Flamengo soberano, São Paulo no Z-4: a curiosa lógica da posse de bola do Brasileirão. Veja …

— Foto: Infoesporte

Esqueça por um momento a tabela atual do Campeonato Brasileiro. Imagine que o Flamengo tem 21 pontos de gordura na liderança, o Palmeiras está fora até da zona de Libertadores, e o São Paulo flerta com o rebaixamento. Estranhou? Pois é, essa seria a classificação do Brasileiro se a posse de bola determinasse o ganhador das partidas. Lembra da lógica invertida do ano passado? Quem ficava mais com a bola tinha dificuldade de vencer. Em 2018, o aproveitamento dos times "fominhas" aumentou de 32,9% para 42,9%, mas curiosidades e – supostas – contradições teimam em aparecer.

O Espião Estatístico levantou rankings relacionados ao tema: minutos, porcentagens, gols e recordes com e sem a bola no pé. O economista Samy Dana também destrinchou o assunto no programa Seleção SporTV (assista à íntegra do quadro no vídeo abaixo).

Samy Dana analisa a posse de bola dos times brasileiros no Estudo de Campo

Obs: o recorte dos jogos vai até a 28ª rodada (inclusive). O duelo adiado Cruzeiro x Ceará deixa as duas equipes com uma partida a menos.

Aproveitamento dos times com mais posse de bola – Brasileirão 2018 — Foto: Infoesporte

O número de derrotas dos clubes com mais posse de bola segue sendo expressivo, em relação a 2017, mas houve um aumento significativo no volume de empates. Aí que está a diferença: antes, os times martelavam sem parar e perdiam. Agora, ao menos empatam, provavelmente mais atentos à eficiente postura de contra-ataque da edição anterior. Tanto que o aproveitamento de quem foi inferior na posse de bola está em 47,2%. Ou seja, os times que trocam mais passes para construir jogadas estão neutralizando melhor as virtudes dos reativos.

Classificações por pontos conquistados e por ter mais posse de bola que o adversário no Brasileirão 2018 até rodada #28 — Foto: Futdados

Que tal 21 pontos de vantagem a dez rodadas do fim da competição? Nada mal, hein? A taça do Campeonato Brasileiro estaria muito perto da Gávea se o Flamengo traduzisse sua relevantíssima posse de bola em vitórias. É claro que o terceiro lugar na vida real está longe de ser ruim, mas o torcedor sabe que poderia ser ainda melhor não fossem alguns tropeços. No entanto, ter vantagem na posse de bola 26 vezes em 28 jogos é uma característica que não pode ser ignorada. A superioridade é enorme mesmo em relação às equipes que ocupam a segunda posição no controle de bola. O Flamengo tem sete jogos a mais que Santos, Atlético-PR e Grêmio em que foi superior ao adversário em posse. O Grêmio, aliás, coroou o estilo de domínio de jogo com troca de passes na conquista da Libertadores 2017.

Os gaúchos, dentro de casa, foram superiores em posse 14 das 15 vezes que jogaram. Só o Flamengo se impôs na Arena Grêmio: 62,5% a 37,5%. O resultado, no entanto, foi 2 a 0 para o time de Renato Gaúcho. O Fla foi detentor da maior posse em todas as 14 partidas como mandante.

Éverton Ribeiro: posse de bola do Fla passa por ele — Foto: RAUL PEREIRA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

A explicação para a proposta rubro-negra está no meio-campo. Lucas Paquetá, Éverton Ribeiro e Diego prezam muito pela bola no pé. O recém-chegado Vitinho é outro que gosta de carregar a redonda.

O São Paulo é o extremo oposto: o técnico Diego Aguirre obteve sucesso ao implementar a mentalidade de fechar a defesa, deixar o adversário procurando espaços e, pacientemente, esperar um erro para contragolpear com eficiência. Se o Tricolor ronda o Z-4 em posse, arremata a terceira posição em minutos de posse de bola necessários (18min23s) para balançar as redes. Em outras palavras: está entre os que levam menos tempo para marcar, considerando apenas os momentos com a bola.

E o Palmeiras? Líder no Brasileiro, oitavo em posse. Felipão se vale da fartura de opções do elenco alviverde e coloca dois times distintos para atuar. As vitórias estão constantes, mas os jogadores e suas características mudam. Naturalmente, a posse oscila de jogo para jogo.

Porcentagens e recordes de posse de bola – Brasileirão 2018 — Foto: Infoesporte

Os recordes de posse de bola não se traduzem necessariamente em maior facilidade dentro de campo. O Grêmio teve que buscar o empate após estar perdendo por 2 a 0 para o Bahia na Arena Grêmio. O Santos perdeu para o América-MG por 1 a 0 dentro de casa, mesmo com um placar de finalizações de 32 a 2 para os mandantes. Não fosse o gol de falta de Camilo, aos 51 minutos do segundo tempo, o Internacional não venceria o Paraná em pleno Beira-Rio. Prova de que a eficiência no momento em que se tem a bola é o que de fato resolve.

O Flamengo mantém seu padrão de jogo como mandante ou como visitante: a superioridade sobre o adversário no tempo de posse de bola independe do local da partida.

Minutagens de posse de bola – Brasileirão 2018 — Foto: Infoesporte

Dados curiosos seguem aparecendo quando analisamos a minutagem. Fluminense, Grêmio e Corinthians chegaram perto da marca de quase um tempo inteiro com a pelota nos pés e, ainda assim, empataram os jogos em questão. Em contrapartida, posses de bola inferiores a 15 minutos trouxeram placares favoráveis a América-MG e Vitória.

Em média, Grêmio (em casa) e Flamengo (fora) costumam dar as cartas. O São Paulo, fiel ao plano de jogo mais reativo, possui a mais baixa minutagem média com bola quando manda seus jogos.

Minutos de posse de bola por gol marcado no Brasileirão 2018 – até rodada #28 — Foto: Futdados

O gráfico acima mede o quanto um time é eficiente quando tem a bola. Naturalmente, quem tem mais e menos gols no campeonato acaba puxando os extremos. A diferença entre Galo e Paraná é de 35 gols (47 dos atleticanos, 12 dos paranistas) e diz muito sobre formas de aproveitar o domínio da bola. O Atlético-MG conseguiu balançar as redes em média a cada 17 minutos de posse. O Paraná, por sua vez, apresenta dificuldades para manter a posse e quando fica com ela, raramente aproveita as chances criadas. Resultado: mais de uma hora com a bola no pé para cada gol marcado.

*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Cássia Moura, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Gustavo Pereira, Leandro Silva, Roberto Maleson e Valmir Storti.

Fonte: https://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/flamengo-soberano-sao-paulo-no-z-4-a-curiosa-logica-da-posse-de-bola-do-brasileirao-veja-rankings.ghtml

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