O Flamengo reencontrará Jorge Sampaoli mais cedo do que ambos gostariam — hoje, às 16h, na rodada de abertura do Brasileirão. O argentino tem apenas cinco jogos à frente do Atlético-MG, enquanto o rubro-negro estreia sob o comando de seu novo técnico, o catalão Domènec Torrent. Portanto, qualquer diagnóstico será prematuro. Mesmo assim, o duelo no Maracanã ganha contornos especiais, afinal, colocará frente a frente o atual campeão, favorito a mais um título, e seu perseguidor mais perigoso, o argentino, vice com o Santos, em 2019.

Sampaoli é um dos poucos treinadores — talvez o único a trabalhar no Brasil hoje —, que elevam imensamente as expectativas sobre um time. Se o Galo aparece em debates como um dos candidatos ao título nacional, em que pese o alto investimento em reforços, é por causa da presença do técnico, que tirou leite de pedra no Peixe no ano passado.

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Enquanto o atleticano testemunha uma transformação no time, o rubro-negro vive a expectativa de uma transição suave entre o que propunha Jorge Jesus e o que colocará em prática o novo treinador catalão.

Jorge Sampaoli: vice com Santos, tem nova chance agora pelo Atlético-MG Foto: Bruno Cantini / Atlético

Nesse ponto, é preciso não ser alarmista. Primeiro porque Torrent não tem tempo, nem desejo — como deixou claro na entrevista de apresentação — de mudar por completo a maneira do Flamengo jogar. Sabe que precisa “respeitar” o trabalho anterior. Aos poucos, porém, é natural que sua visão de futebol e sua metodologia de treinos impactem o que se vê em campo.

— Inevitavelmente vamos sofrer uma mudança, ter alguma coisa nova — diz o volante Willian Arão. — Cada treinador tem suas convicções, sua maneira de trabalhar e treinar. É diferente. O que estamos tentando fazer é nos adaptar o mais rápido possível para vencer.

estilos parecidos

Curiosamente, essa adaptação deixará o jogo rubro-negro mais parecido com o que se vê nos times de Sampaoli. Diferentemente de Jesus, Torrent e o argentino são adeptos do Jogo de Posição, modelo de ataque em que os jogadores precisam ocupar espaços pré-determinados para que a bola chegue até eles. Essa definição confundiu alguns torcedores, que temem um time estático. Não será. Como os espaços pré-determinados dependem da localização da bola, os jogadores se movimentarão constantemente.

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No Galo, Sampaoli tenta ir além do que fez na Vila Belmiro. Tem a seu favor a familiaridade com os meandros do futebol brasileiro — dos elencos rivais aos gramados país afora. Durante a paralisação, ganhou sete reforços pedidos por ele: os zagueiros Júnior Alonso e Bueno; o lateral Mariano; os meio-campistas Léo Sena e Alan Franco; e os atacantes Marrony e Keno. Mesmo em um cenário de queda de receitas por causa da pandemia, Sampaoli afirmou que “ainda faltam chegar alguns jogadores”.

Em campo, o Flamengo deve enfrentar um time com as características que marcam o trabalho do treinador: esforço para recuperar a bola, ocupação de espaços no campo adversário, pontas bem abertos para dar amplitude, laterais que articulam por dentro.

— Jogamos contra o Santos do Sampaoli e imaginamos que muitos movimentos vão se repetir — projeta Willian Arão. — Vamos tentar nos impor como fizemos no ano passado.

No Atlético-MG, ainda é possível perceber ao menos uma novidade:

— A ideia básica, que é atacar no 3-2-5, com os dois pontas bem abertos, é essencialmente a mesma (do Santos). Mas o lateral Fábio Santos como um zagueiro na saída de bola é uma novidade. No Santos, havia sempre dois zagueiros e normalmente um volante, o Alison — analisa Leonardo Miranda, do blog Painel Tático no ge.

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Como naturalmente ocorre em um trabalho recente, o Galo de Sampaoli tem oscilado. No Fla, há a expectativa do primeiro jogo de Domenèc, depois de uma semana de trabalho no Ninho do Urubu. Nos treinos, ele pediu intensidade e deu atenção especial aos passes.

As ideias estão claras, mas o sucesso da execução depende de uma fluidez que só o tempo é capaz de proporcionar — para o experimentado Sampaoli ou para o estreante Torrent.