Saber sofrer, no futebol, não deveria ser dito apenas para se referir ao time propositalmente defensivo e fiel a essa proposta. Quem ataca um adversário com as linhas muito baixas, que quase nunca avança por receio de dar espaços, também tem sua cota de sofrimento. Precisa ser persistente, controlar os nervos para não oferecer a única brecha que rival precisa. Ontem, Flamengo sofreu, mas prevaleceu no Maracanã. Bateu o Vasco por 1 a 0, com gol de Gabigol, e ficou perto da final do Carioca.
Sofreu também porque teve um adversário muito aguerrido pela frente. Que resolveu jogar bola apenas no segundo tempo, quando a desvantagem no placar obrigava a fazer algo diferente de apenas se defender.
A superioridade técnica do Flamengo, que ninguém discute, acabou se fazendo presente muito mais por causa da estratégia vascaína na primeira etapa do que por mérito rubro-negro, como o jogo mostraria ao longo dos 90 minutos.
Zé Ricardo provou mais uma vez que sabe fechar a casinha. A linha de quatro zagueiros resistiu bravamente. Foi bem nos desarmes, nas antecipações. Thiago Rodrigues, goleiro contratado este ano, fazia bem seu trabalho.
Até Anderson Conceição subir com Willian Arão e colocar a mão na bola. O árbitro de vídeo confirmou a falta na grande área e Gabigol bateu com categoria para colocar o Flamengo na frente. Comemorou na frente da torcida vascaína e irritou Conceição. Pura besteira. O zagueiro parecia transferir para o camisa 9 a frustração com o pênalti cometido.
Antes disso, o que se viu foi um Flamengo pouco envolvente. As melhores chances surgiram em dois lances equivocados de Nenê, quando ele estava com a bola. O camisa 10 teve atuação apagada no Maracanã e complicou a vida vascaína ainda mais no Maracanã. As equipes foram para o intervalo com o rubro-negro com nove finalizações a gol, contra nenhuma dos vascaínos. A posse de bola? 62% do Fla.
Vasco se solta
A alternativa que Zé Ricardo tentou para criar saídas rápidas no contra-ataque não funcionou. Ele escolheu Weverton, lateral-direito de origem, para ser meia e fazer o que Gabriel Pec costuma fazer, só que pela esquerda. Não deu certo e o jogador foi substituído por Figueiredo. Coincidência ou não, o atacante foi quem deu a primeira finalização do Vasco no jogo.
O que tornou evidente o fato de que Zé Ricardo não precisava ter temido tanto o Flamengo foi o fato de que os rubro-negros, mesmo com muito mais espaços para jogar, não conseguiram ser tão perigosos assim no ataque. Isso também expôs que a equipe de Paulo Sousa segue sofrendo para ser tão efetiva quanto a qualidade do elenco proporciona.
Com o jogo mais aberto, as torcidas assumiram o protagonismo no Maracanã. Rubro-negros e vascaínos disputaram para ver quem cantava mais e mostraram que a rivalidade do Clássico dos Milhões resiste à era de maior desequilíbrio técnico da história da partida.
Domingo, as equipes voltarão a se enfrentar, assim como os decibéis das torcidas mais numerosas do Rio. O Flamengo pode até perder por um gol de diferença que seguirá para final. Para o Vasco, só resta uma virada com ares de histórica e vencer o arquirrival, favorito, por dois gols de diferença.