“The offside machine”

O Fla-Flu #404 tinha tudo pra ser memorável. Os dois times precisando da vitória, a chapa quente da reta final do Brasileiro, a rivalidade ancestral. Mas se agora, menos de 12 horas depois que acabou, ninguém mais quer falar do jogo, imagina amanhã. Até lá já esqueceram que o Flamengo martelou o Florminense durante todo o tempo, não deixou elas ficarem com a bola, perdeu um caminhão de gols e se impôs pra caramba, como real postulante ao título que está acabado com as noites de sono na Porcolândia.

Infelizmente o ser humano é barraqueiro, gosta de tumulto e desarmonia, é atraído pela tragédia. Porque é divertido pra caramba quando não é com a gente. Esses seres humanos maravilhosos, já já esquecem que o Flamengo fez o seu dever de casa, ganhou mais um jogo foda e deu outro passo gigantesco rumo ao Hepta. Ano que vem, quando estivermos disputando a Libertadores ou a Champions League (nunca se sabe) o povo só vai lembrar que rolou o maior conflito no finalzinho do jogo, que o Flor chorou muito, mas que o maior peso atômico do Manto Sagrado se impôs e a justiça foi feita em Pindorama! Aleluia, irmãos! Nem tudo é ruína nas instituições nacionais.

As fluminense todas chora, porque o Flamengão Malvadão ganhou roubado. Fala sério, colega. Para que tá feio. Fosse verdade esse delírio persecutório e o Flamengo seria o 1º time no mundo que ganhou roubado porque o juiz, os bandeirinhas, o 4º árbitro e até o Luiz Carlos Jr (meio a contragosto) acertaram na aplicação da regra. Aceitem que dói menos e parem de dar detalhe.

Até o figurinista do Flor, que não é de prestar muita atenção no jogo, viu que no lance capital a sagacidade da zaga do Flamengo, a melhor defesa do Brasileiro, popularmente conhecida como The Offside Machine, deu o passo à frente na hora certa e deixou todo o ataque do Flor em clamoroso impedimento. Eu também vi, ninguém me contou. Na hora que bateram a falta tava geral lá no agrião; Wellington, Cícero, Magno Alves, Gum, Chico Buarque, Tony Platão, Pedro Bial e Serginho Malandro. Eu estava atento, vi até a veneranda Fernanda Montenegro se colocando no segundo pau. E absolutamente todos eles estavam muito impedidos, razão para o bandeira ter caguetado na hora e para o juiz ter acertadamente anulado aquele gol irregular, impuro, inconcesso e extrajurídico. Um gol muito roubado, que o mané do apito, depois de ouvir a gritaria das meninas, desanulou.

Minha gente, o Fla-Flu é um clássico mundial, televisionado para mais de 180 países e o Vaticano. Mesmo se o cara estivesse mal-intencionado, a serviço das forças ocultas que trabalham com a S.P.C.T.R.E. pela destruição do Flamengo e do mundo livre, não tinha como validar um gol ilegítimo daqueles. Seria um escândalo até para os liberais padrões brasileiros de tolerância cleptocrática. A validação de um gol com tal grau de ilicitude no principal campeonato do país poderia até levantar suspeitas internacionais de que no Brasil não há estabilidade jurídica, por não termos um regime 100% democrático referendado pelo voto popular. Felizmente a luz da consciência cívica afastou as trevas do arbítrio e o retardado do Sandro Meira Ricci voltou atrás de sua voltada atrás. Não era nem besta de não voltar.

Até agradeço a imperícia do árbitro FIFA, porque se não fosse o talento natural do Sandrão para a bufonaria, e a do Florminense para o burlesco-transformista, nós não teríamos tido a oportunidade de desfrutar daquele furdunço mara no gramado do Raulinão. Palmas pro cerimonial do Florminense, que convocou a PM, o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e o Ministério Público pra invadir o gramado ao lado da ínclita diretoria tricolor e avacalhar o espetáculo como se fosse uma pelada daqueles Cariocas fajutos dos anos 90. Só faltaram as cheerleaders agitando uns tapetinhos 3B-Rio e o Januário de Oliveira gritando – Cruel! Cruel!. Papa-goiabas, levantem de seus túmulos. Caixa D´Água não morreu!

Ganhar delas é sempre legal. Mas ganhar delas com direito a faniquito completo e ameaças de anulação do jogo é apenas sensacional. Faço um apelo ao nosso mandatário: nada de acordos, presidente Bandeira! Estamos, como sempre, do lado do bem, da lei e da ordem. Vamos às barras dos tribunais, queremos ganhar do Florminese no tapetão!

Mengão Sempre

Arthur Muhlenberg
República, Paz & Amor

Fonte: República, Paz & Amor

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