Títulos, altos e baixos: quem foi Diego em 12 anos de futebol europeu

Foram cinco países e seis clubes. Diego tinha apenas 19 anos
quando deixou o Santos como um talento precocemente revelado e iniciou sua
trajetória pela Europa. Em 12 anos, conquistou títulos mas viveu momentos de
baixa. Agora volta ao Brasil para defender o Flamengo com experiência e
confiança em seu próprio talento, mas com certeza será um jogador bem diferente
daquele que surgiu na Vila Belmiro. Quem é o Diego que causou frenesi na torcida
rubro-negra quando desembarcou no Rio de Janeiro e foi apresentado
oficialmente?

O GloboEsporte.com ouviu jornalistas que acompanharam Diego
pela Europa com o objetivo de entender a trajetória do meia nestes 12 anos e
saber sobre seu desempenho (assista ao vídeo abaixo). Além disso, foi possível conhecer o jogador, agora com 31 anos, pela
visão de alguém que conviveu diretamente com ele em sua passagem pela Turquia, a última
escala antes de desembarcar nos braços da Nação.

O que será que um vascaíno declarado poderia falar dos
últimos tempos da carreira de Diego? Depende, se o torcedor for o jogador
Souza, revelado em São Januário, Diego está muito bem na fita. Ex-jogador do
Grêmio e do São Paulo, o volante de 27 anos conviveu o último ano inteiro com o
novo camisa 35 do Flamengo e atesta:

– Quando adquirir a melhor forma física vai fazer a
diferença – diz o jogador do Fenerbahçe.

Fã de Diego desde que viu o garoto da Vila despontar no
Santos com 16 para 17 anos no Brasileiro de 2002, ao lado de Robinho, Souza
lembra, evidentemente, que, aos 31, as arrancadas já não são assíduas em 90
minutos, mas o talento para desequilibrar é igual. E ainda com a bagagem de 12
anos no futebol europeu, com disciplina tática.

– Ele pode ter pequena vantagem em cima dos demais jogadores
do futebol brasileiro, porque taticamente evoluiu bastante. Hoje em dia marca
muito mais do que quando tinha 16, 17, 19 anos. Adquiriu essa mentalidade na
Europa. Se o treinador quiser, ele é acessível, ouve e obedece instruções. Mas
é óbvio que não se deve esperar aquele Diego que começou no Santos, com
arrancadas durante 90 minutos, correndo igual maluco. Hoje, ele é muito mais
cabeça do que correria. Continua pensando muito, é muito inteligente para
jogar, mas consegue dosar, moderar, para nos momentos certos fazer a diferença.
Vai conseguir colocar jogadores do Flamengo na cara do gol – afirmou Souza,
acrescentando qualidades de líder a Diego, que cobra, conversa e incentiva.

Confira abaixo como foi a passagem de Diego pela Europa nos
últimos 12 anos

Em 2004, o Porto foi a primeira parada de Diego na Europa.
Antes dos 20 anos e recém-campeão brasileiro pela segunda vez, o meia chegou
para compor a equipe que acabara de conquistar a Liga dos Campeões. Conquistou
títulos relevantes, como o Mundial de Clubes de 2004, o Campeonato Português e
a Taça de Portugal, ambos na temporada 2005/06. Mas jamais passou perto de ser
um protagonista da equipe.

“Não há outra forma de dizê-lo: Diego não
foi feliz no Porto. Chegou a Portugal com quase 20 anos, naquela que foi a sua
primeira experiência na Europa, mas encontrou um (grande) problema chamado
Deco. Os torcedores, especialmente eles, esperavam encontrar um novo Deco, mas
Diego não era, nem nunca chegou a ser, um jogador agressivo e intenso,
sobretudo do ponto de vista defensivo. Com bola foi sempre um craque, mas sem
ela tudo se tornava mais difícil. A comparação com Deco acabou por prejudicá-lo
e depois de ter sido titular na primeira temporada – o Porto deu de presente o Campeonato
Português para o Benfica depois de ter conquistado a Liga dos Campeões -,
perdeu espaço na segunda, quando a equipe reconquistou o título. Tendo em conta
o pouco rendimento de Diego, o Porto, que se habituou a valorizar jogadores,
optou por vendê-lo ao Werder Bremen, em 2006, precisamente pelo valor que o
tinha comprado do Santos.”

Pedro Marques Costa, do jornal português “O
Jogo”

A temporada 2006/07 foi o primeiro grande momento de Diego
na Europa. No Werder Bremen conseguiu ser um dos principais nomes da equipe que
terminou em terceiro lugar no Campeonato Alemão. No entanto, o meia foi eleito
o melhor jogador da competição. Em sua terceira temporada no clube (2008/09),
Diego levantou a Copa da Alemanha e, valorizado, acertou sua transferência para
a Juventus.

Seu retorno à Alemanha ocorreu em agosto de 2010, quando foi
comprado pelo Wolfsburg, mas desta vez, com um desempenho bem diferente da
primeira passagem pelo país. O primeiro atrito foi com o técnico inglês Steve
McClaren, que decidiu multá-lo em 100 mil euros por tê-lo desobedecido ao
cobrar (e perder) um pênalti que havia sofrido. Alguns meses depois, Diego deixou a
concentração do time na véspera de uma partida ao saber que não seria titular.
O Wolfsburg venceu, fugiu do rebaixamento, e o brasileiro foi
novamente multado, agora em 500 mil euros.

Logo depois, Diego foi emprestado ao Atlético de Madrid e
retornou ao Wolfsburg para a temporada 2012/13. Teve um bom desempenho
individual, apesar de mais uma vez a equipe não ir bem nas competições. Diego
encerrou sua trajetória no clube em janeiro de 2014, quando voltou para a
Espanha, agora em definitivo no Atlético de Madrid.

Na chegada à Juventus, Diego estava em alta e tinha traçado o objetivo de fazer uma longa trajetória num dos maiores clubes do mundo. Mas ficou apenas um
dos cinco anos programados. Seu início foi promissor, com gols e assistências.
Foi embora ao fim da temporada 2009/10 sem deixar saudades.

“Diego vinha de uma ótima temporada na Alemanha, e por isso
a Juventus pagou um valor alto por ele, numa época em que o clube não estava no
patamar financeiro de hoje. A expectativa era alta por um jogador ainda novo (24 anos).
Diego começou bem o Campeonato Italiano. Logo na segunda rodada, marcou dois
gols da vitória por 3 a 1 sobre a Roma fora de casa. Mas ao longo da temporada
não se encaixou num time que também não estava bem. Diego não rendeu o esperado
e, por isso, foi vendido.”

Dani Monti, jornalista italiano

No Atlético de Madrid, Diego teve o capítulo mais curioso de
sua trajetória na Europa. Teve conquistas importantes – sendo uma europeia –,
mas viveu maus momentos com o técnico Diego Simeone. Na primeira passagem,
ainda emprestado pelo Wolfsburg, foi um dos principais nomes da conquista da
Liga Europa (2012). No retorno, no início de 2014, mesmo sem se firmar entre os
titulares, ficou marcado pelo golaço sobre o Barcelona que ajudou a equipe a se
classificar para a semifinal da Liga dos Campeões. A derrota para o Real Madrid
na decisão não apagou o desempenho do Atlético na temporada, coroado com o título
espanhol. No entanto, fora de campo as coisas não correram da melhor forma.

“Diego foi uma grande esperança para a torcida do Atlético.
Há anos não chegava ao clube um jogador daquela qualidade. Juninho Paulista e
Valerón haviam sido os últimos. Em sua primeira passagem, foi um jogador
importante, pois Simeone conseguiu que seu talento estivesse a serviço da
equipe. Com a qualidade de Diego e os gols de Falcao, o Atlético venceu a Liga
Europa. A segunda passagem de Diego não foi tão boa. Ficou evidente que não
havia um entendimento entre ele e o técnico Simeone. Como a relação não era
boa, Diego jogou pouco. Mesmo assim, marcou um dos melhores gols de sua
carreira – contra o Barcelona no Camp Nou pela Liga dos Campeões. A torcida
sempre esteve com Diego, mas tudo acabou porque Simeone não confiava mais nele,
e Diego não confiava mais em Simeone. Esse final foi uma pena.”

Jorge García, do jornal espanhol “AS”

Em duas temporadas, no Fenerbahçe, Diego marcou apenas cinco
gols em pouco mais de 50 jogos. A expectativa em sua chegada foi alta, pois
houve a esperança de um novo camisa 10 brasileiro que fosse capaz de substituir
Alex, um dos maiores ídolos da história do clube. Sem conseguir se firmar entre
os titulares, o meia teve uma passagem apagada e deixou a Turquia um ano antes
do fim de seu contrato, com uma rescisão amigável antes de seguir para o
Flamengo.

“Quando ele chegou no Fener havia expectativa muito alta da
torcida. O Alex, outro brasileiro, era o ídolo. Mas logo no início as coisas
não deram muito certo. Acho que pode ter sido problema de adaptação, pois ele
sempre foi respeitado por aqui. Se você me perguntar, para mim ele é um
excelente jogador. Mas às vezes as coisas não funcionam bem e foi o que
aconteceu. Não houve lamentação da saída do Diego pela torcida. Ele recebia
altos salários e pode abrir espaço para outro jogador de alto nível.”


Cansel Kemiksiz, jornalista turca

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2016/07/titulos-altos-e-baixos-quem-foi-diego-em-12-anos-de-futebol-europeu.html

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