Na música e na bola: Seu Jorge é empresário de irmãos de Fla e Bota

Paixão pelo futebol, amizade e crença em um trabalho individualizado específico. Com essa combinação, Seu Jorge se aventura como empresário desde 2015, gerenciando a carreira de dois irmãos que atuam em clubes rivais: Zyan, do Botafogo, e Kyan, do Flamengo. No intervalo de uma agenda lotada que inclui shows, lançamentos de filmes e gravações, o cantor falou ao GloboEsporte.com sobre a experiência no esporte, descrita por ele mesmo como um “xodó”.

– Definitivamente eu não me considero entrando no mercado, mas eu entro no esporte, que é encantador, predominante na cultura do Brasil, na minha cultura, na minha vida. O futebol estimula muitos sonhos e minha jogada aqui hoje é por causa de dois caras que eu acho que têm muito para jogar, e muita entrega e determinação também. Em todas as áreas, se você não trabalha muito, é pouco provável alcançar êxito.

Zyan, 18 anos, atua nos juniores do Botafogo. É zagueiro e lateral-esquerdo. Kyan, 12, é centroavante do Flamengo sub-13. Filhos do diretor publicitário Manitou Felipe, os dois fazem um trabalho individualizado fora de seus clubes para poderem evoluir ainda mais. Na parte médica, quem cuida deles é Márcio Tannure, médico do UFC. O fisiologista é Cláudio Pavanelli, que já trabalhou com Vanderlei Luxemburgo. Há também um trabalho de fisioterapia com Fernando Werneck e de biocinética, com Gustavo Leporace.

Seu Jorge, que vive em Los Angeles e tem base em São Paulo, patrocina esses trabalhos específicos, acredita muito no sucesso dos dois e é só elogios a eles quando fala das características de cada um.

– O menor aqui (aponta para Kyan) é um absurdo, muito abusado. E esse (se refere a Zyan) é o homem mais consciente que temos em campo. Tenho certeza que o Brasil vai se orgulhar muito do futebol desse cara, que é sério, dedicado. Não tem problemas com lesão, são dois caras de saúde perfeita e estou muito feliz de trabalhar com eles.

Música e futebol andam juntos no Brasil

O futebol sempre fez parte da vida de Seu Jorge. Torcedor do Flamengo, ele conta que a mãe sonhou em vê-lo como jogador para que a família pudesse ter dias melhores. Não teve sucesso nos gramados, mas se lembra perfeitamente de boas histórias envolvendo músicos que se aventuraram no mundo da bola e jogadores que lançaram boas músicas.

– São duas disciplinas completamente diferentes, que o tempo todo agem bem em comunhão. A seleção brasileira já deu diversos exemplos de relação com a música, Wilson Simonal achando que vai participar da seleção brasileira, Junior fazendo um hit na década de 80, as diversas canções que surgiram depois disso…

O cantor fala insistentemente sobre a necessidade da entrega em qualquer atividade profissional e relembra que, no início de sua trajetória, não imaginava que faria tanto sucesso. Queria apenas fazer parte do universo da música brasileira.

– A música, assim como o futebol, são profissões de expressão. Leva aquele que tem a expressão mais bonita, sempre. O cara entra em campo, dá um show e é bonito de ver, pode contar que vão querer ver novamente. Você chega no concerto, se desempenha bem, comunica bem, toca bem, tá disposto… Tem a questão da entrega. Na minha profissão de músico eu sempre sonhei em fazer parte da música brasileira em particular. Eu nunca pensei em vender 1 milhão de cópias, por exemplo, ou fazer aquele sucesso avassalador, eu queria só fazer parte da música brasileira. Que meus ídolos olhassem para mim e falassem “Você faz parte desse negócio”, como Caetano, Gil, Zeca Pagodinho, pessoas que na música eu sempre admirei e respeitei, e me fazem eu me sentir parte daquilo.

Seu Jorge vê muita semelhança nesse processo de aceitação coletiva na música e no futebol, mas pensa que no esporte essa questão é mais intensa.

– Acho que no futebol não seria diferente. É muito legal você estar em uma base com 17 para 18 anos e chegar na Seleção do lado de um Neymar, de um Marcelo, um Daniel Alves, você tá chegando, tá começando agora, tem outro salário, outro time, você tá ali porque te entenderam e acharam que você fazia parte desse grupo. Isso eu acho que no esporte é mais intenso, no esporte coletivo principalmente. A gente é muito similar nessa hora. Quando a entrega sua é legítima no sentido de que você quer alcançar algo bacana, soberano, divino na profissão que você escolheu.

Mauro Galvão como referência e comparação com Hummels

Para Seu Jorge, o talento não é tudo no futebol. É preciso que essa capacidade se junte a um trabalho sério, à entrega em campo e a uma postura positiva fora das quatro linhas. Por isso, quando perguntado sobre o jogador que tem como referência, ele surpreende, apesar de citar a genialidade de Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno e aponta Mauro Galvão, ídolo de Vasco e Botafogo.

– No futebol, tem o Mauro Galvão, que é uma grande referência de atleta, craque, campeão, e de um homem também, que nunca cometeu deslizes, nunca proferiu nada errado no tempo errado. São essas as referências que a gente quer hoje, no caso do Zyan, que tá alinhado com o Hummels, zagueiro alemão, tem muitas semelhanças que a gente encontra no futebol deles, de jogar de cabeça em pé, sem dar chutão.

Os irmãos

Zyan, que treinou por um mês no Porto, parece bem focado nesse objetivo. Capitão do Botafogo vice-campeão da Copa do Brasil Sub-17, em 2015, ele subiu de categoria nesse ano e tem atuado nos jogos da Copa Octávio Pinto Guimarães. Sabe que a chance pode demorar a surgir, mas não desanima. E além de jogar futebol e fazer os trabalhos específicos para evitar lesões, faz um curso de treinador na Universidade do Futebol, com o objetivo de compreender melhor o jogo em todas as suas dimensões (física, técnica, tática e psicológica). Tudo em nome de uma meta maior.

– Meu sonho é chegar nos profissionais e eu luto por isso todos os dias.

Com história diferente da maioria dos jogadores de futebol, ele é de classe média. Não passou pelas dificuldades comuns aos que buscam o sucesso nos gramados e lida com brincadeiras por isso, mas tira de letra e vê esse convívio como positivo.

– Quando eu cheguei no Botafogo foi um baque, porque só de você chegar em um clube com uma galera que você não conhece, é difícil. Quando eles vêem que a criação era diferente, foi mais um baque. Não chegou a ser uma dificuldade, mas criou uma distância. Com o passar do tempo, víamos que tinha uma troca. Acho que conhecer outras histórias, outros sonhos, outras realidades mesmo foi importante para mim, porque passei a respeitar todo mundo que tava ali comigo, todos começaram a me respeitar e me motivei. Vi que todo mundo tá ali que nem eu, para chegar no alto nível do esporte. São sacrifícios diferentes porque eu abro mão de viagens, de coisas que são consideradas por classe média e eles estão ali lutando pelo pão de cada dia que eles precisam e que acaba se tornando o meu pão de cada dia também, porque é o meu sonho.

Kyan, mais novo, ainda demonstra a timidez própria de quem nunca havia dado entrevistas na vida. Membro do time sub-13 do Flamengo que disputará o Campeonato Metropolitano a partir do próximo sábado, ele não pestaneja ao citar seus ídolos no futebol.

– Ibrahimovic e meu irmão.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2016/09/na-musica-e-na-bola-seu-jorge-e-empresario-de-irmaos-de-fla-e-bota.html

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