Coluna do Torcedor: “Estádio próprio ou Maracanã?”

Ontem, o Governo do Estado finalmente se manifestou a respeito do encaminhamento do imbróglio envolvendo o futuro do Estádio do Mario Filho, ao habilitar os dois pretendentes a aquisição da concessão pertencente a Odebrecht. Esse processo percorreu um longo caminho, não vale a pena relembrar os episódios dessa novela, com escândalos de corrupção, traições, promessas não cumpridas, bandidos e poucos mocinhos, mas estamos muito próximos do seu capítulo final.

Temos hoje três opções no cardápio:

  • assumir junto com nossas parceiras a gestão do Maracanã (GLE, CSM e Amsterdam Arenas);
  • construção de um estádio próprio, pra chamar de seu, e por último;
  • o futuro incerto.

Eu convido meus colegas de paixão a uma reflexão a respeito do tema muito controverso e cheio de particularidades a serem analisadas.

Nas redes sociais rubro-negras sempre há partidários de abandonarmos nosso querido e cheio de histórias Maraca e, partirmos de peito aberto para nossa casa própria, alguns até sugeriram o nome de batismo, Estádio Arthur Antunes de Coimbra, já pra outros, Presidente Eduardo Bandeira de Melo.

No estudo de Economia há um termo muito utilizado, denominado trade off, no qual um ser humano possui duas ou mais opções ou caminhos a escolher, a depender de suas prioridades, cultura, conhecimento e perspectivas, escolhe uma ou outra. O Flamengo encontra-se atualmente nessa encruzilhada, no meu ponto de vista gostaria de elencar alguns aspectos que devem ser considerados na tomada de decisão:

1. Dinheiro

Maracanã: Não tenho ciência do pré-acordo firmado entre o Flamengo seus parceiros, mas creio que não contam com investimentos ou aportes significativos do Flamengo. Os recursos virão das parceiras que terão retorno através das receitas dos jogos dos outros times e diversas outras relacionadas ao estádio (visitação, Maracanãzinho, publicidade, comércio, shows e outros). Caberá ao Flamengo ser o responsável integral (despesas e receitas) pela gestão dos seus jogos como mandante. Novamente, a depender da forma associativa a ser firmada com o Flamengo, o mesmo terá obrigatoriedade de jogar “N” partidas no estádio por ano e a depender do desempenho do time, isso pode causar prejuízo dos cofres do clube, já que trata-se de um estádio grande e com elevado custo de operação e manutenção. Imagino que o Fla não vá participar dos ganhos e perdas de outros eventos no estádio, apenas dos jogos próprios que realizar no local, portanto eventual ociosidade ou prejuízos decorrentes a administração, operação e manutenção, não deverão impactar no Flamengo, apenas na Concessionária.

Estádio próprio: não existe a possibilidade do Flamengo ir a frente neste projeto sem ter de perder patrimônio (Morro da Viúva e outros) assim como, a real necessidade de desviar recursos que poderiam ser aplicados no time, na estrutura (clube e CT) na construção do estádio, sem falar na possibilidade de endividamento, através de empréstimo junto a Bancos ou ao patrocinador do estádio (construtora ou equivalente). O valor do prédio abandonado do Morro da Viúva não é suficiente para aquisição do terreno e construção de um estádio para 50 mil torcedores. Nas redes sociais há muitos torcedores citando o caso da WTorre e o Palmeiras, como exemplo a ser seguido, creio que seja muito pouco provável que ocorra novamente, já que ficou comprovado ter sido um mal negócio para a construtora, pelas noticias divulgadas na imprensa, sentiu-se prejudicada no acordo firmado com o clube. Portanto não será barato a construção de um estádio.

Exemplos mal sucedidos do Corinthians e Grêmio devem servir de parâmetro para não cometermos loucuras.

2. Localização

Maracanã: por ter sido construído na década de 50 e ser uma referência na cidade do Rio de Janeiro, possui uma larga infraestrutura de acesso, seja via metrô, ônibus, trem, carro e até mesmo a pé pra quem mora próximo. Localização privilegiada, perto da Zona Norte e Centro, não muito distante da Zona Sul (Rebouças ou metrô), de fácil acesso da Baixada (trens), pela Ponte (Niterói e outras cidades do outro lado da poça), assim como, para quem vem de longe (rodoviária e aeroportos). Seu principal defeito é não possuir estacionamento, se fosse concessionário, proporia uma permuta o Governo, destruiria a piscina e Estádio de Atletismo para construção de estacionamentos e, construiria algo da mesma magnitude e características em outro local onde pudesse ser efetivamente utilizado na formação de atletas dessas modalidades esportivas.

Estádio próprio: o clube possui uma longa e triste história de embates com a vizinhança onde pretende construir algo, exceção talvez do CT, exatamente por ser distante e pouco habitado. Quando almejamos construir uma estádio/shopping na Gávea a Associação de Moradores do Leblon, os arco íris e prefeitura impediram de realizarmos nosso sonho. A construção da Arena McFla, apesar de aparentemente resolvida a peleja, foi uma luta árdua, com questionamento e denúncias até contra corte de árvores. Recentemente estamos vendo pipocar na mídia queixas de moradores da Ilha, insuflados por papagaios de pirata querendo aparecer, contra a construção de uma arena de apenas 20 mil lugares, sendo que até dezembro passado existia no mesmo lugar, outra arena bem mais feia e com capacidade próxima (15 mil), sem contudo terem se manifestado a respeito.

A facilidade de acesso é algo muito importante na hora de decidir onde construir um estádio. As opções que foram divulgadas recentemente, estão localizadas na zona Oeste da cidade, local remoto para grande parte dos fiéis frequentadores do Maracanã, neste caso, para lotar o estádio teríamos que atrair uma nova torcida formada pelos moradores da região ou melhorar significativamente o acesso, de modo a convencer os moradores distantes a se deslocar até lá, esta segunda possibilidade não é rápida, barata e nem depende do Flamengo.

3. Tempo

Maracanã: apesar de abandonado, os ajustes necessários para coloca-lo novamente em operação, não demandarão recursos absurdos e são de rápida execução, em um mês o estádio estaria pronto para funcionar.

Estádio próprio: esta opção indiscutivelmente demandaria uma tempo significativo para sair do papel e se tornar realidade, entre etapas a serem cumpridas destacam-se:

  • escolha e aquisição do terreno;
  • orçamentos e obtenção de recursos, seja pelo Flamengo ou seus parceiros nessa empreitada, ninguém possui R$ 600 milhões guardados debaixo do colchão;
  • contratação e execução de projetos estudos diversos (arquitetônicos, básico, detalhamento, análise do solo, etc);
  • licenciamentos, trata-se de uma capítulo a parte, principalmente por envolver diversos órgãos municipais e estaduais: CET, bombeiros, associação de moradores, INEA, IPHAN, Secretarias diversas vinculadas a Prefeitura e muitos outros terão que analisar o projeto, exigir mudanças, compensações e aprovar;
  • contratação e execução das obras;
  • Novos licenciamentos e inauguração.

A principal consequência do longo período de construção seria: onde jogaremos nesse tempo? No Maracanã sob administração da concessionária contrária aos nosso interesses? Faremos como ano passado, ser um clube itinerante, jogando em diversos estados e estádios, fazendo com que o time não treine, canse e comprometa o desempenho? Indubitavelmente essa opção significará perda de títulos e receitas.

4. Consequências

Seja com o Maracanã ou no estádio próprio, as receitas do Flamengo aumentarão de forma significativa, através:

  • renda dos jogos;
  • aumento de sócios torcedores;
  • publicidade nos jogos e estádio;
  • comércio de bebidas, comidas, camisas e itens licenciados do Flamengo;
  • patrocínio e Naming Rights, quem não gostaria de vincular sua marca a um time estruturado;
  • camarotes, TV e outras receitas oriundas por temos uma casa.

Caso o consórcio fechado com o Mengão seja o escolhido pela Odebrecht, todas as receitas acima entrarão no curtíssimo prazo no caixa do Flamengo, com exceção do name right. Mais receitas significa mais investimentos no time, na estrutura e principalmente se traduz em títulos e crescimento contínuo rumo ao infinito.

Por último, apesar de indesejada por todos nós, precisamos analisar a hipótese do consórcio encabeçado pela Lagardère vencer este embate, para administrar o Maraca. Sinceramente não creio que o Fla abandonará o Maraca, isso seria extremamente penoso aos cofres do clube, sua torcida carioca e principalmente ao desempenho do time. Nossa diretoria vai espernear, gritar, se debater, mas vai acabar assinando com os malditos, como fez recentemente com a Globo para transmissão dos jogos do Carioca, contrato curto, poucos jogos por ano, vislumbrando paulatinamente construir seu estádio próprio, como alternativa natural e duradoura para um clube como o Flamengo.

SRN

João Henrique Rocha


Quer ver sua coluna publicada aqui também? Envie para o e-mail [email protected], com o assunto “Coluna do Torcedor“. O texto será avaliado e, se aprovado, publicado no site.

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2017/02/coluna-do-torcedor-estadio-proprio-ou-maracana/

Share this content: