“Minha casa, meu lugar”

Morei aqui durante anos, muitos anos, mas de uns 10 meses pra cá tive que sair. Não foi fácil, mas não havia outra opção, fiquei sem residência fixa. Sem teto nunca fiquei, graças a Deus, mas nenhuma recepção se compara a alegria de estar em sua própria casa.

Antes da minha mudança, pelo menos uma vez por semana rolava festa aqui em casa. Você precisa conhecer minha galera, nossas festas emocionavam, só participando para entender. Sempre veio muita gente, gente que conheço há muito anos e gente que nunca vi. Não superlotava sempre, mas vazio nunca ficou, a galera nunca deixou. Não deixou mesmo. Eles sempre traziam baterias, faixas, bandeiras, faziam um barulho ensurdecedor. Imagina só irmão, todo mundo vestido igualzinho, era impressionante, muito maneiro cara, você precisava ver. Engraçado é que toda vez que a festa começava eu achava que era a melhor de todas, chegava a semana seguinte percebia que estava enganado, eles se superavam sempre.

Quando me perguntavam qual era o melhor da festa, te confesso cara, nunca soube responder. Não sei se a paixão pelo acontecimento, as cores envolvidas ou o manto que todos os convidados são obrigados a vestir, obrigados não né? Vestem por que vestem, vestem porque amam. Irmão, esse manto emana uma energia muito sinistra, não consigo te explicar por aqui.

Alguns diziam que os artistas representavam o melhor da festa… ah sim, esqueci de dizer, essa festa sempre foi marcada e repleta de artistas, mínimo de onze. A verdade é que o papel sempre foi meio invertido, a rapaziada do gramado vem pra dar show, mas acabam
assistindo um outro que nós fazemos como ninguém e não é prepotência, venha e veja. Carnaval na Sapucaí, na Bahia, Réveillon em Copa, perdem e perdem feio pra gente. Com o dinheiro que eles gastam, seríamos capazes de fazer essa bagunça organizada pelo resto de nossas vidas.

Pode vir tranquilão, aqui todo mundo é irmão, não tem essa. Nessa festa todos são iguais, para fazer parte dela te exigem pouco, basta querer fazer parte dela, saber a escalação e cantar o hino.

Tá certo, tá certo, alguns podem argumentar que outras galeras também enchem a minha casa. Sim, sim, concordo, fato. Não me envergonho disso. Agora… feeeesta, festão mesmo, só a minha galera sabe fazer e isso todos os outros admitem.

Ficou curioso? Se liga só, deixa eu te fazer um convite. O papo é o seguinte: Tô voltando pra casa irmão. Sério pô. Tô te falando. Volto pra casa hoje. Apareça por lá. Não apareça de qualquer jeito. Traje obrigatório: Roupa vermelha e preta, seis estrelas brancas, uma estrela amarela, alegria de ser rubro negro, marra de campeão, alma prepotente e vencedora.

Tá pensando que é brincadeira? Você vai ver então. O Brasil vai parar, a mídia vai parar, a cidade vai parar, será um carrossel de emoções tão intenso, que corações mais frágeis também correm o risco de parar. Não vejo a hora de chegar na Norte, em frente ao portão, mais uma vez ver meu cachorro sorrir latindo, colocar minhas malas no chão e poder dizer que voltei. Ver vários braços abertos me abraçando como antigamente, com vontade de dizer tantas coisas e não conseguir falar nada, só chorar.

“Eu voltei agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar”

Fábio Justino agora escreve aqui e se você quiser,
também pode encontrá-lo por aqui:
@fabiojusttino (Twitter)

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2016/10/minha-casa-meu-lugar/

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