O valioso retorno de Júlio César

Poucos poderiam prevê-lo, mas foi um erro liberar a saída de Paulo Victor sem trazer outro goleiro de qualidade para o Flamengo. Na época em grande fase, Muralha parecia ter conquistado de vez a meta rubro-negra, alcançando, inclusive, a seleção brasileira. Hoje, entretanto, a realidade é outra. Mesmo defendido por boa parte da crítica, inclusive por mim, que não o considero de todo ruim, é fato que a pressão e o peso da camisa estão afetando as atuações de Muralha. É notável a falta de segurança em saídas simples e as dificuldades em certas bolas de puro reflexo que antes eram facilmente interceptadas pelo arqueiro.

Má fase ou não, não podemos estar condicionados aos altos e baixos da carreira de qualquer jogador; é preciso ter reservas em condições de substituí-lo a qualquer momento. A posição de arqueiro, porém, traz uma certa dificuldade na manutenção de um bom suplente, pois, praticamente, somente a primeira opção tem significativas oportunidades durante a temporada. Então, pois, ocorre uma resistência de mão dupla: nenhum clube quer ter um goleiro oneroso no banco nem os goleiros de alto nível querem amargar a suplência que tanto ofusca suas carreiras.

O Flamengo viveu este dilema com PV e Muralha. Pela amargura, o primeiro saiu. Por consenso e por economia, rebuscamos César – então encostado na modesta Ferroviária, e o colocamos ao lado de Thiago para que disputassem a condição de segundo goleiro do Flamengo. Jovens, promissores, mas ainda nem de perto realidades. Resultado: na má fase de Muralha, ainda não temos um goleiro verdadeiramente preparado para assumir sua posição.

Aí é que entra a importância do retorno de Júlio César. Admiraria sua contratação por diversos fatores: a formação rubro-negra, a experiência transmitida a nossos jovens goleiros, a qualidade, o renome internacional, a alternância com Muralha, o encerramento de seu contrato com o Benfica, os salários reduzidos de um jogador em fim de carreira… só não vejo, amigos, motivos para não trazê-lo.

Voltando ao início do tópico, ainda enxergo o problema da pouca alternância da posição. Aqui, sugiro a adoção do modelo europeu de utilização de dois goleiros durante a temporada. Temos diversas competições ainda em disputa e de diferentes níveis, como Copa do Brasil e Primeira Liga, Brasileiro e Sul-Americana… fora as já passadas Libertadores e Carioca. Aqui temos muito mais espaço de alternância entre os goleiros. Se existe consenso sobre a prevalência de um sobre o outro, este superior deve ser designado para as competições mais importantes. O preterido, portanto, nem por isso deve ser colocado na geladeira; para este restariam as competições menos importantes para manter-se em atividade e em constante pressão sobre a primeira opção.

Isto, meus amigos, já deveria ter sido feito de maneira ampla no Carioca e nos jogos iniciais da Primeira Liga. Foi um desperdício não ter dado mais oportunidades a nossos jovens goleiros, especialmente a Thiago, que já estava no clube no princípio da temporada. Este último, inclusive, teve boas atuações nas poucas partidas em que atuou e poderia ter aproveitado mais chances contra clubes pequenos em jogos de relativa importância. Não teve e, ao meu ver, a regularidade dos competitivos campeonatos que disputamos nessa segunda metade do ano exigem goleiros mais experientes e firmados.

Júlio César é um excelente nome. Para a torcida, para o grupo e para a história do clube. Valorizar quem já produzimos também é valorizar a base, pois é com ela que escrevemos o futuro. Força, diretoria!

Rodrigo Coli

Twitter: @_rodrigocoli

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2017/06/o-valioso-retorno-de-julio-cesar/

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