Sucesso de Fábio nos pênaltis passa por trabalho de dupla ex-Flamengo

Dois dias antes da final da Copa do Brasil, o preparador de goleiros Robertinho, do Cruzeiro, antecipava um fator-chave na definição do título. “Minha única preocupação é com o emocional do goleiro. A cabeça”, disse, em entrevista ao jornal “Superesportes”. Na emoção pós-disputa de penalidades, Fábio, que virou herói da conquista mineira, garantiu ter sido “guiado por Deus” para defender a cobrança de Diego, do Flamengo. Questões religiosas à parte, um elemento fundamental no desempenho foi a ciência da estatística. A escolha de lado não foi mero cara ou coroa.

O próprio Fábio mencionou ter sido orientado com vídeos de cobranças de pênalti de jogadores do Flamengo. O principal responsável por isso é Rafael Vieira, coordenador do departamento de análise de desempenho do Cruzeiro.

Coube à sua equipe a missão de mapear o padrão dos jogadores rubro-negros, dando a Fábio mais elementos para tomar suas próprias decisões nos chutes. A estratégia se mostrou mais eficaz do que a adotada por Alex Muralha, que admitiu, depois do jogo, ter decidido pular sempre no mesmo lado.

O meia Thiago Neves, que converteu a última cobrança do Cruzeiro, chegou a dizer que sentiu-se mais tranquilo nesta disputa por pênaltis do que na anterior, contra o Grêmio, na semifinal. Já o goleiro Fábio, além de defender a cobrança de Diego, quase impediu que Guerrero convertesse o primeiro chute.

— Na hora do pênalti, você tem que decidir se vai continuar fazendo o que viu no vídeo. Tem hora que você alterna um canto ou outro porque no vídeo tem três opções, o cara bate na esquerda, direita, no meio — disse Fábio.

Confiante após o título, Fábio pleiteou até vaga na seleção brasileira.

— O Tite está fazendo um grande trabalho. Se ele precisar de goleiro, pode me chamar — declarou.

Por ironia do destino, tanto o analista Rafael quanto o preparador Robertinho são velhos conhecidos do Flamengo. O primeiro foi trazido ao clube carioca em 2013 por Mano Menezes. O segundo treinava os goleiros rubro-negros no título brasileiro de 2009. Foi dispensado no ano seguinte, e desde então está no Cruzeiro. A trajetória de Rafael em Minas é mais recente: chegou em 2015, de novo indicado por Mano.

CIÊNCIA DOS PÊNALTIS

Há quem diga que a responsabilidade dos goleiros é defender somente os pênaltis mal batidos. Outros, como Fábio, explicam as defeses como um misto de análise prévia e instinto. O paraguaio Santiago Rojas, do Nacional-PAR, que defendeu três pênaltis do Cruzeiro na primeira fase da Sul-Americana deste ano, tem uma explicação estatística diferente:

— Normalmente, dos cinco cobradores, quatro batem no mesmo lado. Só um muda. A mesma coisa aconteceu comigo contra o Cruzeiro: Hudson, Arrascaeta, Henrique e Alisson bateram no meu lado direito. Fabrício chutou no outro canto e perdeu — explica Rojas.

Ao menos na final da Copa do Brasil, a teoria de Rojas se confirmou. Os cruzeirenses Henrique, Léo, Hudson e Thiago Neves escolheram bater mais à esquerda de Muralha, enquanto Diogo Barbosa chutou no lado direito, alto. Entre os cobradores rubro-negros, Guerrero, Diego e Juan chutaram à direita de Fábio, e só Trauco variou o lado.

Na disputa por pênaltis da Sul-Americana, que acabou eliminando o Cruzeiro do torneio continental, o paraguaio Rojas também bloqueou as cobranças de Alisson e Arrascaeta. Nesse caso, segundo o goleiro, é determinante não perder o batedor de vista desde seus primeiros movimentos.

— Eu vejo pelo rosto. Alisson colocou a bola na marca e se posicionou sempre olhando para a direita. Quando partiu, eu sabia que ele ia chutar para aquele lado. Mas se batedor olha apenas uma vez para a direita, por exemplo, sei que vai chutar na esquerda.

Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/sucesso-de-fabio-nos-penaltis-passa-por-trabalho-de-dupla-ex-flamengo-21885315

Share this content: