Quem paga? Fla x Vasco sem casa expõe arena cara e temor de prejuízo

Casa de alguns dos principais eventos esportivos do
Rio de Janeiro nos últimos anos, a Rio Arena era considerada a opção mais
viável para a realização do primeiro confronto entre Vasco e Flamengo pelo NBB.
O alto custo da operação, em torno de R$ 200 mil, no entanto, foi um dos
motivos para que o Cruz-Maltino desistisse de realizar o jogo no local – o que
gerou adiamento da partida pela falta de alternativas. Para os clubes, a
questão é simples: partidas de turno, até mesmo sendo um clássico, são sinônimo
de um prejuízo com o qual ninguém quer arcar.

O Vasco queria que o duelo marcado para o dia 18 deste
mês tivesse torcida dupla. Vice-presidente de quadra do clube, Fernando Lima até
chegou a levar o Major Silvio Luis, do Grupamento Especial de Policiamento de
Estádios (GEPE), para vistoriar o local. O Major constatou que o local reunia
as condições necessárias para a realização do evento, recomendando, no entanto,
a instalação de grades para separar torcedores rivais. Depois, diante a
informação de que as barreiras não poderiam ser fixadas no chão, o Major teria
recomendado informalmente que o jogo não ocorresse naquelas condições por
questões de segurança.

Caso fossem instaladas, as grades provisórias gerariam
ao Vasco um custo aproximado de R$ 15 mil, uma parcela até pequena diante do
montante estimado pelo time para custear todas as despesas referentes ao jogo.
Tendo o aluguel da Arena como principal custo, a estimativa para a realização
do evento girava na casa de R$ 200 mil. Como as arenas olímpicas ainda estão
fechadas e não são opção para os jogos, a partida precisou ser adiada.

+ Vasco diz ter sido desaconselhado por Gepe a realizar jogo com Fla na Arena
+ Por falta de ginásio, clássico entre Vasco e Flamengo será remarcado
+ Briga, punição, W.O. e título; as confusões de Flamengo x Vasco no Carioca
+

Arena da Barra era a primeira opção do Vasco para a partida pelo NBB

– O nosso objetivo como mandante e também era o objetivo
da liga era fazer um jogo de torcida dupla. Levamos também o Major Silvio, do Gepe.
Chegou lá, ele não disse que poderia fazer torcida dupla, mas falou que, com algumas
barreiras, talvez pudesse acontecer o
jogo. E o custo de tudo isso seria 15 mil. A arena estaria completa, totalmente
aberta. O custo foi R$ 199 mil, é o que a gente tem, mais nada. A liga achou
muito caro, a gente também. E não acredito que sendo um jogo do turno a gente
consiga botar 15 ou 10 mil pessoas lá, mesmo sendo torcida dupla. Independentemente
disso, estava com vontade de viabilizar, mas o Gepe não aconselha por causa das
barreiras, porque as barreiras físicas têm que pregar no chão, mas lá tem essa dificuldade.
Parece que no Rio, infelizmente, não há em nenhum lugar de fazer jogo com
torcida dupla. Eu teria que levar o piso do basquete eu teria que levar, é um
outro custo que eu tenho. Em torno de uns R$ 20 mil reais, desarmar e rearmar.
Se o Gepe tivesse liberado, talvez a gente fizesse mesmo com esse custo. A
gente estava procurando patrocínio, já que talvez tivesse TV aberta, fechada – disse Fernando
Lima, vice-presidente de Quadra e Salão do Vasco.

Segundo o regulamento do NBB, o clube mandante é responsável por
uma série de detalhes para a realização do jogo. Segurança, confecção de
ingressos, taxas e tributos oficiais, médicos e pagamento da taxa de arbitragem (referente ao trabalho oito profissionais ao custo total de R$ 2600) são algumas das responsabilidades de quem organiza a partida,
encarecendo ainda mais os custos em uma grande arena.

– É lamentável, muito frustrante todo esse legado
olímpico e, no final, a gente não pode usar para ter um jogo Vasco e Flamengo.
Uma decisão de campeonato, acredito que consiga bilheteria para fazer face a
esses jogos. É um jogo com prejuízo. O Flamengo está há mais tempo nisso. Diferentemente
do Vasco, a torcida já está habituada a ir ao basquete. Nós tivemos momentos muito
bons há muito tempo, hoje estamos voltando. Com certeza, jogo de turno é
prejuízo. Nesse preço que a arena está cobrando, além do aluguel, tem que ter
um posto médico, ter ambulância, arbitragem, montagem da quadra, segurança,
isso você não consegue fazer 40 e 50 mil reais por jogo. Eu estou começando com
isso, o Flamengo já fez mais vezes. (O ginásio) tem segurança deles, mas nós do
Vasco não vamos sem nossa segurança nunca. Torcida de futebol é outra situação,
nossa segurança já sabe como lidar. As seguranças dos dois times trabalham em
conjunto. O interesse é a segurança, eles sabem como lidar e se entendem. Essas
coisas não existem – afirma Fernando.

A preocupação do dirigente vascaíno encontra voz do lado
rival. Marcelo Vido, diretor-executivo
de Esportes Olímpicos do Flamengo, dá razão às preocupações de Fernando Lima.
Com a experiência do time rubro-negro em organizar jogos decisivos e de
temporada regular em arenas alugadas, o dirigente admite o risco de prejuízo da
equipe mandante.

A GL Events, empresa francesa que possui a concessão do local, não informou os valores referentes ao aluguel, mas o GloboEsporte.com apurou que, caso o clube queira que toda a arquibancada seja aberta, pode ter que desembolsar R$ 150 mil. Se apenas o anel inferior for utilizado, a conta cai para R$ 100 mil.

Em
uma partida de fase de classificação, os ingressos custam em média entre R$ 30 e R$ 40. Nas
contas de Vido, mais de 80% dos pagantes compram a meia-entrada. Para cobrir os
gastos, então, seria preciso que entre cinco e dez mil torcedores pagassem para
assistir ao jogo, dependendo do valor. No mínimo.

Neste ponto, o torcedor pode questionar se realmente não há apelo para tal em um jogo entre dois clubes de camisa. Ambos os times acreditam que não. A logística para chegar à Barra do Tijuca é citada como um problema, e experiências anteriores mostram que até as finais sofrem com baixo público.

Na segunda partida da decisão
da temporada 2014/2015, contra o Bauru, por exemplo, foram apenas 4.033 pagantes, mais de 81% com ingressos de meia entrada.
A arena recebeu ainda mais de mil gratuidades, entre idosos, cortesias e convidados. A conta não fechou.

– Fica o risco muito grande do clube de não conseguir
pagar a conta. Temos que fazer várias coisas, buscar patrocinadores. Mas o
custo é muito alto. No futebol, também. Há quatro anos que o Flamengo reclama
dos custos altos. Jogar em Brasília é muito mais barato em termos de operação que
jogar no Maracanã. Jogar no Rio é muito difícil. Quando você faz um show de
música, você pode cobrar R$ 200, R$ 300 ou R$ 400 reais. Mas em um jogo, não.
Numa fase regular, você vai cobrar R$40, R$30, com meia-entrada. Não pode
cobrar muito caro. Numa final, você coloca mais, lógico. O apelo é único. Mas,
mesmo assim, em um primeiro jogo numa melhor de cinco, não enche tanto. Foi
pelo custo que o Rio de Janeiro (equipe de vôlei da Superliga feminina) deixou
de jogar no Maracanãzinho e foi para o Tijuca.

No histórico da equipe dentro do NBB, Vido diz ter
acumulado experiências positivas e negativas ao mandar os jogos na em ginásios
maiores. O dirigente diz que tentou até o fim jogar o a partida 3 da final do
Estadual no Maracanãzinho, mas a conta não fechou. Assim, definiu o jogo para o
Tijuca Tênis Clube à revelia do Vasco, que decidiu não entrar em quadra.

– Nós temos uma experiência de quatro anos com bons
resultados, financeiramente falando. E outras com maus resultados. Temos
experiências de todos os tipos, tanto na Arena da Barra como no Maracanãzinho. Mas
a maioria delas foi em finais, com o apelo muito grande. Final do Carioca
poderia ter sido uma boa final, com duas torcidas, e, no ponto de vista
financeiro, tendo bons resultados. Desde que fosse bem divulgada, sem problemas
de violência, mesmo sendo cara a locação. Porque o apelo é maior, você pode
aumentar um pouco o ingresso. A conta fecha, sim. Agora, num jogo de fase de
classificação, as contas devem ser muito bem-feitas, fazer uma divulgação muito
grande para não ter risco de tomar prejuízo. Todos estão apertados hoje.

A Rio Arena foi considerada a opção mais viável para a partida, mas não era a única. Tanto Vasco quanto Flamengo preferiam jogar no Maracanãzinho, que possui uma localização mais central e maior gama de transportes. Mas uma vistoria mostrou a inviabilidade de se utilizar o local, considerado abandonado por quem o viu pessoalmente. Apesar de o aluguel ser mais barato do que o da Rio Arena, o clube mandante precisa levar para o local o piso da quadra, tabelas e placares, o que torna o custo total muito mais elevado.

As Arenas Cariocas 1, 2 (utilizada pelo Flamengo na final do NBB 2015/2016 – relembre no vídeo abaixo) e 3, que poderiam ser uma alternativa, estão em uma espécie de limbo. O processo de licitação para administração do Parque Olímpico foi adiado cinco vezes para que o Tribunal de Contas do Município detectasse no edital possíveis desvantagens aos cofres públicos. O objetivo inicial era anunciar o nome da empresa para que ela assumisse o espaço já em janeiro de 2017. Mas apenas uma empresa se mostrou interessada.

Pelo projeto, a Arena Carioca 1, o Velódromo e o Centro de Tênis teriam exploração comercial, e as Arenas Cariocas 2 e 3 virariam, respectivamente, um ginásio experimental olímpico e um centro de treinamento de alto rendimento. Vice-presidente de esportes do Flamengo, Alexandre Póvoa lamenta que o dito legado olímpico não seja tangível para os clubes do Rio.

– O Maracanãzinho é inviável porque a situação é precaríssima. As três arenas cariocas ficam num jogo de empurra. A Prefeitura diz que o (Comitê) Rio 2016 não devolveu, o Rio 2016 diz que está com a Prefeitura. Na Rio Arena você chega e joga, mas tem esse custo. É uma situação que envergonha qualquer cidadão. Você tem cinco arenas que abrigaram finais olímpicas, mas com quatro delas você não sabe nem com quem falar. O Brasil foi muito bem organizando os eventos, mas o legado esportivo é uma tragédia absoluta. São equipamentos pagos com dinheiro público, em que poderia haver pelo menos um modelo misto, como Barcelona, com a população usando de manhã. Mas o dinheiro do contribuinte é usado para depois o equipamento ser terceirizado. É frustrante para quem pensa em legado para o esporte brasileiro, para expandir o esporte em massa – disse Póvoa.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/basquete/nbb/noticia/2016/12/quem-paga-fla-x-vasco-sem-casa-expoe-arena-cara-e-temor-de-prejuizo.html

Share this content: