O mistério da base Rubro-negra

Existe um mal que paira no ar quando o assunto é base e revelação de novos jogadores pelo Flamengo. Existem inúmeras opiniões a respeito do assunto. No fundo, como em todos os outros assuntos, nessas horas todos têm sua defesa predileta e se tornam experts no assunto. O campo é amplo e até entre os que crêem ferrenhamente que o Flamengo erra muito com suas crias, não há unanimidade. Muitas pessoas apresentam soluções das mais variadas possíveis. Vamos olhar de outro ponto de vista?

Gostaria de convidá-los a fazer um exercício reflexivo no que tange o assunto Base. Para pavimentar essas reflexões é preciso soltar uns dados bastante interessantes. Para vocês quais são os maiores formadores/vendedores do futebol nacional? Pegando a temporada 15/16 como exemplo, vamos encontrar o São Paulo com Boschilia, Tolói, Jonathan Cafú; Corinthians com Cassini, Malcolm; Atlético Mineiro com Jemerson; Fluminense com Gerson e Kenedy; Santos com Gabriel.

Aqui nós fazemos uma pausa e pensamos bem. Cadê o Inter? Frequentemente, temos na lembrança um imaginário de times formadores. Inter, Santos, São Paulo… Nos últimos tempos Fluminense, talvez. A verdade é que na prática não é bem assim. E aqui deixo claro que estamos analizando a base pela venda de jogadores (Até porque se não vende o jogador é porque talvez não o tenha formado tão bem assim). No passado vimos o Inter vender Giuliano, Oscar, Nilmar, Sandro, Taison. São Paulo vender Lucas, Brenno, Miranda, Kaká. Santos com Neymar, Diego, Robinho, Gabriel. E assim criou-se em nossa memória que os clubes são magníficos, tudo funciona por lá e por isso a base é maravilhosa, recheada e rentável. De novo, não é bem assim.

Uma das coisas que tenho visto funcionar e que me parece bastante importante é a campanha. Se o time não faz boa campanha, esconderá o bom jogador. Ao mesmo tempo, se o time faz boa campanha, colocará na vitrine o médio e pereba. Como disse o Rodrigo no Resenha: “- Vocês acham que o Jemerson é melhor que o Samir?” Mas o Galo foi vice-campeão o ano passado e isso coloca um grupo na vitrine. Voltemos ao internacional. Vocês acham que não há bons jogadores nesse time que briga para não cair? Claro que há. Esse Willian, da lateral esquerda é muito bom, mas fica escondido lá e não será vendido, como estivemos acostumados a ver o Inter negociar. Talvez até saia, mas não será por um bom valor.

Um dos maiores argumentos que escutamos por aí é a questão da paciência da torcida com o prata da casa. E o exemplo disso é o Santos. Jogador vacila na Vila Belmiro e continua. Joga várias partidas. Evolui. Também acho isto fundamental. Mas vamos pegar a lupa e ver mais de perto. Este ano o Peixe vendeu o Gabriel. Só. No ano anterior Victor Andrade. De 2010-2013 o Santos vendeu pelo menos uns 12 jogadores, nem todos da base. Todos negociados através do efeito Neymar. Claro. Como já falado, os títulos acompanharam estes anos de Peixe. Foi uma Copa do Brasil, uma Libertadores e uma Recopa. O bastante para alavancar a venda de muitos jogadores. Mas o que há antes disto? Antes disto há a geração de Diego e Robinho que terminou em 2004. Ou seja, existe um hiato que perdurou seis anos. E o que tudo isto quer dizer? Quer dizer que o Santos pagou com ostracismo sua política de uso da base. Pode parecer um curto tempo olhando daqui, já que o hiato entre Diego e Robinho é pequeno para Neymar e Ganso, mas o que dizer de antes do que isso? Em 98 houve um pequeno brilhareco num torneio ridículo e antes disso só com Pelé.

Muitos vão dizer, mas e o Cruzeiro com aquele Bicampeonato? Nenhum jogador que foi vendido era da base. E o Inter com D’alessandro, Aranguiz e cia? Dois estrangeiros? Neca de base. Corinthians e o esquartejamento Chinês, só os citados acima. A verdade é que vivemos numa época em que o jogador acaba se transferindo e virando o que deveria ser no outro time. Renato Augusto é um bom exemplo. Era um meia interessante no Flamengo, foi para a Alemanha e não vingou, veio para o Corinthians e arrebentou. Já pararam pra pensar que o Leverkusen não teve paciência com ele? O torcedor é assim. Sempre vê o copo meio vazio.

Então tá tudo maravilhoso e a gente tem que sentar e aplaudir como está? Freia o carro! Não é isso. Não é o que estou falando e agora vou expor o que penso. Na verdade já escrevi aqui numa outra coluna. Defendo a criação de um time B para o Flamengo. Esse negócio de emprestar jogador para a Luverdense não dá certo. Alguém sabe como está o Baggio? Se ele estivesse por aqui (num clube do Rio), todos saberíamos. A verdade é que temos jogadores demais no elenco, tanto da base como os “profissionais” (Me nego a pensar que MA é profissional). Talvez não precisasse algo tão formal como Flamengo B, talvez mandasse os nossos jogadores da base que não têm chance no time de cima para o Bangu, ou Campo Grande, Madureira. Tem que ser um time com o qual o Flamengo faça uma parceria e esse time comece a galgar o cenário estadual e nacional. Para podermos ver os jogos dos nossos pratas da casa na série B, quem sabe na A. O fato é que hoje, não há espaço para muitos pratas da casa.

O modelo precisa ser discutido, mas como já disse, com Donatti, Rever, Vaz e Léo Duarte, Dumas não jogará tão cedo. Ao invés de ir para a Índia, poderia estar aqui mais perto com um campeonato mais próximo do profissional. Mugni, Thomás, Ennes, Trindade, Fernando e muitos outros. É um desperdício o Baggio estar no Luverdense. Alguém tem notícia daquele Lucas, o outro Centroavante da base? Essa é a jogada. Informação. Com esses garotos aqui perto saberemos se tem um que nos serve para ontem e já podemos mandar buscar.

Mas e o salário? Não falo nada do Mugni, mas do restante não né? O Salário de todos juntos não deve dar o do Sheik. O prejuízo é maior se continuar como está. E o carioca e o time reserva que vai jogar em 2017? Tenho cá minhas reservas. Acho improvável a Globo querer sustentar o carioca sem o Flamengo. É certo que eles vão voltar atrás, seja por grana, seja por uma conciliação. Mesmo assim o nosso elenco de pratas da casa ainda é muito grande e daria para dividir. Até porque o time B não precisa, e não deve, ter 100% de jogadores do Flamengo, afinal também precisamos garimpar promessas desse próprio time B.

E você? O que acha da ideia? Tem que jogar com pratas da casa no time titular direto? Tem que fazer time B? Tem que ganhar títulos? Qual o Flamengo que você quer ver?

Obs: As perguntas são retóricas. Sabemos que Lucas rescindiu contrato, assim como sabemos o destino de outros, mas o texto visa provocar essa dúvida mesmo. O que aconteceu com aquele jogador?

Anderson Alves, O otimista
Twitter: Anderson Alves

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2016/11/o-misterio-da-base-rubro-negra/

Share this content: