Mengão fora de casa: precaução ou covardia?

A derrota do Flamengo contra a Universidad Católica deu “pano pra manga” nas redes sociais, pois parcela expressiva de torcedores aprovou a atuação do time, considerando o resultado uma fatalidade alimentada pela expulsão de Berrío e pela falta de sorte em converter em gols as oportunidades criadas.

Por outro lado, muitos rubro-negros não entenderam o motivo de Zé Ricardo, mesmo estando o supracitado velocista colombiano em ótimas condições físicas, ter iniciado o jogo com três volantes de ofício. O próprio lateral direito Pará, antes do jogo, afirmou que o Mengão, pela qualidade técnica de seu elenco, deveria seguir a mesma postura dentro e fora de casa.

A polêmica foi tanta que o ídolo Zico criticou, depois do jogo, a opção de Zé Ricardo, de utilizar um esquema que pouco treinou, dando mais importância à dita força do adversário do que aos potenciais do próprio Flamengo. E mesmo sendo Zico, o imortal, emérito conhecedor do Clube, alguns torcedores chegaram a dizer que ele é um técnico medíocre e que teria visto outro jogo.

Enfim, volto a dizer que vejo qualidade em Zé Ricardo. Ele está no Flamengo desde as divisões de base, tem o elenco na mão e é melhor, a bem da verdade, que 90% dos técnicos disponíveis no mercado. Isso, porém, não o exime de críticas. Ele mesmo admite sua inexperiência e precisa, na minha visão, queimar etapas no seu amadurecimento para que consiga permanecer por muito tempo no comando técnico do time de maior torcida do Brasil.

Particularmente, não sou contra o técnico variar esquemas, desde que treine isso com mais constância e que a opção escolhida se mostre imprescindível.

Ademais, mesmo sendo amante do futebol ofensivo e bem jogado, reconheço que, algumas vezes, o técnico precisa, percebendo o poderio do adversário, lançar mão de formações mais defensivas, desde que não deixe de concatenar boas opções para o contra-ataque desde o início da partida.

No entanto, Zé Ricardo lançou três volantes e desfez um esquema que vinha dando certo e originando várias goleadas, inclusive contra os argentinos do San Lorenzo, para fazer frente a uma Universidad Católica com potenciais apenas razoáveis. O único jogador veloz em campo era Everton. Ora, não iríamos enfrentar um Boca Juniors, com um elenco forte, em plena La Bombonera. Conservadorismo foi excessivo.

O Flamengo chegou a fazer um jogo ruim? Não. É claro que teve algumas chances não convertidas de gol, mas a maioria em bolas paradas. Todavia, o Mengão fez um jogo visivelmente abaixo de sua capacidade. Com a formação comum e Berrío desde o início, criaríamos mais chances, certamente, e não seria difícil imaginar um placar favorável de 3 a 1 para nós, por exemplo.

A precaução deve depender sempre do poderio técnico do adversário, especialmente em um momento que o Flamengo voltou a possuir, finalmente, um elenco à altura de suas centenárias tradições.

Até porque, derrotas fora de casa, decorrentes de uma postura excessivamente acanhada, deixarão o time extremamente pressionado para a partida no Rio.

Em enquete que realizei recentemente no Twitter (https://twitter.com/csampaio_pele/status/843954747048677376), 65% da torcida defende que o time se poste ofensivamente quando jogar fora de casa, 25% concorda que o esquema deve depender do adversário e apenas 10% vislumbra recomendável a utilização automática do sistema defensivo longe dos próprios domínios.

Obviamente, a pressão das torcidas adversárias sempre será grande, especialmente em jogos da Taça Libertadores da América, mas isso não significa que o Mengão deva abandonar a audácia e abrir mão de suas melhores e mais conhecidas armas pelo simples fato de jogar fora de casa.

A inteligência, essencial no comando técnico futebolístico, não pode nunca resvalar ao terreno da ambição tacanha e da ausência de coragem, como demonstrou claramente a recentíssima goleada do Brasil sobre o Uruguai dentro do temido Estádio Centenário, no qual nossa Seleção tinha um péssimo histórico.

O Mengão pode, sim, chegar ao sonhado Bicampeonato da Libertadores, mas, para isso acontecer, deve confiar em sua força, impondo a sua mística de raça, superação e bravura. O técnico, mesmo perspicaz e precavido, não pode fugir do DNA rubro-negro. O medo de perder tira a vontade de vencer. Vamos, Flamengo!

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2017/03/mengao-fora-de-casa-precaucao-ou-covardia/

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