Presidentes de Flamengo e Botafogo minimizam peso das diretorias na rivalidade violenta

Em vez de craques e personagens do jogo, Flamengo e Botafogo colocaram seus presidentes em todos os programas de televisão nesta segunda-feira para repercutir um clássico que terminou em tragédia. O que nenhum dos mandatários admitiu foi que os comportamentos das diretorias alimentam uma guerra fora do campo de jogo.

A estratégia dos argumentos é sempre cobrar ação do outro. Internamente, porém, nos dois clubes, Carlos Eduardo Pereira e Eduardo Bandeira de Mello são vistos como torcedores fanáticos, o que indica a dificuldade de medidas mais racionais em momentos de emoção e rivalidade.

A última atitude do tipo foi o presidente alvinegro querer proibir o uso do estádio Nilton Santos pelo rival, algo que deve ser vetado pela Federação de Futebol do Rio por ferir o regulamento do Estadual. Da briga por Willian Arão à dificuldade para repassar a arena da Ilha do Governador, Flamengo e Botafogo deixam cada vez mais de lado o futebol.

— Isso não partiu do Flamengo. O que a gente tem visto nos últimos meses são declarações do presidente do Botafogo nos hostilizando. Eu não fiz qualquer hostilidade contra o Botafogo. Acho que os clubes deveriam agir fora do gramado com harmonia — declarou Bandeira, presidente rubro-negro, que já foi filmado cantando “E ninguém cala esse chororô” em um dos clássicos.

‘FRIA CORDIALIDADE’

Carlos Eduardo Pereira chegou há menos tempo ao comando de seu clube, mas desde o “caso Arão” bate no Flamengo sempre que pode. No discurso, mantém um semblante sereno e nega que a temperatura da relação entre as diretorias respingue na torcida.

— Acho que há apenas clima de fria cordialidade, em momento nenhum foram trocadas palavras mais agressivas ou se subiu o tom das divergências, que ficam sempre no campo das ideias. As diferenças sempre existiram, mas infelizmente foram exacerbadas pelo momento atual — declarou.

Os dois clubes têm em comum a boa relação com suas torcidas organizadas. Pacotes especiais e de sócios-torcedores são comercializados para todas as competições. Quando cobrados após episódios como os de domingo, eles defendem que sejam responsabilizados e punidos os torcedores como pessoas físicas, e não o clube ou torcida. Desta vez, a discordância sobre a realização da partida em meio ao pouco aparato policial foi mais uma prova que a má relação das diretorias pode gerar consequências.

O Botafogo constatou em vistoria ontem que 34 cadeiras foram danificadas no estádio, e mandou a conta para o Flamengo. O alvinegro não quer ver o rival mais em seu estádio. A Federação se manifestou através do diretor de competições, Marcelo Viana, que deu mostras de que a relação conturbada requer paciência.

— Vamos esperar os ânimos se acalmarem e cuidar de assuntos mais importantes neste momento, para depois conversarmos sobre o assunto — respondeu o dirigente.

VETO CONTRARIA REGULAMENTO

No artigo 44 do regulamento do Estadual fica claro: “As partidas dos clássicos, do turno semifinal e do turno final do campeonato deverão ser realizadas no Maracanã”. E no artigo 62, o complemento: “O estádio Mário Filho (Maracanã) será considerado campo neutro, assim como o Estádio Nilton Santos (Engenhão), caso não haja possibilidade de utilização do Maracanã”. Marcelo Viana falou sobre isso:

— O regulamento indica Maracanã, e em sua ausência posiciona o Nilton Santos como estádio neutro. Neste momento, nossa preocupação é organizar a ultimai rodada, e em momento oportuno conversaremos com o Botafogo — frisou, praticamente descartando a reivindicação do clube.

O presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, ignorou a possibilidade de entendimento e disse que o clube viverá sem o Engenhão.

— Não tínhamos intenção de fazer jogo no Engenhão, a menos quando fôssemos obrigados pela Federação, nos clássicos do carioca, semifinais e finais. Se a Federação entender que os jogos não devem ser no Engenhão, podemos viver com isso — garantiu o presidente.

Tratado como estádio Nilton Santos pela direção do Botafogo, o Engenhão ainda era conhecido oficialmente pela prefeitura como Estádio Olímpico João Havelange. Em decreto publicado ontem, no entanto, o prefeito Marcelo Crivella rebatizou o estádio para homenagear o ídolo do Botafogo. A homenagem a Havelange, que morreu no ano passado, foi cancelada após denúncias.

Fonte: http://oglobo.globo.com/esportes/presidentes-de-flamengo-botafogo-minimizam-peso-das-diretorias-na-rivalidade-violenta-20920863

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