Sorriso aberto: Garoto vê ídolos do Fla, assiste a jogo e faz pedido a Guerrero

Todo mundo quer escrever a própria história. Nem sempre a linha é reta ou a letra bonita, mas cada um tem, certamente, uma dose de sonho, de dedicação, de amor. Correndo atrás da caneta para dar voz ao coração, Tiago Rebouças, de dez anos, registrou em vermelho e preto uma paixão certa: o Flamengo. A equipe enfrentou o Ceará nesta terça-feira (23), na Arena Castelão, pela Primeira Liga. Mas o empate sem gols não desbotou o sorriso do garoto que, desde o início do dia, traçava na cabeça a ideia de ver um jogo do Mengão pela primeira vez no estádio. Além disso, entrar em campo com jogadores e aproveitar a proximidade do aniversário para fazer um pedido a Guerrero.

Aprendemos a escrever seguindo pontilhados. No caderno de caligrafia, muitas linhas retas e possibilidades, inclusive a do improvável. Foi ali, bem ali, onde o improvável se escondia, que ele declarou, sem timidez, Flamengo “é no sangue” (veja vídeo acima). A voz de Tiago percorreu o Brasil e chegou ao clube carioca. De lá, um convite para ele e a família assistirem ao jogo no Castelão. A expectativa trouxe muitas perguntas.

– Será que se eu pedir autógrafo eles dão? Eles dão roupa para criança que entra no estádio? Tu deixa eu te perguntar uma coisa? Na hora que canta o Hino, para onde nós vamos? Porque o urubu não está aqui? Tu ainda está escrevendo? Tu tem caneta para me emprestar? Estou emocionado – disparou, com celular e uma camisa antiga em mãos.

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Antes, no início do dia, a mãe estava preocupada. Não queria “assustar” o filho com a notícia de que seria convidado do Flamengo para ver o jogo. Evitou falar até que voltasse da aula, mas, esperto, Tiago descobriu mais.

– Ele chegou e foi olhar o celular. Viu que o assessor do time havia mandado mensagem avisando. Ele olhou pra gente e perguntou “Mãe, é verdade? É verdade, a gente vai” e começou a chorar – relembrou a mãe, emocionada.

“Alô torcida do Flamengo, tamo chegando!”

Cada um tem um ritmo próprio na hora de escrever. O ritmo de Tiago era o da contemplação, do deslumbramento. Recebido pela assessoria do clube, logo encontrou outras crianças. Não demorou muito para que se sentisse à vontade. Ali, o vermelho e preto uniam e explicavam, sem garranchos, a genuína paixão de torcedor.

– A paixão pelo Flamengo é de família. Meu pai sempre gostou do Flamengo, tem até uma blusa aqui dele, e aí passou pra mim. Agora a energia é… É tipo, assim, o pai passando para o filho, que nem corrente sanguínea! A corrente dele é igual a minha. Aí eu me apaixonei. Perdendo, eu torcia. Ganhando, eu torcia – relembrou com maturidade, apesar dos 10 anos.

“O sapato desamarrou na hora do Hino Nacional, mas vou é seguir em frente. Vou curtir o jogo”, confessou. Ele entrou no campo de mãos dadas com Lucas Paquetá. O meia de 19 anos foi autor de um golaço contra o Madureira, pelo Cariocão. Em um jogo que não foi lá muito bonito de se ver, a beleza estava mesmo na arquibancada, no grito da torcida. No coro, Tiago com a família. O pai, Sandro, não escondia a felicidade.

– Ele tá feliz. É uma emoção muito grande. Ele nunca teve essa oportunidade. Fico mais feliz porque está perto do aniversário dele – relembrou o pai.

´”É emocionante!”

Os gritos de “quase” ficaram entalados. Paquetá, Adryan e Vizeu tiveram boas chances. Nas mãos de Muralha, boas defesas. Nas mãos de Tiago, um celular para registrar e uma blusa antiga para conseguir autógrafos. Era a chance de eternizar parte da noite de alegria.

– O estádio é legal, bonito e a torcida é alegre, como devia ser toda torcida. É emocionante, sem explicação. Teve vez que o susto veio, depois passou. Vai! Vai! Uhh… Muita tensão. Agora foi que meu coração disparou mesmo. – gritava o garoto em meio a torcida, após chute forte de Cafú, no segundo tempo.

Cada dia é uma chance de contar a própria história. É lembrança que fica na memória do tempo, mora no decorrer da vida. “Tem caneta para me emprestar?”, me perguntou. “Tenho. Tá falhando, e agora?”, respondi. Ele se preocupou. Pediu para testar, sem sucesso. Escrever, talvez, seja isso de ser a caneta, protagonista da própria história. Ir lá e fazer, tentar, acreditar. Persistência era a palavra que nascia.

“Guerrero sem explicação”

Por ali, passeavam sonhos de quem deseja ser jogador de futebol. Na escolinha, joga no setor ofensivo. Isso explica a admiração por Lucas Paquetá e, principalmente, Guerrero. O jogador peruano, foi poupado para o jogo contra o Vasco, como quase toda a equipe.

– Gosto muito do Guerrero. Já vi muitas vezes pela TV e o jogo dele não tem explicação. Gosto do futebol dele, dos dribles, de tudo. Guerrero, eu quero te conhecer. Tô feliz por ter vindo e triste porque não te vi. Ele e o Paquetá me inspiram muito – confessou.

Ele não esconde a admiração pelo jogador e não faz cerimônia sobre isso. Sem piscar, aproveitou a proximidade do aniversário (na sexta-feira, 23) e mandou o recado. É persistente, o rapaz. As expectativas contornavam a arquibancada da Arena, que testemunhavam a felicidade de quem assume que “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.

O pai, Sandro, trouxe uma caneta. Mas a história passou a ser escrita no momento em que o amor pelo time não se escondeu. “Seja na terra, seja no mar”, ganhou o coração de muita gente pelo Brasil. Ele se revelou. Nos gritos, nos olhos marejados, no sorriso espontâneo, no livro de sonhos do Tiago. Em mãos, um celular, a blusa antiga e uma caneta. Todo mundo quer escrever a própria história. A letra, não importa. O valor está na tentativa. Por amor, Tiago tentou e conseguiu mais um bonito capítulo.

“Queria que essa camisa fosse toda preenchida de autógrafos. Todos me deram autógrafos”

Fonte: http://globoesporte.globo.com/ce/noticia/2017/02/sorriso-aberto-garoto-ve-idolos-do-fla-assiste-jogo-e-faz-pedido-guerrero.html

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