Coluna do Torcedor: “Novos tempos, a gestão do futebol moderno”

É impressionante a quantidade que postagens que vejo aqui neste portal, sobre as reclamações de torcedores quanto a escalação de certos jogadores contestados. E mais perplexo ainda fiquei ao ler as críticas postadas sobre a renovação destes mesmos jogadores! Mas, ao invés de limitar a “defender” os jogadores, bem como a posição do técnico e da comissão técnica em relação à escalação e renovação dos contestados, resolvi partir de um ponto de vista diferente e abrir uma saudável discussão sobre os novos tempos de gestão do futebol moderno…

Para 90% dos torcedores, a escalação do time titular deveria ser feita com os melhores jogadores disponíveis no elenco, ao passo que o sistema tático a ser adotado deveria aproveitar da melhor forma possível, os pontos fortes destes jogadores. Idem para as substituições. E quando isto não acontece, chovem críticas para o técnico! Mas o que muitos não sabem é que, apesar de apresentar bons resultados no início, este método de trabalho defendido ardorosamente pelos torcedores, se mostrou insustentável à médio e longo prazo, em vista dos principais fatores:

1. A acomodação dos titulares e a falta de interesse dos reservas, em vista dos primeiros serem tratados como absolutos na posição e não se sentirem “ameaçados”, ao passo que os últimos estão cientes de que não se tornarão titulares, por mais que treinem;

2. A dificuldade de promover as substituições, pois os reservas não só teriam dificuldades de entrosamento, como também de adaptação em vista do fato de que o esquema tático foi planejado exclusivamente para a performance dos jogadores titulares;

3. A dependência de jogadores titulares e de alto nível, pois o desfalque de jogadores “insubstituíveis” afeta seriamente a performance geral do time.

Com o passar do tempo, o time apresenta queda de desempenho e o resultado, era óbvio: a troca de treinador. E todo o processo se

reiniciava novamente: o novo treinador selecionava os melhores jogadores (sob o seu ponto de vista) para ser o titular do seu time e a seguir criava um esquema tático “para eles jogarem”. De início, os titulares mostravam serviço para assegurarem a sua vaga, o que dava ao time uma melhora de desempenho inicial. Mas depois de garantida a vaga, os jogadores titulares já não apresentavam o mesmo desempenho e o time lentamente caía de performance novamente até culminar com a demissão do treinador. E o ciclo se repetia…

Na gestão do futebol moderno, os estudiosos e especialistas passaram impor novas concepções de trabalho, as quais promoveram profundas mudanças em vista da necessidade de desenvolver um trabalho mais consistente à médio e longo prazo, de forma a colher resultados mais duradouros. E estes três pilares – a definição do esquema tático, a montagem de elenco e a escalação do time – passaram a receber uma atenção diferenciada, entre tantas outras inovações.

O esquema tático passou a ser visto não só como uma forma de jogar, mas também como uma filosofia de trabalho a ser incorporada com a cultura do clube. O planejamento do “jeito de jogar” não se limita mais a adequá-lo aos jogadores titulares do elenco, mas justamente o contrário: a montagem do elenco e a escalação do time titular é que devem ser definidos de acordo com as necessidades do esquema tático! E uma das práticas de gestão mais recentes nos clubes é o “esquema tático único”, praticado deste as categorias de base, com o objetivo de formar jogadores que possam encaixar no time profissional, sem maiores dificuldades.

A montagem do elenco também sofreu profundas mudanças, em vista do planejamento em prol das necessidades do esquema tático. Não se contrata mais jogadores pelo valor do seu potencial e suas habilidades, mas sim se estes atributos se encaixam nas exigências do esquema tático (e consequentemente, do elenco)! O mesmo vale para o processo de renovação, onde muitas vezes uma peça de composição de elenco passa a ser tanto ou mais importante do que a contratação de uma nova revelação, ainda que seja um jogador reserva.

Por fim, as regras para a escalação do time titular são condicionadas a selecionar os jogadores que se encaixam melhor no esquema tático. Apesar da qualidade do jogador influenciar bastante em sua escalação, ela já não é mais o fator determinante, sendo perfeitamente possível que um jogador mediano se tornar um titular, ao passo que um bom jogador se torne o seu reserva imediato, em vista deste útimo não ter os atributos desejados para o esquema tático naquela posição.

E o que isto tem à ver com o Flamengo? Bem, não é preciso lembrar que no final de 2015, a direção do clube já se movimentava para modernizar a gestão do futebol. Além de acelerarem a infraestrutura do centro de treinamento e a implantação do Centro de Performance em Excelência, a contratação do técnico Muricy Ramalho se tornou o símbolo desta nova era por vir. Infelizmente, ele não se saiu bem, mas os seus trabalhos deixaram alguns frutos que foram aproveitado de forma inteligente pelo técnico interino: Zé Ricardo.

Bem, preciso continuar? Acredito que não. Deixo para vocês em aberto, o bom e velho debate! Pois à esta altura do campeonato (desculpem o trocadilho), certamente já entenderam o meu ponto de vista…

Ednei P. de Melo

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2017/03/coluna-torcedor-novos-tempos-gestao-futebol-moderno/

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