Flamengo bate América-MG no adeus em grande estilo de Júlio César

Há muitos problemas táticos e técnicos neste Flamengo que entrou em crise
ainda no primeiro trimestre. Mas talvez o mais frustrante para o torcedor seja
não ver, refletido em campo, o espírito rubro-negro que, em épocas de vacas
magras, ajudou times limitados a escaparem do rebaixamento e elencos medianos a
erguerem troféus. Neste domingo, um dos remanescentes dessa identidade deu adeus aos
gramados. Mas, antes de pendurar as luvas, Júlio César fez valer o peso da
camisa 12, que homenageia a torcida e fora desaposentada para sua última
passagem pela Gávea. O goleiro levou para o campo a energia dos mais de 52 mil
torcedores presentes no Maracanã e comandou o time na vitória sobre o América-MG
(2 a 0), pelo Campeonato Brasileiro. No fim, a volta olímpica individual,
terminada de joelhos diante dos rubro-negros, foi o simbolismo perfeito para
encerrar uma carreira marcada por raça, amor e paixão.

O goleiro estava mesmo em uma sintonia diferente. Antes de a bola rolar,
emocionou-se ao discursar para a torcida e colocar-se em pé de igualdade com os
que estavam na arquibancada. Dentro de campo, sacudiu Arão depois de uma defesa
e, quando Cuéllar
hesitava em buscar a bola, gritou para que o colombiano se aproximasse e saísse
pelo chão. Sob as traves, fez uma meia dúzia de intervenções importantes e,
agora, poderá se orgulhar de ter se aposentado como o melhor em campo.

PROBLEMAS APARENTES

Em uma noite de indiscutível protagonismo do goleiro, também houve holofotes
sobre Henrique Dourado. Depois de atuações fracas, o atacante foi decisivo ao
marcar os dois gols do jogo. Primeiro, aproveitou um cruzamento preciso de
Vinícius Júnior para abrir o placar, aos 28 minutos. Sete minutos depois, o
próprio Ceifador sofreu e converteu um pênalti marcado após hesitação.

Quando a emoção pela despedida do ídolo der lugar à pressão por resultados, o
técnico Maurício Barbieri
precisará arregaçar as mangas em busca de soluções. Tudo bem que Diego e Éverton
Ribeiro, as duas principais mentes criativas, não estavam em campo e que o
trabalho, em tese, acaba de ser iniciado. Mas seu time apresentou um repertório
limitadíssimo diante da equipe mineira, que construiu chances mais claras de gol
durante a partida e fez o que pôde para estragar a festa de Júlio César. E a
reconstrução terá que ser feita sob pressão, como deixaram evidentes as vaias
direcionadas ao comandante no momento da troca de Vinícius Júnior por Jonas.

MAIS LÁGRIMAS

O sufoco deu lugar ao alívio após o apito final, quando um sorridente Júlio
César foi ovacionado pela torcida e recebeu muitos abraços dos companheiros de
elenco — os mais jovens pareciam especialmente entusiasmados. As lágrimas, que
jorraram durante a semana, estiveram sob controle até Juan, que também se aproxima da aposentadoria,
relembrar da antiga parceria.

— É difícil, começamos juntos, vivemos o mesmo sonho. Ele merece tudo isso. É
uma pessoa sensacional, um goleiro fora de série — desabafou, com dificuldade, o
camisa 4.

Júlio, surpreso com as lágrimas do zagueiro, enfim, mostrou-se
vulnerável:

— Chorei bastante durante a semana, com a família e amigos. Realmente, foi um
turbilhão de emoções. Eu já tinha me preparado bem para essa despedida… O
Juan é meu irmão no futebol, um cara muito
introvertido, sorri pouco, é a primeira vez que vejo ele emocionado. Eu sou um
cara que coleciono momentos. Pode ter certeza que este está marcado para o resto
da minha vida.

E na de milhões de rubro-negros também.

Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/flamengo-bate-america-mg-no-adeus-em-grande-estilo-de-julio-cesar-22617687

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