Flamengo “aprovado”, Palmeiras “imponente” e “game over” para o Corinthians: banco descreve …

Flamengo e Palmeiras tiveram em 2020 desempenhos esportivos de causar inveja para os rivais. Resultados que não justificam-se apenas ao desempenho em campo, mas sim ao que vem ocorrendo (há alguns anos) fora dele.

O relatório de Análise Econômico-Financeira dos Clubes de Futebol, do Itaú BBA, apresentado pelo economista César Grafietti nesta terça-feira (15), revela que a dupla manteve uma linha saudável de gestão e conseguiu lidar muito bem com o impacto da pandemia do novo coronavírus, evitando uma queda acentuada das receitas, equilibrando custos e dívidas, além de manter investimentos.

Os dois foram os únicos entre os 12 grandes clubes do Brasil a receber mais elogios do que ressalvas pelo que estão fazendo suas diretorias no aspecto financeiro. Além de terem a avaliação de 2021 próspero. A outra exceção foi o Grêmio, com resultados esportivos modestos.

Já a maioria das equipes está em fase de atenção, em caminhos não exatamente saudáveis economicamente, mas que podem ser contornados se a rota for alterada. Casos de Atlético-MG, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Internacional e São Paulo.

Já Botafogo, Santos e Vasco estão na linha vermelha, com situação financeira/modelo de gestão necessitando de vários ajustes.

Veja abaixo um resumo do que apontou o relatório financeiro para os 12 grandes do Brasil.

Atlético-MG: Entre a teoria e a prática

Foi uma das equipes que mais investiu na temporada passada, mas a que menos teve resultados satisfatórios. Tirando o título estadual, fracassou no Brasileiro (terceiro colocado), na Copa do Brasil (caiu na segunda fase) e Copa Sul-Americana (caiu na primeira fase).

Para piorar, as receitas caíram 48% em relação a 2019, os custos cresceram (aumento de 11%), as dívidas a longo prazo aumentaram (R$ 1,2 milhão) e o investimento (ainda que feitos com apoio de associados) foram acima do que as receitas permitem.

O problema é a construção da tese de startup, onde se gasta na frente para desenvolver o negócio, e a colheita de resultados virá no futuro. O futebol não é uma startup. As receitas básicas são conhecidas e de crescimento geralmente moderado. […] O investimento no estádio tem riscos, e a construção de um elenco caro não garante valor de revenda. […] Mas o clube tem dois suportes: a participação num shopping e o apoio dos associados que financiaram o projeto”, aponta a análise.

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Botafogo: Será que ainda há coelhos?

O clube foi rebaixado na última temporada em meio ao debate interno de transformar a agremiação em empresa. O relatório mostra que o presente e o futuro para o Botafogo são muito mais preocupantes do que simples decisão de mudar ou não.

Olhando o cenário de 2020 fica a dúvida se o Botafogo tem coelhos para tirar da cartola a partir de 2021. Alguns falarão da transformação em empresa, outros lembrarão dos sócios e torcedores milionários, e há quem espera algumas vendas relevantes de atletas. Mas tudo isso talvez fosse suficiente para movimentar a cartola, puxar uma orelha, mas o coelho mesmo não sairia. Talvez um camundongo. O crescimento das receitas é lento, e elas são cada vez menores. Com isso fica difícil montar equipes competitivas. E mesmo que ocorra, ainda tem uma enorme pressão do vencimento das dívidas poucos ativos para serem negociados e reduzir a pressão”.

Corinthians: Game Over

O clube teve apenas dois pontos exaltados: o alongamento de pagamentos e a receita com a venda de atletas (8% a mais que 2019, com destaque para os R$ 93 milhões pagos pelo Benfica por Pedrinho e os R$ 11 milhões do Daejeon Hana Citizen por André Luiz).

Mas a equipe do Parque São Jorge teve, além do péssimo desempenho esportivo (somente vice do Paulistão), problemas com fluxo de caixa, aumento de dívidas de todos os tipos e investimentos acima das receitas.

A conclusão é que não dá para o Corinthians responsabilizar apenas a pandemia por 2020. Gastos e investimentos elevados há alguns anos resultaram em um crescimento assustador das dívidas, enquanto as receitas não cresceram na mesma proporção.

“A situação do Corinthians é bastante difícil, mas não é insolúvel. O Corinthians tem um nível de receitas que, com algum ajustes, é capaz de organizar a dívida que equivale duas vezes mais o que ele tem de receita. É um trabalho que requer paciência e firmeza”, disse Grafietti.

Cruzeiro: O caminho é muito longo

Em um ano que o principal projeto esportivo fracassou, ou seja, o clube não conseguiu subir para a primeira divisão, é difícil apontar pontos positivos. Mas o relatório aponta alguns, como a reestruturação e o alongamento das dívidas e um expressivo corte de custos.

Como o buraco é bem fundo, a temporada na Série B mais a crise causada pela pandemia do novo coronavírus fez o Cruzeiro ter uma queda de 60% nas receitas em relação a 2019. É o que emperra a retomada da equipe.

A diretoria até vem fazendo um trabalho de destaque, mas é difícil. Conseguiu reduzir os custos em 44% e, ainda que tenha “atacado” a dívida, o clube celeste tem um passivo bem alto para um clube em reestruturação: R$ 663,3 milhões.

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Flamengo: Testado e aprovado

Campeão brasileiro e estadual, talvez os torcedores entendam que o Flamengo podia mais em 2020, mas a boa notícia para eles é que o clube conseguiu unir o desempenho esportivo com boas decisões de gestão.

Os pontos positivos apontados pela analisa foram o controle de custos, a busca por receitas alternativas e resultados em campo. O resultado aponta que não só o clube concluiu bem 2020 como também há boas perspectivas de crescimento para este ano –apesar de uma necessidade de vender jogadores para diminuir o impacto da pandemia do novo coronavírus nas receitas.

A redução de receitas 2019 para 2020 representou 32%, mas a análise pondera que há dois anos os cofres do clube foram impactados positivamente pelas receitas da Libertadores e do Mundial de Clubes. A diretoria conseguiu, em um ano difícil, reduzir em 25% os custos e aumentar 10% a receita com publicidade. O maior impacto então ficou pela queda drástica em bilheteria/sócio torcedor.

Não foi fácil e não será em 2021, ainda que haja menos pressão de caixa a partir da elevada possibilidade da temporada ser encerrada dentro do ano. A verdade é que o clube passou no teste de resistência a crises. Méritos de quem tem a casa em ordem."

Fluminense: O acaso protegeu

Se por um lado a situação de fluxo de caixa foi bastante dura, com a necessidade de ter que prorrogar volumes relevantes de salários para 2021, por outro é inegável que conseguiu. Se fez contratações acima do que a realidade permite, por outro lado conseguiu financiá-las. Se final os adiantamentos e as dívidas com impostos consumiram caixa, veio a rescisão do contrato do Campeonato Carioca e injetou recursos para ajudar a fechar as contas.

Para terminar, o clube ainda conseguiu uma posição no Campeonato Brasileiro acima das possibilidades, quando comparamos a clubes com maior poder financeiro. O que torna o início de 2021 menos tenso.

Mas claro que não foi apenas acaso. Tem o esforço em transformar as oportunidades em realidades, e nisso o Fluminense teve sucesso. Considerando o ano, o saldo final foi positivo."

Grêmio: Quando a gestão faz a diferença

O Grêmio também foi alvo de elogios, apesar de esportivamente ficar devendo. O clube não conseguiu chegar a semifinal da Conmebol Libertadores, não brigou no topo pelo título do Brasileiro e foi vice da Copa do Brasil sem jogar bem.

Mas novamente o clube soube unir um cenário de poucas receitas com competitividade.

O Grêmio foi um dos clubes que melhor soube lidar com os desafios da pandemia. Fruto de uma gestão que busca o equilíbrio como referência. O fato de ter receitas recorrentes em dólar da Libertadores ajudou nesse momento de câmbio mais alto. Além disso a chegada à final da Copa do Brasil contribuiu para o aumento das receitas com TV. As quedas em Bilheteria e Patrocínio foram compensadas com venda de atletas, cujos valores de vendas passadas ajudaram a adicionar caixa à operação em 2020.

Some a isto a capacidade de postergar pagamento de salários e endividamento que não pressiona o clube. Dessa forma foi possível até seguir investindo sem desestruturar a posição financeira.

Exemplo de que o valor da boa gestão se vê nos bons momentos, mas especialmente nos momentos de crise. Agora é seguir a estratégia, e controlando a ansiedade de gastar além da conta, que é um dos erros mais comuns no futebol. Quando tudo parece funcionar vem o desejo da consagração, que normalmente se reflete em aumento de gastos e acaba em descontrole.

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Internacional: Sinal de alerta

O Internacional segue o perigoso caminho do desequilíbrio. Naturalmente que a pandemia ajudou a deteriorar a situação, mas enfrentá-la a partir de uma condição debilitada piorou a situação. O aumento de dívidas, a geração de caixa negativa, queima de reservas de caixa para rodar a operação, tudo isso foi visto em 2020.

O clube precisa partir para um processo profundo de reestruturação, com corte de custos e investimentos e adequação da estrutura operacional às reais capacidades de geração de receita. O clube pode buscar novas receitas, incrementar as existentes, mas há um limite para isso, que normalmente é coberto com negociação de atletas. Portanto, é fundamental repensar o modelo de negócios, reduzindo contratações e focando numa das práticas que o Inter tem maior qualidade que é a formação de atletas.

Palmeiras: Alviverde imponente

Teve o melhor desempenho esportivo em 2020 entre os clubes brasileiros, com três títulos (Paulista, Copa do Brasil e Conmebol Libertadores) e um vice (Mundial de Clubes). Foi elogiado também pela gestão de custos e despesas e pela gestão de fluxo de caixa.

Segundo o relatório, o que não foi tão bem foi o aumento na dívida (agora de R$ 642 milhões, com crescimento especialmente em dívidas bancárias) e investimentos elevados para as receitas da equipe (equivalente a R$ 153 milhões).

A avaliação geral é que o impacto da pandemia fez o Palmeiras perdeu a folga financeira adquirida nas últimas temporadas, mas ainda assim manteve-se em equilíbrio. As perspectivas para 2021 são bem positivas, com o clube tendo tudo para ver o reflexo dentro de campo.

O clube continua vendendo bem seus atletas, continua investindo, está pagando a dívida com o patrocinador, se financiou com outras instituições financeiras em 2020. Mas, obviamente, há limites. O clube precisa seguir a trajetória de maior controle de gastos, reduzir investimentos a níveis mais condizentes com o momento, reduzindo suas dívidas perante outros clubes. Afinal, vender atleta e conquistar da forma como fez em 2020 é ótimo, mas nunca é uma certeza”.

São Paulo: A história sem fim

O último ano da gestão de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, trouxe o São Paulo para uma realidade mais “pés no chão”. O clube já havia investido fortemente em jogadores nos dois anos anteriores, de forma que pôde reduzir essa despesa em 2020.

Também foi hábil em reduzir investimentos e custos, mas acabou pagando pelo caminho que adotou ado nos últimos anos. Ou seja, ainda tem uma dívida alta e novamente se viu refém da necessidade de vender jogadores, tendo perdido o jovem Antony para o Ajax (R$ 93,5 milhões), além de ter amargado mais um ano sem nenhum título (saiu da fila nesta temporada de 2021 apenas).

“A gestão fez o que deveria ter feito nos outros anos. O clube teve boas receitas pela participação no Brasileiro e na Copa do Brasil, mas ainda depende da venda de jogadores para ter um equilíbrio. O São Paulo é um clube que temos de analisar ano a ano e passo a passo pelas mudanças na condução financeira. Por exemplo, ao trocar a gestão neste ano, voltou a fazer uma série de contratações, investimentos. Não acredito que o reequilíbrio financeiro será alcançado neste 2021”, disse Grafietti.

Santos: Na corda bamba

O Santos sofreu em 2020 dois efeitos conjuntos: a pandemia, que atingiu a todos, mas também o resultado da política de depender da venda de atletas para fechar suas contas. O resultado foi um clube em situação delicada, a despeito do sucesso esportivo na Copa Libertadores [vice].

Com relação aos efeitos da pandemia, o clube fez o que pode e podemos dizer que se saiu bem considerando aumento de receitas com publicidade e sócios. Não é pouca coisa. Além disso, o impacto financeiro da chegada à final da Libertadores não foi observado em 2020 mas chegou no início de 2021. O problema foi enfrentar a pandemia a partir de uma estrutura que vem se sustentando há anos à base da negociação de atletas.

Quando as negociações de atletas geraram crescimento de receitas, como em 2016, 2017 e 2019, o clube não fez o dever de casa, que era reduzir dívidas e focar nos investimentos em estrutura. Ao contrário, manteve dívidas elevadas, pouco aplicou recursos em estrutura e ainda gastou mais de R$ 200 milhões em contratações.

Mas faltou dinheiro em 2020. Foi a pandemia? Sim. Mas agravada por uma condição inicial ruim, baseada no conceito do “sempre foi feito assim”.

O Santos não tem um leque de opções se quiser sair da corda bamba intacto: precisa cortar custos e ser eficiente nos gastos, o que significa ter gente capacitada gerindo a estrutura do futebol. Mas, essencialmente, priorizar o que tem de melhor, que é a estrutura das categorias de base, contando com os raios que costumam cair pelos lados da Vila Belmiro. Qualquer coisa diferente disso e tempos ainda mais difíceis virão.

Vasco: Uma estrada longa e sinuosa

"Ao Vasco cabe buscar uma solução, que está longe de fácil, óbvia e rápida. E não há plano mágico nem solução tirada da cartola.

O ano de pandemia foi só uma gota d’água no mar de dificuldades que é o Vasco da Gama. Por mais que os esforços juntos aos torcedores tenham ajudado na construção do CT e no incrível projeto de sócio torcedor, é tudo como enxugar gelo, pois as dívidas são tão grandes, e ocupam tanto das receitas, que a realidade é pior do que mostram os números.

O risco que o clube corre é cansar o torcedor, que perde forças no apoio. Jogar novamente a Série B, com pouca força financeira, menos dinheiro de TV, e ainda tendo que arcar com problemas de anos. Problemas que afetaram diretamente o desempenho de 2020, pois as receitas acabam sendo consumidas pelos adiantamentos e dívidas cujo dinheiro é carimbado para pagamento, sobrando pouco para custear a atividade. No final, vira atraso, novas dívidas, pedido de ajuda a torcedores.

dificuldade em solucionar o problema passa pelo fato de que as receitas não crescerão do dia para a noite, e a decisão por cortar custos e renegociar dívidas é dolorida, e tira competitividade. A questão que fica é que a ginástica feita para “fechar” as contas de 2020, que deixou rastros de problemas para o futuro próximo, fica cada vez mais difícil de ser repetida. E ainda que conseguisse, não significa solução, mas apenas um paliativo.

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Mário Marra explica por que Luan faz mais falta que Martín Benítez no São Paulo: 'Protege e ocupa espaço'

Por outro lado, o jornalista disse que Daniel Alves ainda é o principal desfalque da equipe

Fonte: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/8782144/flamengo-aprovado-palmeiras-imponente-e-game-over-para-o-corinthians-banco-descreve-financas-de-clubes-do-brasil