Líder na penúltima rodada e perto de confirmar mais um título brasileiro, o Flamengo prova que o talento resiste ao futebol da pandemia no Brasil. Se não encheu os olhos da torcida com suas apresentações durante a temporada, o estrelado time treinado por Rogério Ceni, mas comandado mesmo por Gerson, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol, fez o suficiente em campo para ser campeão na próxima semana.

Assim como nas finais de 2019, o quarteto teve papel fundamental para conduzir o Flamengo ao topo da tabela. Sobretudo Gabigol, que marcou pelo sexto jogo consecutivo neste domingo. O decisivo camisa nove recebeu linda assistência de Arrascaeta, que no primeiro tempo marcou o seu servido por Bruno Henrique. Edenilson, de pênalti, diminuiu.

Após a vitória de virada por 2 a 1 no Maracanã, falta ao Flamengo carimbar a conquista derrotando o São Paulo na última rodada. Os gaúchos enfrentam o Corinthians, e depois de liderar toda a reta final do torneio, precisam secar os rubro-negros, que alcançaram 71 pontos, contra 69.

No apimentado duelo, com cara de final, deu a lógica. Mesmo sem Willian Arão, que foi para o banco, mas não tinha condições de jogo por ter fraturado o dedo do pé, o Flamengo foi tecnicamente superior, embora tenha apresentado falhas defensivas e saído atrás no placar.

Substituto do volante, Gustavo Henrique foi quem cometeu a infração infantil na área, o que deu ânimo para os visitantes tentarem fazer um jogo mais seguro, apostando no contra-ataque. Contudo, do outro lado tinha um Flamengo que aprendeu a superar seus próprios erros, do time e do seu treinador.

A expulsão de R$ 1 milhão

Nesse momento entrava em cena um dos principais personagens da partida. Rodinei, cuja escalação foi tão falada durante a semana, foi a campo com a premissa do pagamento de R$ 1 milhão pelo Inter ao Flamengo, com quem o jogador tem contrato até 2022. O lateral fez um bom primeiro tempo, colocou uma bola na trave, mas acabou expulso no início da segunda etapa, por falta dura em Filipe Luís. O lance teve revisão do árbitro de vídeo. A partir daí, o jogo foi outro.

Já na etapa inicial o Flamengo, com 64% de posse de bola, finalizou menos que o inter – 7 a 5. Contra um adversário fechado, o rubro-negro demonstrou mais uma vez dificuldade para criar. E para imprimir a intensidade necessária às jogadas afim de encontrar os espaços. Assim, foi até certo momento previsível. O que motivou, em certa altura, uma áspera discussão entre Gerson e Gabigol.

Além dos problemas ofensivos, o time dava muito espaço ao Inter. Com laterais sem proteção de volantes de ofício, Filipe Luís e Isla ficaram presos em suas funções defensivas e o time de Abel Braga explorou bem as jogadas pelas alas. Sem Rodinei, Rogério Ceni tirou Isla e lançou Pedro. Com isso, a linha de zaga teve Rodrigo Caio, Gustavo Henrique e Filipe Luís. Mas sem a recomposição necessária de meias e atacantes, o buraco se abriu. Patrick explorou bem a região e levou perigo em alguns lances.

Mas quanto o tinha a bola, a aposta de Ceni fez sentido em função do jogador a mais. Com um Flamengo muito mais aberto no campo, enfileirou o trio de atacantes para os quais Arrascaeta e Éverton Ribeiro tinham o objetivo de entregar a bola perfeita. O uruguaio conseguiu. E Gabigol fez uma movimentação em diagonal perfeita para arrematar de primeira no canto oposto de Marcelo Lomba.

O gol saiu mesmo com Abel tendo colocado Heitor para repor a expulsão de Rodinei. A virada aconteceu aos 17 minutos. Faltavam ao menos trinta. E dentro desse tempo, Ceni também tentou conter o ímpeto do Inter com a entrada de João Lucas para fazer novamente a ala direita. Gabigol saiu com dores. Com a mexida, Patrick criou menos situações. E o Inter voltou a apostar em bolas longas e levantadas na área, já sem força e tanta qualidade para criar.

Nos minutos finais, a qualidade do Flamengo foi imponente. Em que pese a superioridade numérica, quando a bola passava por Gerson, Arrascaeta e Pedro, principalmente, não havia praticamente erros. O centroavante deixou sua marca duas vezes, as duas anuladas pela arbitragem, por impedimente e falta. A esta altura a equipe estava esgotada: Rodrigo Caio saiu com dores no tornozelo, Diego na coxa e Gabigol com um mal-estar.

Do outro lado, Edenilson, principal peça do Inter, mancava com dores, mas se recusava a sair. O time de Abel Braga exibiu a valentia que dele se esperava. E o Flamengo teve disposição suficiente e a qualidade que precisou para ser superior quando foi necessário. Ainda que tenha terminado o jogo com menos finalizações que o rival – 12 a 10.