damião considerados como “nível B”. Por fim, temos os jogadores Paulo Vitor, Pará, Rodinei, Márcio Araújo, Alan Patrick, Adryan, Marcelo Cirino, Gabriel, Éverton e Fernandinho compondo a classe dos jogadores “classe C”. Sei que muitos não vão concordar com as classificações aqui feitas, mas espero que tenham compreendido tais conceitos.

Seria ideal contar somente com jogadores à partir do bom nível? Sim! No entanto, nenhum clube dentro da realidade financeira deste país conseguiria manter em dia, a folha salarial deste elenco! Prova disso é a existência de diversas administrações que sofreram com o desmanche de super-elencos, especialmente quando estes conquistam títulos importantes. Em geral, pela dificuldade de manter o orçamento em dia, pela valorização dos atletas (que exigem receber mais nas renovações de contratos) e pelo assédio de clubes do exterior. Nem é preciso comentar as “gerações vencedoras” que coexistiram ao mesmo tempo em que os clubes acumulavam dívidas e mais dívidas…

Além da questão financeira, também temos uma série de outros problemas que tornam as contratações caras difíceis: os riscos assumidos. Entre eles, estão as exigências de atletas e empresários, o jogador “não dar certo” no clube, os problemas comportamentais, o relacionamento com o técnico e demais companheiros (especialmente quando brigam pela titularidade), e por aí vai. Então, quais são as estratégias adotada para compensar as dificuldades e limitações para a montagem de um bom elenco de futebol, em vista das dificuldades para a contratação de bons
jogadores?

Em geral, as principais estratégias adotadas são:

1. Aproveitamento da categoria de base.
2. As apostas (jogadores oriundos de clubes pequenos).
3. A contratação e manutenção de jogadores medianos.

Apesar dos seus diferenciais, o aproveitamento da categoria de base e as apostas possuem uma particularidade em comum, que os diferenciam bastante dos jogadores medianos: a incerteza! Infelizmente, apenas um número bastante reduzido oferecem um desempenho satisfatório no elenco, embora também ofereçam a possibilidade de trazer grandes revelações. Podemos ter um ano em um ou mais bons jogadores se destaquem no cenário nacional, ao mesmo tempo em que se passem vários anos sem uma grande
revelação. Ou seja: são opções inconsistentes e volúveis, tornando os acertos uma verdadeira loteria, o que certamente não se encaixam com as premissas de um bom planejamento.

Eis então, que nos sobra a 3ª. opção, a qual é o foco principal deste artigo! Mesmo não sendo do agrado do torcedor, a contratação (e manutenção) de jogadores medianos se tornou uma regra fundamental e de grande peso para a construção de bons elencos no Brasil, pois apesarem de não oferecerem um grande retorno, os seus resultados são mais previsíveis e consistentes que as demais opções, garantindo assim uma maior probabilidade de execução do planejamento proposto. E por incrível que pareça, é a opção que à meu ver, pode trazer uma excelente relação custo x benefício, se bem estudada e implantada!

Jogadores medianos em geral conseguem executar as suas funções dentro de campo, garantindo um desempenho razoável e satisfatório. E diferente das demais classes de jogadores, eles não são egocêntricos, aceitam a reserva sem maiores discussões e se integram melhor com os demais companheiros de equipe, pois dificilmente são protagonistas de “rachas” no elenco. Não raro, buscam compensar/superar as suas limitações e deficiências com a força de vontade e obediência tática, as quais se tornam vitais para o entrosamento e conjunto da equipe. Por fim, os seus vencimentos mais em conta permitem a direção do clube manter em dia a folha salarial do elenco.

Tão importante quanto contratar, também será renovar com os jogadores disponíveis no elenco. ESTE É O PRINCIPAL MOTIVO PELO QUAL RARAMENTE CRITICO JOGADORES CONTESTADOS! Apesar de limitados, eles podem ser perfeitamente encaixados dentro de um bom planejamento, sendo bastante úteis no contexto de determinadas partidas. Jogadores como Vaz, Pará, Márcio Araújo, Gabriel, Éverton, Fernandinho e até mesmo Marcelo Cirino, devem ser analisados CRITERIOSAMENTE antes de terem o seu futuro definido, pois além de poderem ajudar o time, a recomposição destas peças não será feita assim tão facilmente, tal como imaginam. SOMENTE descartaria a renovação destes jogadores se houvessem negociações já concretizadas de substitutos ou se os seus salários forem incompatíveis com a realidade do clube.

Queiram ou não, PRECISAMOS destes jogadores!

Ednei de Melo


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Fonte: http://colunadoflamengo.com/2016/11/coluna-do-torcedor-em-defesa-dos-contestados/

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