Vizinhos em torno de nova casa do Flamengo brigam por paz em dia de jogos na Ilha

Quarta-feira à noite; jogo de Libertadores; adversário argentino e uma massa de rubro-negros. Cenário de terror para muitos insulanos, que moram perto do Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, que vai receber a estreia do Flamengo contra o San Lorenzo na competição no dia 8 de março. E outros tantos jogos do time nos próximos três anos. Um grupo de moradores, principalmente do Condomínio Santos Dumont, tentou impedir a realização das partidas no local, via abaixo-assinado, porém, já se contenta com a redução dos transtornos.

Nas últimas semanas, houve encontros entre representantes do poder público, do clube e moradores, que sugeriram algumas soluções para problemas recorrentes em dias de jogos de times grandes. Como policiamento mais ostensivo, melhor ordenamento das ruas do entorno, locais específicos de estacionamento e a limpeza imediata das vias. Após a última reunião, uma comissão foi formada para tentar resolver os futuros problemas.

Titus Gomes é sindico do condomínio Santos Dummont e vê problemas nos dias de jogos e fez abaixo assinado Foto: Antonio Scorza / O Globo

Entre os participantes, o síndico do Condomínio Santos Dumont, Tito Gomes, uma das principais vozes contra a realização das partidas. Com mais de cinco mil moradores, e ruas internas que não podem ser totalmente fechadas, os moradores dos prédios da Rua Gustavo Augusto de Rezende já passaram por invasões, baderna, tiros e prejuízos. Ele, agora, espera, ao menos, ser ouvido. Reclama que, quando o Botafogo alugou o estádio ano passado, não houve nenhum contato.

– Não é adequado ter jogo aqui. São muitas reclamações dos moradores. Sei que dificilmente os jogos deixarão de ser realizados aqui, mas queremos nos resguardar caso alguma coisa aconteça – disse Tito, recordando as péssimas lembranças do passado recente. – Em 2005, quando o Flamengo enfrentou o Santos, pelo Brasileiro, um torcedor tentou sacar arma de um PM e acabou sendo morto. Alguns torcedores invadiram as ruas do condomínio e quebraram grades, carro e bancos de praça. Ano passado, no Botafogo e Grêmio, houve briga de torcida com a PM e o spray de pimenta foi utilizado para dispersar, mas também alcançou vários apartamentos mais próximos da rua.

Rosa Carvalho, do condomínio Sta Cruz, não vê problemas nos dias de jogos Foto: Antonio Scorza / O Globo

A desordem urbana também é apontada pelos insulanos. O uso de carros para o acesso ao estádio traz dois transtornos: o trânsito intenso, pois as ruas são estreitas e o estádio próximo à Estrada do Galeão, única entrada e saída da Ilha do Governador; e o excesso de flanelinhas, que chegam a ameaçar os moradores.

– Há muita baderna de torcida, brigas, casos de roubos de celular, a rua fica entupida de carro. É muito desagradável, sempre reclamamos com a associação dos moradores. Minha mãe tem 102 anos e atrapalha muito para dormir, pois o movimento vai até muito tarde nos jogos da noite – afirmou a aposentada Arnette Lima, de 69 anos, que mora há 30 anos na Rua Haroldo Lobo.

Por outro lado, há quem goste do ambiente mais "movimentado" proporcionado pelos jogos. Seja por questões econômicas ou só por diversão. O ambulante Danilo Gomes, de 34 anos, torce pelo Botafogo, mas comemora a vinda do Flamengo, que ficará com estádio por três anos. Espera vender bem mais a velha dupla "caldo de cana com pastel" em frente à entrada social.

– Sou botafoguense, mas com o Flamengo sei que vou ter mais dinheiro – brinca o ambulante, que mora em Realengo.

Danilo Gomes vende pasteis e caldo de cana diariamente e espera aumentar faturamento nos dias de jogos Foto: Antonio Scorza / O Globo

Moradores de condomínios bem próximos ao estádio, o professor Claudio Farinha, de 50 anos, e a dona de casa Rosa Carvalho, de 66, destoam da opinião dos vizinhos.

– É como se estivesse vendo o jogo ao vivo. Escuto o gol primeiro do que na rádio. Gosto do movimento e isso não tira minha privacidade. Admito que a entrada e a saída da Ilha ficam muito prejudicadas por causa do trânsito – argumentou Farinha.

– Sou Botafogo, e, ano passado, colocava minha bandeira na janela todos os jogos aqui. Nunca tive problemas. Agora, não vou torcer mais, mas gosto da animação – conta Rosa, que só reclamou de um evento de motocross no clube nos anos 90. – O barulho e a poeira eram insuportáveis. Reclamamos e o Ministério Público proibiu.

O professor Farinha gosta do movimento nos dias de jogos Foto: Antonio Scorza / O Globo

A Cet-Rio já está fazendo um novo planejamento para diminuir o impacto no trânsito local e divulgará em breve. O Grupamento Especial de Policiamento de Estádios (GEPE) espera as reformas do estádio ficarem prontas para realizar a vistoria antes de liberar o laudo de segurança.

– O local é bem parecido com outros estádios que ficam próximos a áreas residenciais, com ruas estreitas, como o Engenhão e o Giulite Coutinho. O maior problema é a entrada das torcidas por causa do trânsito – explicou o Major Silvio Luiz, comandante do GEPE.

O Flamengo tem se colocado à disposição dos órgãos públicos e dos moradores, porém reafirma que é responsável apenas pelo que acontece no interior do estádio. Quem deve cuidar das imediações é a PM, Guarda Municipal e CET-Rio.

Fonte: http://extra.globo.com/esporte/flamengo/vizinhos-em-torno-de-nova-casa-do-flamengo-brigam-por-paz-em-dia-de-jogos-na-ilha-20900566.html

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