Entre mocinhos e vilões. A necessidade da torcida de achar um culpado

Que o Diego não é mais aquele jogador que saiu daqui do Santos, que fez ótima temporada no Wolfsburg e no Atlético de Madri e nem aquele jogador de 2016 é um fato. Mas essa sandice de ficar batendo na mesma tecla e encontrando um jogador para ser o Cristo do Flamengo é cansativa. Olá, coleguinhas de Coluna do Flamengo, hoje vamos falar daquele 10 contestado que alguns amam odiar e outros odeiam amar. Chega mais!

Já reparou como no Flamengo sempre deve ter um vilão dentro do próprio time para direcionar as frustrações da equipe? Foi assim que Ibson saiu da glória da arrancada de 2007 para viver inferno astral em 2008. Fábio Luciano foi cobrado duramente pela torcida. André Santos foi de um dos heróis do título da copa do Brasil à alvo de violência em aeroporto. Até Júnior virou bailarino em faixa de protestos e sobrou para o pai do Zinho. Everton Ribeiro até outro dia era cogitado em trocas com vários clubes…

Diego é aquele jogador com quem o Flamengo flerta há pelo menos 10 anos. Sempre recusou o clube, assim sendo alguns torcedores já tinham alguma antipatia do atleta. Acontece que em 2016 o relacionamento caminhou e chegou a um desfecho favorável ao clube. O maior AeroFla foi armado para o jogador. Juras de amor eterno foram declamadas e a camisa rubro-negra nunca esteve tão bem vestida quanto agora. Sabe aquelas camisas que à primeira vista dizem que é horrível, mas que ficam ótimas num bom modelo?

Mas Diego é mais que um modelo no Flamengo versão 16-18. Ainda que a queda de desempenho seja flagrante, algumas coisas não podem ser ignoradas ao levar o meia em consideração. Em 2016 Diego fez 6 gols e 3 assistências em 18 partidas. Em 18 só 3 gols e 2 assistências na mesma quantidade de jogos. Não há como não ver como uma queda. Por outro lado, ao contrário do que se convencionou dizer, o meia fica menos com a bola do que no ano em que chegou, troca menos passes e erra menos do que da sua chegada e os passes chave ainda fazem parte de seu repertório frequente. Parece estranho visto que eu mesmo costume dizer que Diego não tem passe de ruptura, mas o jogador está sempre “carimbando” a bola, como no gol de Vinícius contra o Vasco. Seria desonestidade dizer que Diego não participa dos gols, seja com cruzamentos, seja abrindo para o companheiro que vai dar a assistência.

Uma coisa boa de se dar conta em relação do momento em que chegou e este, é o elenco do clube. Parece contraditório dizer que melhores jogadores contribuem para o desempenho discreto do jogador, mas também é evidente que jogar com Everton e Gabriel obrigava o jogador a aparecer muito mais do que hoje ao ter Vinícius, Paquetá e Everton Ribeiro como co-protagonistas nesse elenco. Diego precisa se reinventar e mudar a forma como se acostumou a jogar aqui. Por este motivo que hoje se tem a noção mais clara de que segura mais a bola.

Contudo, nunca fora sua característica quebrar defesas com passes. O jogador parece mais ligado a posicionamento e fluxo de jogo. Sabe onde a bola irá e se posiciona para estar próximo dela, além de se movimentar para criar espaços. Cabe aos jogadores que o orbitam aproveitar desta habilidade. Já é possível ver como o lado direito cresceu e como Everton Ribeiro corta para o meio para um buraco onde existia um jogador adversário. Este foi para a esquerda com Diego.

Uma última coisa que me chama atenção é a resiliência do jogador em relação ao clube. Já passou por diversas situações em que outros jogadores teriam, e já foram, embora, mas suportou firme e sempre trata a torcida com imenso carinho. Claro que se pode dizer que é mídia training, ainda assim demonstra um respeito que muitas vezes que não é recíproco e vivemos reclamando do mídia training dele, né. Não se pode dizer que se esconda. Suas entrevistas não agradam? Mas está sempre pronto a ser o saco de pancadas quando tudo vai mal. “Dá a cara a tapa”! Enquanto na derrota ou num mal resultado a torcida o procura para descontar suas frustrações, não procuram Paquetá, que jogou pior do que ele, ou Vinícius que alterna boas e más exibições.

E é bom que seja assim. Aos 33 anos Diego tem bagagem para passar esta fase e ainda ser o escudo do nosso futuro. Então pense bem antes de fazer uma crítica pesada ao jogador. Será que não estamos apenas descontando no jogador devido a um comportamento de massa? Dê uma olhada nos sites de estatísticas. Ele foi mesmo tão mal assim ou você é que já está pré-disposto a execrá-lo?

Anderson Alves, O otimista.

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Fonte: http://colunadoflamengo.com/2018/05/entre-mocinhos-e-viloes-a-necessidade-da-torcida-de-achar-um-culpado/

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