Ex-Fla comemora boa fase no Japão e deixa recado a Diego: “Só ter vontade”

Ao acertar a ida para o Yokohama Marinos, do Japão, em março, Kayke se despediu com uma frase: “Saio do Flamengo, mas o Flamengo não sai de mim”. Menos de cinco meses depois, o atacante vive boa fase do outro lado do mundo, mas o coração realmente continua no Rio de Janeiro. O artilheiro da equipe no segundo turno do Campeonato Japonês se divide entre os compromissos diários e os noticiários a respeito do Rubro-negro carioca. Ultimamente, mais motivos para sorrir do que se preocupar, principalmente pela contratação de Diego.

Em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com, Kayke, como de costume, não escondeu o lado torcedor do Flamengo e se mostrou confiante num futuro de conquistas. Ao mais badalado reforço da janela, ídolo do atacante criado nas categorias de base do clube, deixou um recado: aliar vontade à qualidade técnica para ganhar o torcedor também dentro de campo.

– Ele é um ídolo. O Diego é um cara experiente, que tem rodagens
internacionais por grandes clubes. Revelação do Santos, que também é uma grande
equipe brasileira. Seleção brasileira, por onde passou sempre foi bem. Eu sou
um admirador do futebol dele, fiquei muito feliz quando vi que o Flamengo
estava contratando, porque sei que vai chegar para fazer a diferença. É uma
cara que o currículo já fala por si só. Transparece muita verdade, aquilo que
colocar dentro de campo vai agradar à torcida do Flamengo. Todos sabem o que o
Flamengo significa. É só ele ter vontade, mostrar que quer vencer sempre, que a
torcida vai reconhecer isso. Sem contar a qualidade técnica, para jogar tem que
ser diferente, e o Diego tem todas as características e tudo para dar certo
com a camisa do Mengão.

Quando o atacante deixou o Ninho do Urubu, o Flamengo passava por um momento complicado no setor ofensivo, principalmente no ataque. Guerrero não conseguia boa sequência e perdia jogos por causa da seleção do Peru. Hoje, além do peruano ter voltado a marcar, o garoto Felipe Vizeu ganhou a confiança da torcida com quatro gols no Brasileirão, e Leandro Damião outro reforço anunciado pela diretoria. A história, segundo Kayke, poderia ser diferente caso tivesse permanecido no clube.

– Acho que se eu estivesse aí eles não teriam contratado dessa forma (risos). Estava fazendo um bom trabalho, não à toa recebi algumas propostas para sair. Tive essa compra efetivada pelo Marinos. Mas se estivesse aí as coisas caminhariam de uma forma diferente, estaria para ajudar, como os que foram contratados. Segui outro caminho, espero um dia voltar, mas fico na torcida de longe. Espero que os reforços que chegaram deem conta do recado, porque a responsabilidade de jogar no Flamengo sempre é grande.

Os primeiros passos no futebol japonês não foram fáceis. A distância da família nos primeiros dois meses dificultaram ainda mais a adaptação. No primeiro turno, 12 jogos e apenas um gol. A equipe demorou a engrenar, precisou de tempo para mostrar resultado e conseguiu a partir da segunda fase. Kayke deslanchou, marcou três gols e deu uma assistência em cinco jogos, aparecendo como peça fundamental do Yokohama Marinos, hoje terceiro colocado da liga nacional. O objetivo é manter a boa fase e levantar a primeira taça ao fim da temporada.

– Quando cheguei a expectativa era começar muito bem, e acabou que não aconteceu isso no geral, como time. Terminamos na 11ª posição no primeiro turno, não foi tão bom, mas no segundo encaixou. Não mudamos nenhuma peça, não chegou nenhum jogador novo e as coisas começaram a acontecer de uma maneira diferente para o time e para mim também. Consegui fazer alguns gols nas últimas rodadas, fui eleito três vezes como melhor em campo nos últimos cinco jogos. Estou muito feliz com o momento, não são nem seis meses ainda, estamos na metade do ano, quero fazer de tudo para terminar bem a temporada da forma que estou agora e com o título da liga.

Confira outros trechos da entrevista:

GLOBOESPORTE.COM: Qual a maior dificuldade durante a adaptação no Japão, dentro de fora de campo?

KAYKE: Fora de campo a única
dificuldade que tive foi ficar longe da minha família nos dois primeiros meses.
Meu filho tinha acabado de nascer quando eu estava no Flamengo, minha esposa,
por isso, não pôde vir com ele de início, fiquei aqui sozinho. Foi bem pesado. Para falar a verdade, a adaptação com
ambiente, pessoas, comida e até idioma é tranquila. Tenho facilidade para me
adaptar, joguei fora em outras oportunidades, passei praticamente cinco anos na
Europa, não é novidade estar fora do Brasil. Mas o futebol japonês é muito
diferente, rápido, as linhas não dão espaço para jogar. Não tem muito tempo
para pensar nas jogadas. A gente costuma dizer que os jogadores aqui não
desistem até a bola bater na rede (risos), o japonês dá a vida em todas as
jogadas. Querem te atrapalhar de qualquer jeito quando estão sem a bola. No
Brasil, quando o jogador está sem a bola dá uma relaxada, guarda energia para
usar quando tiver a bola. Aqui é ao contrário, ele corre de qualquer jeito para
marcar, defender, e muita das vezes atrapalha. No início é difícil, tem que
pegar o ritmo do jogo, pensar mais rápido, mas sem deixar que as características
fujam. Eu tive sorte de me adaptar rápido, também de me entrosar com os
companheiros e fazer boas atuações. Espero levar até o fim da temporada para
que a gente consiga, no mínimo, a classificação para a Champions da Ásia.

Como é o contato com o torcedor japonês?

– Eles não estão acostumados com aquela coisa nossa. O torcedor
brasileiro ele é mais caloroso, mais ativo na maneira de abordar. O japonês tem
até medo de chegar perto, quando as pessoas te veem na rua, cumprimentam, pedem
por favor dez vezes para tirar uma foto, abaixam a cabeça, reverência natural,
costume deles. São muito educados, é muito diferente, porque estamos
acostumados com outra coisa. Mas é legal, acho bacana, são pessoas diferentes,
de culturas diferentes. A torcida, pelo menos aqui no Marinos, é muito boa. O
time enche estádio praticamente em todos os jogos, não jogamos com menos de 25,
30 mil pessoas na liga, nosso estádio é um dos principais do Japão, muito
grande. Jogos fora também, por ser time grande, leva torcida. Ainda não joguei
com estádio vazio no Japão, torcida canta do jeito dela, diferente, mas estamos
ali dentro e não escutamos muito. A gente acha bacana o estádio cheio e o
torcedor presente.

Em algum aspecto chega perto da do Flamengo?

– Difícil, né (risos)? Não dá para comparar. Falando de Flamengo, como todos nós estamos acostumados com a Nação Rubro-negra, não tem como comparar, porque é surreal. Só quem vive sabe. Muitas pessoas podem escutar, ouvir falar, mas não vão saber do que se trata sem estar presenciando e curtindo aquilo que é único. O que a torcida do Flamengo faz, como se doa pelo time, é impressionante. O japonês é diferente, é muito difícil chegar a esse nível.

Como torcedor rubro-negro, o que achou dos reforços apresentados para a temporada?

– Fiquei muito feliz. Um time como o Flamengo tem que ter jogadores
qualificados da forma que está tendo. O Flamengo chegou num nível alto, que só
falta um título do Brasileiro nesse ano para concretizar, porque vem fazendo um
trabalho incrível, dentro de fora de campo. A diretoria nesses últimos anos
está colocando o Flamengo nos trilhos, todos sabem do esforço para quitar as
dívidas passadas, toda a questão financeira que sempre foi uma dificuldade.
Hoje é tudo ao contrário, o Flamengo é uma das maiores potências do Brasil, vai
concluir o centro de treinamento que ficou anos parado, numa obra que parecia
que nunca teria fim. Os torcedores e pessoas que trabalham no Flamengo sabem
que é questão de tempo para tudo ficar no nível que o clube merece. Como
torcedor, fico feliz e espero que tudo que vem sendo feito dê frutos, que são
os títulos. Jamais deixarei de acompanhar, porque como diz o hino, uma
vez Flamengo, não tem jeito, Flamengo até morrer.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2016/07/ex-fla-comemora-boa-fase-no-japao-e-deixa-recado-diego-so-ter-vontade.html

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