O Flamengo sabia das condições precárias do alojamento do CT da base que pegou fogo e nada fez desde 2018, conforme troca de emails entre ex-funcionários do clube. As inconformidades nas instalações elétricas dos ar-condicionados foram apontadas em relatório finalizado em março de 2019, pela empresa Anexa.

No parecer enviado à atual diretoria do clube, ao qual O GLOBO teve acesso, são listadas uma série de irregularidades que permaneceram no contêiner após o incêndio, como provam fotos feitas no local.

Os documentos detalhados no relatório foram obtidos pela empresa com autorização do próprio Flamengo, que encomendou vistoria no CT ainda em fevereiro do ano passado.

O relatório ficou pronto em março e nunca foi divulgado. A Anexa exigiu acesso irrestrito às rotinas administrativas do Flamengo para emitir o parecer técnico sobre a possível cauda do incêndio, entre emails, documentos e profissionais do clube.

Na documentação apresentada não havia nenhua emissão de anotação de responsabilidade técnica (ART), obrigatória pela Lei 6.496/77 para as atividades técnicas de projeto e execução. Também não havia um aceite técnico referente às instalações contidas nos módulos do Ninho do Urubu.

O que a Anexa verificou foi que, dias antes do incêndio houve um chamado do Flamengo para um suposto incêndio em um dos equipamentos de ar. O clube chamou o senhor Edson Colman, conhecido como “Geladinho”, da emprsa Colman Refrigeração. Ele relatou manutenção na  fiação interna do aparelho, com substituição de algumas conexões. O aparelho danificado foi reinstalado no dia 7 de fevereiro, um dia antes da tragédia. Segundo a vistoria nos componentes que sobraram, os aparelhos de ar condicionado funcionavam aproximadamente 24 horas por dia.

Conforme a troca de emails entre os ex-funcionários Luiz Humberto, gerente de administração, e Marcelo Helmann,  diretor executivo da pasta, em 10 de maio de 2018 houve visita ao alojamento do técnico de segurança do Flamengo, acompanhado do profissional chamado apenas de Adilson, da empresa CBI. O senhor Adilson informou, segundo relatório da Anexa, “que a situação encontrada no módulo da base era de alta relevância e grande risco”.

Uma proposta de manutenção foi enviada a Flamengo ainda em maio de 2018 com os seguintes serviços: instalar um quadro de proteção, com os disjuntores e cabos dimensionados para a carga apresentada. Segundo vistoria, os cabos conectados aos disjuntores estava mem desacordo com as norma técnicas, pois eram inferiores à espessura. Foi constatado ainda que a corrente de projeto era maior que a capacidade do condutor instalado, desconsiderando as ligações irregulares, ou “gambiarras”. Também não havia proteção de um fio terra no circuito principal do módulo.

“Para surpresa, em inspeção realizada no local na data de 19/02/2019, verificamos que o objeto do contrato 15.1/18-PA, não havia sido realizado e as instalações continuavam as mesmas de quando a inspeção fora realizada, em registros fotográficos antes e depois do evento que culminou na morte de 10 adolescentes. Podemos perceber que o serviço que a empresa CBI foi contratada, não foi realizado, mantendo o mesmo alto grau de risco antes verificado. As tais “gambiarras” elucidadas na proposta, ainda estavam claramente no local, conforme apresenta a imagem”, diz relatório da Anexa.

Mesmo assim, o contrato foi dado como concluído e a última parcela referente à liquidação total foi paga no início de outubro de 2018 pelo Flamengo. Para o serviço, não foi emitida ART, de acordo com a Lei 6.496/77 e não háregistro formal de aceite de obra por parte do clube.