Flamengo elimina o Fluminense e avança na Sul-Americana

Se o calor da emoção não permite tais reflexões, a frieza da razão poderá mostrar aos torcedores de Flamengo e Fluminense que o clássico de ontem, pelas quartas de final da Sul-Americana, teve os ingredientes de um jogo histórico. Do clima beligerante no início às reviravoltas no placar, passando pelas sucessões de candidatos a herói e vilão, o empate em 3 a 3 soou como vitória ao Flamengo, classificado para a semifinal da Sul-Americana.

Na falta dos recorrentes conflitos de torcidas, que deram uma trégua na noite de ontem, os jogadores trataram eles mesmos de dar o mau exemplo. Quem desse uma rápida olhada nas estatísticas do início de primeiro tempo poderia pensar que a partida era tranquila: nos 20 minutos iniciais, somente seis faltas foram marcadas, três de cada lado. Por baixo dos números, no entanto, saltava aos olhos um jogo de ânimos exaltados.

Dos quatro cartões amarelos mostrados pelo árbitro Patricio Lostau antes do intervalo, só um veio efetivamente de uma falta, cometida pelo tricolor Douglas no rubro-negro Diego. Douglas, antes disso, havia protagonizado o primeiro momento de anti-futebol, dando um pisão injustificável no próprio Diego, caído. Everton, irritado com um pisão de Sornoza que não recebera repreensão do árbitro, levou amarelo ao chutar Richard sem bola. Willian Arão e Lucas foram advertidos pouco depois, após um empurra-empurra. As câmeras de TV mostraram o volante rubro-negro chamando o tricolor para “resolver do lado de fora”.

No meio disso tudo, por incrível que pareça, houve dois gols. Na primeira investida do Fluminense, aos três minutos, Marcos Jr. achou Lucas sozinho na área, aproveitando erro crasso de posicionamento de Trauco para abrir o placar. A festa só durou seis minutos, porque Diego, em bela cobrança de falta, fez 1 a 1.

O empate dava a classificação ao Flamengo, que cometeu pecado semelhante ao jogo de ida: tendo placar favorável em mãos, deixou a bola — e toda a vontade de criar — com o Fluminense. Ontem, tendo quase uma partida inteira pela frente, o time de Abel Braga parecia afobado para marcar o único gol que precisava, abusando de ligações diretas buscando um isolado Henrique Dourado.

Sorte do Fluminense — e azar do Flamengo — é que havia Renato Chaves. Na final do Carioca, a situação apresentou-se invertida: foi o zagueiro tricolor, com uma falha clamorosa no primeiro jogo, quem permitiu gol de Everton e abriu caminho para o título rubro-negro. Ontem, apesar de inseguro pelo chão, Renato Chaves conseguiu resolver pelo alto. E não foi por falta de aviso: aos 31, em cobrança de escanteio de Gustavo Scarpa, o zagueiro subiu na primeira trave e obrigou Diego Alves a defender no susto. Dez minutos depois, em córner batido por Sornoza, Renato Chaves novamente voou mais do que a zaga rubro-negra. Desta vez, achou o fundo da rede.

Com 2 a 1 no placar, o Fluminense eliminava o Flamengo graças ao insólito critério do gol fora de casa — embora os dois jogos fossem disputados no Maracanã. Renato Chaves, porém, parecia querer deixar claro que desejava ser o protagonista da noite. Aos nove do segundo tempo, Scarpa levantou a bola na área, o zagueiro desviou e Diego Alves apenas olhou a bola bater no travessão, na linha e no fundo da rede.

O Flamengo, que havia vencido todos os sete Fla-Flus do ano até então, viu-se diante de uma situação inédita: perdia justamente o clássico mais importante da temporada, já que era essencial para suas pretensões de título internacional. E pior: dois gols atrás no placar, diferença que nenhum dos rivais impusera sobre o outro neste ano. Era o que precisava para o time de Reinaldo Rueda, enfim, parar de abdicar do jogo.

Rueda não esperou muito para sacar o vaiado Trauco e colocar Vinícius Jr. Foi a joia de 17 anos quem tocou para Everton Ribeiro, que descolou belo passe para Felipe Vizeu entrar na área cara a cara com Diego Cavalieri. Aos 22 do segundo tempo, com quase meia hora de jogo pela frente, o Flamengo voltava a precisar de apenas um gol para se classificar.

Sem grande surpresa, o time rubro-negro passou a ocupar cada vez mais o campo do Fluminense, que limitava-se a um jogo reativo. Ao lançar Romarinho, no lugar do machucado Marcos Jr., Abel tentou manter uma válvula de escape para um contragolpe fatal. A verdade, no entanto, é que o time tricolor ficava cada vez mais acuado e, à exceção de um chute desviado de Gustavo Scarpa, oferecia cada vez menos perigo ao Flamengo. E um jogo que foi aberto durante a maior parte dos 90 minutos ficou, perto do fim, com desfecho cada vez mais previsível — que se materializou quando Willian Arão, de cabeça, botou o Flamengo na semifinal da Sul-Americana.

Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/flamengo-elimina-fluminense-avanca-na-sul-americana-22022996

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