Querido 2016

Antes de começar, eu queria que você não entendesse essa manifestação como uma crítica. Na verdade, passei aqui para deixar minhas impressões, pra cobrar, mas também para agradecer.

As coisas não têm sido fáceis, a gente entende. Foram muitos anos sem qualquer seriedade, sem sinal algum de respeito ou responsabilidade com o nosso Flamengo. Seria injusto que você pagasse o pato sozinho.

Admito que você começou me trazendo duas sensações opostas e ingratas. Muricy não me soava bem aos ouvidos, mas sua vinda me parecia uma garantia de competitividade. O problema é que o nosso professor “aqui é trabalho” se encantou por um modelo de futebol que ele nunca soube, pelo menos como técnico, como realmente funcionava.

As decepções começavam a se empilhar, ainda que de maneira leve, mas eu ainda achava que quando a coisa apertasse, o ferrolho eficiente do velho Muricy ressurgiria, nos trazendo ares mais competitivos. Os erros de planejamento também foram complicados e difíceis de engolir.

Começamos o ano com alguns jogadores contestados seguindo sem que nossos apelos fossem ouvidos. Algumas falhas gritaram, como a ausência de zagueiros no elenco e a reintegração de um zagueiro que havia tido sua dispensa antecipada. Tudo parecia ruim, tudo parecia ruir. Eu quase conseguia ouvir a famosa música do Ney Franco.

Contratações emergenciais, princípio de crise num Flamengo que parecia se desgovernar. A saúde de Muricy não ajudou seu trabalho, mas parece ter sido a escrita certa por linhas que vinham tão tortas. Como arranjar um novo comandante? Medalhões especulados, um interino tampão e um princípio de organização tática interessante, mesmo com uma Copa do Brasil no ralo.

Zé Ricardo assumiu aos poucos… Uma goleada mentirosa, uma tesourada dolorosa e um desperdício covarde num clássico deixaram no ar um clima de dúvida e desconfiança, mas já evoluíamos. Em meio a um ciclo de melhoras, o flerte com o G4, que ainda não era G6, deixava a torcida numa suspense agradável.

Com a melhora, veio um terremoto, uma paquera antiga parecia querer virar namoro. Flerte nas redes, olhos na televisão, Golpe Militar na Turquia e perseguição nas timelines. O sonho era realidade. Sacudimos o mercado. A torcida em festa, a imprensa ressentida e um orgulho que não cabia no peito.

O namoro com Diego começou intenso e segue como um conto de fadas. Mesmo com nosso ano itinerante, transformamos aeroportos em estádios e provamos, mais uma vez que o Brasil é pequeno pra nós. Jamais seremos visitantes. Nunca deixaremos de nos sentir em casa. Mais do que verde amarelo, o país é vermelho e preto.

A grande peça encaixou e com ou sem desgaste, seguíamos em frente numa caminhada que parecia histórica. O cheirinho ficou forte, tiraram de nós a condição de surpresa e todos viram o quanto incomodamos.

Voltamos pra nossa terra prometida. Parece que voltamos sem muito fôlego. A temporada cobrou certo preço, é verdade. Mais que isso, a ousadia da solução caseira e jovem também pareceu cobrar seu preço. Nós estávamos prontos, sempre estamos. Zé e o elenco ainda não.

Mesmo assim, eu tô aqui agradecendo, meu querido 2016. Você pode ir em paz. Será bem lembrado, mesmo sem nenhum caneco. Que 2017 chegue sabendo que ser bom, como você foi, não basta. Só a Glória imortaliza, é ela que nos move, que nos comove. Tenho certeza de que o ano que chega sabe bem disso. Mas você foi bem interessante, 2016. Bem interessante!

Thigu Soares
Twitter: @thigusoares

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2016/12/querido-2016/

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