Flamengo leva a sério piada de jornal

Uma piada sobre o goleiro Alex Muralha, publicada na primeira página do jornal “Extra”, sacudiu as estruturas do Flamengo durante todo o dia de ontem. O texto acabou se tornando o principal assunto de um clube que, em seis dias, começará a decidir a Copa do Brasil contra o Cruzeiro, provocou um pronunciamento do presidente Eduardo Bandeira de Mello e gerou uma onda de manifestações de apoio ao camisa 38, numa dimensão que Muralha, diga-se, há muito não via.

Bem-humorado, um “comunicado” alertava o leitor do “Extra” de que, “em nome da precisão jornalística”, não seria encontrada “a palavra Muralha relacionada ao senhor Alex Roberto Santana Rafael”— a brincadeira já se repetia há tempos em redes sociais e mesas-redondas, sempre em erros de Muralha:

“Provável titular do Flamengo na final da Copa do Brasil, Alex Roberto, o ex-Muralha, mais uma vez desmoralizou o vulgo, levando um frango contra o Paraná pela Primeira Liga, além de ter errado 100% dos lados nas cobranças de pênaltis, completando 545 dias sem defender uma penalidade.” O texto ainda prometia retomar a alcunha “caso Alex Roberto volte a fazer por merecer”.

Foi a senha para o ai-jesus. Já pela manhã, o “Extra” era informado de que o clube não atenderia nem as suas solicitações, nem as do GLOBO — ambos publicados pela Infoglobo — enquanto não houvesse retratação do diário popular. Nesse ínterim, nas redes sociais e nos debates esportivos da TV, muitas críticas e manifestações de repúdio, entremeadas por gargalhadas. Não tardou para que o Flamengo marcasse um pronunciamento de Bandeira, ao meio-dia.

— Queria expressar minha tristeza e minha revolta, que não é só minha, mas de todos nós aqui do Flamengo: atletas, funcionários e torcedores que se manifestaram até agora comigo. Com relação ao desrespeito do qual a instituição foi vítima e um ser humano, nosso atleta, foi vítima com essa matéria do “Extra”. Eu já venho me manifestando há algum tempo, mas nada chega perto do que aconteceu hoje. Estamos falando de um ser humano que tem filho, pai e mãe, como todos nós aqui, e que foi vítima dessa covardia — disse o presidente, que depois revelou que o goleiro treinou sem ler o texto: só teve conhecimento da matéria pelo clube.

A percepção de que mera retirada do apelido seria uma agressão sem precedentes se reforçou com a nota oficial do próprio Muralha: “(…) Eu só posso me sentir indignado. Uma coisa são as críticas que recebemos, e não sou contra, nos fazem crescer. Falhas fazem parte. Estamos todos sujeitos a isso e buscamos corrigi-las. Mas outra coisa é mexer com o ser humano. Isso está longe de ser uma brincadeira. A palavra é humilhação, é execração pública”, disse o goleiro, que afirmou ter se sentido “fichado” como um bandido, diante do tratamento que recebeu.

No fim, um efeito positivo: Muralha saiu de contestado e com escalação posta em dúvida pelo técnico Reinaldo Rueda para a sensação de que será titular com maciço apoio no dia 7, no Maracanã. Ele concluiu na nota:

“Pelo menos, estou me sentindo abraçado, e aproveito para agradecer ao apoio da diretoria, da comissão técnica e de todos os meus companheiros, que ficaram tão revoltados quanto eu. E de vários torcedores nas redes sociais, que entendem a situação e percebem que somos sujeito a falhas”.

Por fim, na edição de hoje, o jornal “Extra” lamenta o episódio, se desculpa com o goleiro, mas reitera sua promessa inicial: a de chamá-lo até de “Muralha da China” caso ele volte a atuar bem.

Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/flamengo-leva-serio-piada-de-jornal-21777521

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