O Flamengo de Rogerio Ceni ainda não enche os olhos da torcida e dos estudiosos do futebol. Aqui e acolá surgem alguns lampejos do time de 2019 durante as partidas. Mas os números corroboram um fato: o rubro-negro engrenou na reta final, fez valer sua superioridade técnica e chega à última rodada do Brasileiro bem perto do segundo título consecutivo.

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Tampouco isso é fruto do acaso. Nas últimas seis partidas —cinco vitórias e um empate —, o artilheiro de 2019 colocou o pé na forma. Gabriel Barbosa marcou, literalmente, um gol por partida. Para se ter uma ideia do aproveitamento atual de Gabigol acima da média basta comparar com ele mesmo até então. Antes do jogo contra o Grêmio, o atacante havia feito oito gols em 18 partidas, ou 0,4 gol por jogo. O histórico recente de 100% do jogador representa 42% dos 14 marcados ao longo da competição. Na avaliação do site SofaScore, a média geral dele é 6,79. Se avaliados apenas os seis últimos jogos sobe para 7,38. O maior crescimento entre os homens do ataque rubro-negro.

Rendimento do Flamengo na reta final Foto: Arte O GLOBO

O técnico Rogerio Ceni afirma que tem trabalhado consistentemente as finalizações dentro da área:

— É um dos grandes jogadores do futebol brasileiro. Ele perto da área tem muita movimentação. Eu trabalho muito essas finalizações. Este ano, talvez o índice de finalização dele tenha caído um pouco, mas ele é muito decisivo. Todos têm importância — disse Ceni após a vitória.

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Mas o que mudou de uma hora para outra que fez o atacante desencantar? Uma das explicações pode ser a constância da formação nos últimos jogos. O quarteto formado por Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabriel tem sido acompanhado no meio-campo por Diego e Gerson. Desde que optou por Arão na zaga — ele ficou fora contra o Internacional por causa da fratura no dedo do pé —, o time só perdeu para o Athletico-PR (2 a 1). No empate com o Bragantino, único tropeço neste período, Diego estava suspenso e foi substituído por João Gomes.

Nas últimas derrotas, algumas das peças do ataque estavam fora. Contra o Athletico-PR, Bruno Henrique não jogou e Arrascaeta foi deslocado para sua posição. Diante do Ceará, Gabigol foi banco de reservas e só entrou nos 20 minutos finais. A mudança promovida por Ceni no meio-campo e na defesa, no entanto, nem sempre dá resultado. Diego não tem o mesmo vigor físico que Arão em jogos que se concentram no setor, como o de domingo.

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Outras estatísticas das partidas recentes também dão algumas referências do jogo do rubro-negro sob comando de Ceni. Nas melhores atuações do Flamengo, a posse de bola é mantida em mais de 60% do tempo e o percentual de passes certos nos 90 minutos supera os 80%, em média. No 1 a 1 com o Bragantino, por exemplo, essas duas variáveis ficaram abaixo da média, com 55% e 78%, respectivamente.

Não adianta, porém, manter a bola nos pés e só tocá-la de um lado para o outro. O segredo do sucesso do Flamengo também passa pela aproximação dos seus jogadores na área. O confronto com o Inter é um bom exemplo do que dá certo e do que dá errado. Arrascaeta mostrou com seu talento como assistir bem seus companheiros e se colocar em posição de finalização. Nas estatísticas, o uruguaio vem se destacando como o mais eficiente do time. Mas as mudanças de Ceni contra o Inter surtiram efeito contrário, e o time abusou das bolas longas (73%), quando a média tem sido entre 50% e 60%.

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O técnico se defende e argumenta que futebol se ganha no coletivo. É ele que ajuda a evidenciar os talentos individuais:

— Eu não sei de nenhum time que vence pela qualidade individual. Um time defende como um todo, ataca como um todo. O coletivo sempre prevalece no individual. Não tiremos o mérito da individualidade. Mas isso aqui é o Flamengo, tem grandes jogadores. Na minha concepção de vida, o trabalho em grupo é sempre mais importante do que as individualidades. As jogadas dos dois gols foram coletivas.

Não à toa, o jogo com o Inter foi decidido em detalhes e o Flamengo sofreu menos pressão após a expulsão de Rodinei no início do segundo tempo. Mas também não se aproveitou da superioridade numérica para sufocar os gaúchos. Pelo contrário, dentre o retrospecto das outras vitórias da atual invencibilidade foi o jogo com menos grandes chances de gol, segundo o SofaScore, com apenas uma, e somente quatro finalizações a gol. Na vitória por 3 a 0 sobre o Sport, por exemplo, foram quatro oportunidades claras.

Os números, no entanto, não contam tudo o que acontece em campo. E só por eles não é possível cravar o favoritismo do Flamengo diante do São Paulo, ainda que o jogo possa de nada valer ao time do Morumbi.