A queda relativamente precoce nos pênaltis para o Racing, nas oitavas de final da Libertadores, traz prejuízos esportivos, políticos e financeiros ao Flamengo. Em um 2020 complicado pela pandemia, ficar sem os R$ 7,8 milhões que receberia da Conmebol por estar nas quartas de final é apenas um dos ingredientes que farão falta nas contas rubro-negras quando o balanço for fechado.

Não só pela ausência do principal troféu, o contraste com 2019 é inevitável. Projeção feita pelo GLOBO indica que o Flamengo irá arrecadar em torno de 30% menos nas principais fontes de receitas do futebol. Considerando o que o clube já embolsou nos três trimestres do ano e quanto já não ganharia por causa da Covid-19, é possível estimar uma diferença de R$ 269 milhões.

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O Flamengo não está em crise financeira, mas a diretoria sabe que precisa ficar atenta e medir os passos para não reviver os apertos do passado. De qualquer forma, fica cada vez mais difícil fechar 2020 com superávit. Números apresentados até 30 de setembro apontavam um déficit de R$ 19 milhões.

Projeção econômica do Flamengo Foto: Editoria de arte
xsituacao-financeira-fla-online_2.jpg.pagespeed.ic.D9LcCvxZ-- Flamengo deve ter queda de 30% nas receitas no ano e planeja compensação em 2021
Projeção financeira do Flamengo Foto: Editoria de Arte

A frustração no Flamengo é resultado do confronto entre expectativa (esportiva e financeira) e a realidade. A versão original do orçamento colocou como meta chegar às semifinais da Libertadores. Assim, a defasagem chega aos R$ 18 milhões, já que ficar entre os quatro melhores do continente traria mais R$ 10,4 milhões em cota de participação.

Os tropeços em campo são potenciais obstáculos para outras receitas, como o sócio-torcedor. Com a pandemia, o Fla já vivia uma desaceleração na arrecadação, mas o clube enxerga que a campanha recente do plano “Nação” ao menos estancou a sangria. Bilheteria é um outro problema causado pelo coronavírus. Com estádios vazios, houve um congelamento da arrecadação ainda em março: R$ 21,8 milhões. Cenário bem diferente de 2019, quando o Maracanã lotado trouxe R$ 109 milhões. Para 2021, há dois cenários considerados. O otimista dá conta da volta do público em abril, mas há outro que considera um semestre inteiro sem torcida.

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Enquanto tenta remendar os erros no futebol em 2020, a diretoria rubro-negra planeja 2021. A primeira versão do orçamento leva em conta pagamentos de direitos de TV e de premiação do Brasileirão 2020 que a pandemia adiou até fevereiro. A estimativa é que, por causa disso, cerca de R$ 90 milhões engrossem os números da próxima temporada.

Necessidade de vendas

Na quarta-feira, dirigentes do clube debateram os rumos orçamentários, já considerando a queda na Libertadores. Há algumas premissas estabelecidas por quem direciona o setor financeiro, como a necessidade de vender jogadores. A ideia é arrecadar entre R$ 150 milhões e R$ 160 milhões com transferências. Cabe ao departamento de futebol definir os nomes envolvidos.

As vendas de jogadores têm representado boas notícias em termos econômicos para o Flamengo nos últimos anos. Em 2020, a ida de Reinier para o Real Madrid bateu a meta de arrecadação, que era de R$ 80 milhões. Até setembro, o clube tinha lançado R$ 221 milhões nessa rubrica.

Por outro lado, o dinheiro para exercer o direito de compra do atacante Pedro junto à Fiorentina já está separado. O Fla pretende desembolsar 14 milhões de euros (R$ 88 milhões, parcelados) para ficar com ele em definitivo. O empréstimo expira em 31/12.

Ainda em dezembro, a diretoria precisa tomar outra decisão em relação ao elenco: o que fazer com o goleiro Diego Alves. O vice de futebol, Marcos Braz, perde poder à medida em que as frustrações com o time crescem com os resultados. Há relatos de um afastamento e de pouco diálogo entre as partes, diferentemente do que havia até a saída de Jorge Jesus. As críticas se direcionam ainda ao presidente Rodolfo Landim, que vetou o acordo do futebol sobre a renovação de Diego Alves e aumentou o descontentamento entre as lideranças do elenco.

O vice de relações externas, Luiz Eduardo Baptista, membro do conselho do futebol, ganhou o reforço do vice de finanças, Rodrigo Tostes, que passou a influenciar algumas decisões da pasta, em função do ano atípio e das perdas de receitas durante a pandemia.