Flamengo se úne a fundação que leva nome de Garrincha para investir em talentos na Vila Cruzeiro

Sobrou a bola para fazer o trabalho que tanques de guerra e fuzis não conseguiram na Vila Cruzeiro. Com o retrocesso no processo de pacificação e a falência financeira no Rio, um projeto esportivo que atendia a centenas de crianças na comunidade perdeu o apoio do Estado, mas agora ganhou o reforço da Fundação Mané Garrincha, que fará uma parceria com o Flamengo em um trabalho de responsabilidade social inédito no clube onde “Mané” jogou no fim da carreira.

A diretoria rubro-negra já aprovou a contratação de uma empresa para desenvolver um plano diretor e propor um orçamento para a área. O apoio institucional imediato será promover aulas mensais de futebol com ex-jogadores no mesmo campo de areia onde Adriano deu os primeiros chutes a gol.

Nos últimos dias, o vice-presidente do Flamengo, Maurício Gomes de Mattos esteve no local com o ex-jogador Julio César Urigueller e o neto de Garrincha, Luiz Marques, que lidera a Fundação. A ideia é usar a estrutura do Atitude Social, projeto que oferece esportes e outras atividades aos jovens há anos, mas que quase fechou as portas por falta de repasse do Governo do Estado.

O local se tornaria um polo de onde meninos poderiam sair para testes no Ninho do Urubu. Oswaldo Fonseca, coordenador da área de responsabilidade social, confirma que o Flamengo tem interesse em apoiar o núcleo, mas ressalta que a ideia é embrionária.

— Ainda não tem um valor dedicado à responsabilidade social. Com o plano diretor preparado vamos verificar como sustentar, as parcerias. Queremos um projeto para ter empregabilidade se os atletas não conseguirem ficar no mercado. E aproveitar nossos ex-atletas — explicou o profissional do clube.

O vice-presidente confirmou que o Flamengo está “namorando” com o projeto e já convenceu outros dirigentes a colocar a ideia adiante no clube esse ano.

— O sonho é ter uma parte do orçamento para cobrir esse investimento. E botando nosso ex-atletas recebendo por esses projetos. A porta está aberta. Estamos namorando — declarou Mattos.

Bota ainda não sinalizou apoio a neto de ídolo, que não escolhe clube

Luiz Marques, neto de Garrincha, chegou a jogar no Vasco, no Fluminense e no Olaria, onde seu avô encerrou a carreira. Aos 31 anos, o herdeiro do Mané confessa que deixou o futebol cedo pelos excessos, assim como o avô. E antes que fosse tarde se dedicou a ajudar crianças a seguir um bom caminho usando o nome da família. A prima, Sandra Garrincha, lhe apresentou o trabalho do Atitude Social, e a fundação abraçou a causa há um ano, procurando ajuda de clubes e até da CBF.

— Acrescentamos a marca Mané Garrincha ao Instituto. E buscamos parcerias com o Botafogo e o Flamengo, onde meu avô jogou no Rio. Queremos patrocínio para manter professores e complementar — explica Luiz, que consegue da CBF material para as aulas na Penha, onde já morou. O neto do ídolo do Botafogo procurou o clube primeiro, mas a diretoria ainda não sinalizou o apoio.

— O nome Garrincha não precisa ser ligado ao Botafogo. Meu avô deu alegrias para milhares de pessoas. Muitos iam a Maracanã para vê-lo sem ser botafoguense. Mane Garrincha é do povo — diz o neto.

O Botafogo informou, através do vice de marketing Marcio Padilha, que a intenção do clube no momento é ajudar na divulgação do projeto, e que também programa uma visita para avaliar o potencial em agosto.

Secretaria não pagou e não renovou contrato

O socorro pedido aos clubes para o projeto na Vila Cruzeiro veio depois de a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social do Governo do Estado deixar de repassar, em 2015, os valores para ONG Atitude Social. Presidente da entidade, Sandra Vieira precisou interromper parte das atividades ano passado pois os funcionários não recebiam salários.

— Não tinha como manter 50 funcionários. Desde que parou buscamos novos parceiros para voltar — explica.

Ao lado do campo de areia, um prédio de três andares ainda oferece natação, aulas de luta, dança, música, entre outras atividades, mas com menos turmas.

— Não tem professor. Atendíamos até oito mil crianças. Hoje tem espaço mas não tem mão de obra. Da até lágrima nos olhos. Não posso abandonar. Vai ficar na mão de quem? — emociona-se Sandra.

A atual gestão da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, que assumiu em fevereiro, informou que o convênio não foi renovado por problemas de documentação da ONG. Sandra alega que, sem pagamentos, não conseguiu emitir as certidões necessárias.

— Queriam renovar sem pagar. O juiz está acionando o Estado — conta.

No fim, quem paga a conta são as crianças da Vila Cruzeiro.

Fonte: https://extra.globo.com/esporte/flamengo/flamengo-se-une-fundacao-que-leva-nome-de-garrincha-para-investir-em-talentos-na-vila-cruzeiro-21621455.html

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