Mattheus sente evolução tática na Europa e sonha um dia voltar ao Fla

Mattheus Oliveira se acostumou aos holofotes desde cedo. Desde antes de nascer, na verdade. Foi ele o homenageado por seu pai, o ex-jogador Bebeto, na eternizada comemoração “embala neném” durante a Copa do Mundo de 1994. Depois, com muito talento nos pés, destacou-se nas categorias de base do Flamengo e da seleção brasileira e foi apontado como um craque do futuro. Mas as coisas não andaram para ele conforme o esperado. Deixou o Rubro-Negro sem ser muito aproveitado no profissional e hoje, aos 22 anos, defende o pequeno Estoril, de Portugal, com quem assinou contrato até o meio de 2019 e onde aproveita a pouca badalação para desenvolver seu futebol com mais tranquilidade, principalmente a parte tática. O habilidoso meia canhoto vem se adaptando bem à Europa e se preocupando cada vez mais com o lado defensivo, como exige o futebol europeu.

– Posso dizer com toda certeza e clareza que (meu futebol) mudou bastante. O campeonato
aqui exige muito do atleta, tive que me habituar. Acho que os primeiros
quatro, seis meses foram de adaptação justamente disso, dessa mudança de
postura no campo – disse Mattheus, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com na sede do Estoril Praia.

O jovem jogador garante que não se sente frustrado pela maneira como saiu do Flamengo, mas se diz chateado por não ter conseguido uma sequência de jogos no profissional, o que para ele foi a causa do insucesso. Confiança é tudo para o atleta, e isso só se adquire quando se joga com frequência, na opinião do atual camisa 27 do Estoril. E em Portugal ele enfim conseguiu ter essa sequência – foi bem na segunda metade da temporada passada, e nesta já fez 12 partidas, 11 como titular. Por isso, Mattheus está feliz e não pensa em voltar ao Brasil agora. Mas ele sonha, sim, com um retorno ao Fla no futuro, para um dia poder dar ao clube que o formou como jogador e pessoa o retorno que todos sempre esperaram.

– Claro. Eu tive uma vida dentro do Flamengo. Lógico que quero poder um
dia ajudar o Flamengo ainda. Hoje posso te falar que estou feliz aqui,
vivendo um momento maravilhoso na minha vida em termos profissionais.
Hoje, sinceramente, não penso em voltar para o Brasil pelo momento que
estou vivendo, mas o futebol é muito rápido.

A seguir, veja a entrevista completa com Mattheus Oliveira:

GloboEsporte.com: Como está a sua vida aqui em Estoril? Como está se sentindo?
Mattheus: Estou muito feliz aqui. Já estou adaptado, e a adaptação não é muito difícil pra gente que vem do Rio. Aqui tem praia, é a mesma língua. A cidade é maravilhosa, estou muito bem adaptado aqui, muito feliz.

Sente muito diferença do futebol português para o brasileiro?
Sinto muita diferença. Não só o Campeonato Português, como o futebol europeu. Aqui o esquema tático, aquela parte mais defensiva, não só dos meio-campistas até o zagueiro, os laterais… Enfim, todos têm que colaborar, ajudar. Eu acho que o futebol aqui é bastante diferente do Brasil.

O que deve estar te fazendo feliz aqui é a sequência de jogos. Te deixa mais tranquilo isso?
Me deixa mais tranquilo e feliz. Como eu comentei no começo que eu estava contente aqui, justamente, acho que faz parte disso também. No ano passado terminei a temporada muito bem. Poder ter sequência de jogos, o que eu sempre quis, estar sempre jogando e ajudando o Estoril a vencer, então o feliz aglomera isso tudo. A cidade, o campeonato, os jogos… Sempre quis ter essa sequência de jogos, então estou feliz de estar tendo isso aqui.

Você considera que seu início aqui foi um pouco difícil?
Com certeza foi um pouco mais difícil. Cheguei no Flamengo em 2004, fiquei mais de 10 anos lá, foi a primeira vez que saí da minha casa, vamos dizer assim. Longe da família, longe de todos, um campeonato diferente, então é um pouco complicado. Saí novo também. Então, essa adaptação demora um certo tempo, e cheguei aqui no final da temporada. Acho que isso ajudou um pouco também, Porque peguei o finalzinho da temporada já para ir me adaptando e ver como é futebol, essa diferença dos treinos, dos jogos. Acho que é natural esse início um pouco mais complicado por ser a primeira vez que eu estava saindo de casa.

O Estoril quase não tem torcida, então a cobrança é muito menor do que no Flamengo, por exemplo. Acha que aqui é o lugar ideal para desenvolver seu futebol com mais facilidade e tranquilidade?
Não diria mais fácil, eu diria um pouco melhor. Porque aqui exige mais de você, do atleta, em termos tanto táticos como técnicos, físicos. Então, acaba que você tem que se encaixar nesse perfil. E por conta de ser uma cidade tranquila, não ter aquela cobrança toda, acho que ajuda. Não facilita, porque também a gente vem de grandes clubes, sabe dessa cobrança também. No Campeonato Português tem jogos que são assim também, contra o Benfica, Sporting, Porto são jogos dificílimos, com estádio lotado na maioria das vezes. Acho que ajuda no sentindo de você se habituar melhor. Tem que se encaixar nos ajustes do time, do campeonato, da liga como um todo.

O Estoril não começou esta temporada tão bem. O que você acha que está acontecendo?
O campeonato ainda está no começo. Se você pegar a tabela, o quinto colocado tem quase o mesmo número de pontos de quem está na segunda metade. Ano passado foi um pouco parecido também. A gente começou muito bem, depois deu uma caída e no final cresceu de novo. O Campeonato Português é muito nivelado, essa parte do meio para baixo da tabela. Por exemplo: agora a gente vem de uma vitória na Taça de Portugal e uma no campeonato, então tem crescido. É porque mudou bastante em relação ao ano passado. Alguns jogadores foram embora. Acho que, para encaixar o time com algumas peças novas, demora um certo tempo, mas já está se encaixando, já estamos conseguindo as vitórias de novo, e estamos vivendo um momento feliz.

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Você acha que o seu futebol mudou muito na Europa?
Posso dizer com toda certeza e clareza que mudou bastante. O campeonato aqui exige muito do atleta, tive que me habituar. Acho que os primeiros quatro, seis meses foram de adaptação justamente disso, dessa mudança de postura no campo. Em relação à parte defensiva, a parte tática, por ser um pouco diferente do Brasil, você já está habituado com outra coisa e aqui meio que toma um choque. Mas isso foi muito bom para mim como jogador, como atleta. Acho que isso tem me ajudado bastante, e hoje posso te dizer com toda certeza que é outro Mattheus, outro jogador, totalmente diferente. Estou mais adaptado à Europa, na verdade totalmente adaptado por já estar aqui há algum tempo.

O Estoril se define como uma vitrine para vender seus jogadores para outros times. Qual é o seu objetivo: se destacar no Estoril e ir para um clube maior da Europa?
Com certeza. O meu foco agora é dar sequência nos jogos, fazer bons jogos, continuar tendo bons resultados, colocar o Estoril no melhor lugar possível da tabela. Acho que essa ida é consequência de bons resultados, bons jogos, de gols e assistências. O meu foco é esse, poder fazer um grande campeonato para, quando pintar essa oportunidade, eu poder sair para um grande clube da Europa. Acho que não só o meu, como o foco de todo mundo que está aqui dentro.

Você acabou não tendo sequência quando subiu para o profissional do Flamengo. Muita gente lá dentro diz que sobrava técnica, mas te faltava gana, vontade. O que você tem a dizer sobre isso?
Acho que a sequência de jogos para um jogador é fundamental. Quando você tem confiança é totalmente diferente. É complicado às vezes você jogar um jogo e daqui a dois meses jogar outro, entrar faltando 20 minutos. Lógico que eu não estou criticando ninguém, não estou colocando a culpa em ninguém e nem tirando a minha também. Só estou querendo dizer que um jogador precisa de confiança, de sequência de jogos. Lógico que acontece de um jogador entrar faltando 15 minutos e fazer um gol, mas não é sempre, é difícil. Em 2012, quando subi com o Joel (Santana), tive uma sequência boa, fiz bons jogos, foi quando me senti melhor enquanto eu estava no Flamengo. Foi quando eu subi, e ele é um treinador que acolhe bastante a gente, “Papai Joel”. É um cara por quem tenho uma gratidão enorme, não só ele, mas o pessoal que estava na época: o Zinho, o preparador Torres, por quem tenho um carinho enorme. São pessoas que me deixaram à vontade, e essa confiança que eles me passavam era fundamental para mim. Eu só tinha que chegar em campo e desfrutar daquele momento de ter 17, 18 anos e de estar estreando em um clube como o Flamengo. Então, acho que a sequência de jogos foi o que faltou para ter essa confiança.

Você sempre foi apontado como futuro craque do Flamengo. A saída do clube, sem conseguir deslanchar no profissional, te deixou um pouco chateado ou frustrado?
Frustrado, não. Acho que frustrado é uma palavra muito forte. Lógico que a gente fica chateado de não poder mostrar mais, de querer ajudar mais os companheiros. Eu passei mais de 10 anos da minha vida no Flamengo, ficava mais tempo no Flamengo do que na minha casa. Treinava de manhã, treinava de noite no futsal, então lógico que a gente fica com vontade de querer ajudar mais. Mas frustrado eu acho que não. Se aconteceu aquilo, tudo tem um porquê, então procuro sempre dar o meu melhor, o meu máximo onde quer que esteja, para as coisas acontecerem. Infelizmente não aconteceu da maneira que a gente queria, mas é bola pra frente, vida que segue. Sou muito novo, saí com 20 anos de idade.

Você é rubro-negro de coração, né?
Sou. Nunca neguei isso para ninguém, sempre frequentei estádio.

E você continua acompanhando o Flamengo?
Acompanho. Tenho grandes amigos lá, tenho uma vida no Flamengo.

O Adryan é seu amigo e tem um caso parecido com o seu: nunca foi muito aproveitado no profissional. Acha que é um problema do Flamengo?
Acho que tem que saber colocar nas horas certas. A qualidade dele é indiscutível, todo mundo já sabe. Só que é como eu falei, jogador precisa de confiança, não tem como. Se você não tiver confiança, é muito difícil. Você pode entrar em um jogo faltando 10, 15 minutos, fazer um gol, mas é muito difícil. Acho muito importante a confiança do jogador, a sequência de jogos. Agora, de quem é o erro não tem como eu falar. Só que está ali, vivendo aqueles bastidores, pode falar.

Como cria e torcedor do Flamengo, tem vontade de um dia voltar ao clube para mostrar aquilo que não conseguiu em um primeiro momento?
Claro. Eu tive uma vida dentro do Flamengo. Lógico que quero poder um dia ajudar o Flamengo ainda. Hoje posso te falar que estou feliz aqui, vivendo um momento maravilhoso na minha vida em termos profissionais. Hoje, sinceramente, não penso em voltar para o Brasil pelo momento que estou vivendo, mas o futebol é muito rápido. Então, não tem como a gente dizer nunca. Lógico que um dia, se pintar essa oportunidade, seria um prazer enorme. Até porque todo mundo sabe que eu sou rubro-negro de coração, nunca neguei isso para ninguém e tenho uma vida ali dentro.

Você teve propostas antes de renovar com o Estoril. Alguma veio do Brasil?
No Brasil houve algumas conversas de pessoas que vieram até os meus empresários de falar, de querer.

Algum grande clube do Brasil?
Olha, não cheguei a ter acesso, porque deixei bem claro que no momento não queria voltar para o Brasil. Eu queria dar continuidade ao meu trabalho aqui na Europa. Algumas pessoas vieram falar diretamente comigo. Agradeci, mas falei que o que eu queria no momento era dar continuidade à minha carreira na Europa e, quem sabe, me destacando, ir para um grande clube.

Você acha que o seu futebol se encaixa melhor aqui na Europa do que no Brasil?
Acho que a minha vinda para a Europa foi fundamental, posso dizer assim. Porque, se eu não tivesse vindo para cá, talvez não teria esse amadurecimento como jogador. Acho que hoje meu futebol se encaixa melhor aqui, porque foi aqui que aprendi, é como se fosse uma escola para mim. Não que o Brasil não foi uma escola, foi também, só que aqui eu consegui amadurecer um pouco mais tanto dentro como fora de campo.

Você defendeu a seleção brasileira nas categorias de base. A Seleção principal hoje é uma consequência ou uma meta na sua carreira?
Um pouco dos dois. Acho que é consequência no sentindo de estar fazendo um bom trabalho no seu clube, e aí entra a meta, pois todo jogador tem vontade de vestir a camisa da seleção brasileira. Eu já vesti nas categorias de base e, para mim, toda vez que vestia era um sonho, um orgulho enorme. Acho que meta você tem que ter sempre, tanto aquela curta quanto a mais longa, e é a consequência do seu trabalho, do que você faz nos treinos, no dia a dia e nos jogos. Aí a seleção brasileira pode aparecer. Então, lógico que tenho o sonho de vestir a camisa da Seleção. Para mim é uma meta na qual penso todos os dias quando vou dormir. Quando venho treinar, quero sempre dar o meu melhor justamente pensando nisso.

Quando pequeno você era muito badalado, desde que seu pai fez o “embala neném” na Copa de 1994. Nas categorias de base, pelo talento que mostrou, foi a mesma coisa. Hoje não é mais assim. Sente falta disso ou acha bom não estar muito em foco?
Não sinto falta, porque acho que é a consequência do seu trabalho. Penso em atingir lugares maiores. Não penso em badalação. Penso em fazer meu trabalho, ajudar o meu clube, nas metas que tenho daqui pra frente tanto no presente como no futuro. Deixo as coisas acontecerem, deixo nas mãos de Deus, que Ele sabe o melhor para a gente sempre. Todos os dias, todas as vezes que acordo de manhã para treinar é como se fosse uma final para mim, como se fosse o último dia tanto de treino quanto de jogo. O meu pai sempre falou isso para mim: treino é jogo, e jogo é uma final. Então, procuro sempre fazer o meu trabalho independentemente do que vai acontecer mais pra frente. Mas sempre dando o meu melhor e o meu máximo com humildade, tranquilidade. Sem badalação, sem nada disso.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-portugues/noticia/2016/11/mattheus-sente-evolucao-tatica-na-europa-e-sonha-um-dia-voltar-ao-fla.html

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