Lógica e futebol normalmente não caminham lado a lado. Por exemplo, no Clássico Vovô de ontem, foi o finalista Fluminense quem deixou o Maracanã sob vaias. Já o Botafogo, eliminado mesmo tendo vencido por 2 a 1, saiu aplaudido. Essa é apenas uma das várias situações ilógicas vistas neste jogo de volta da semifinal do Carioca. Mas são elas as responsáveis por criar cenários perfeitos para momentos históricos. Como o gol de Germán Cano, aos 51 minutos do segundo tempo, que colocou o tricolor em posição para tentará pela terceira vez seguida destronar o Flamengo na decisão do Estadual — os jogos serão nas próximas quarta (30) e domingo (2).

— O time não jogou muito bem hoje, não fizemos nada do que treinamos na semana, mas passamos de fase. O empenho do time foi muito grande, acreditamos até o fim e fizemos o gol— afirmou Cano, ciente da péssima atuação de sua equipe.

Ele não foi o único. Aliás, os tricolores que não deixaram o Maracanã preocupados são minoria. É claro, com o advento das Sociedades Anônimas de Futebol (SAF) investindo em Vasco e Botafogo, a tendência é a competitividade aumentar no Rio. Mas como os cifrões não caíram a tempo para o Estadual, a final esperava sempre foi entre Fluminense e Flamengo. Mas só foi graças ao gol salvador de Cano. E por seis minutos, esteve em mãos alvinegras graças aos dois gols de Erison.

Nem mesmo a classificação amenizou os dois grandes choques de realidade vividos pelo Fluminense. O primeiro deles é que a sequência de 12 vitórias consecutivas pode ter superstimado o nível de atuação tricolor. Claro, foi bem nos clássicos e na Libertadores, mas hoje está muito aquém do que já foi visto. Algo que o próprio Abel Braga admite.

— Não fizemos nada em campo daquilo que combinamos. Não entramos pensando na vantagem, nós classificamos por tudo que foi feito durante o campeonato. Mas o que fizemos não é o que jogamos agora. Alguns jogadores não estão bem individualmente e há muitos erros em tomadas de decisão — analisou.

O outro choque de realidade é que, se repetir as duas atuações que teve contra o Botafogo nesta semifinal, é difícil acreditar que conseguirá evitar o tetracampeonato do Flamengo. Hoje, o Fluminense parece ainda não ter superado mentalmente a eliminação para o Olimpia na Libertadores e se mostra frágil no aspecto defensivo, área do campo onde era mais dominante. A prova disso é ver como a fortaleza mental desmoronou assim que Erison marcou o primeiro gol alvinegro.

Não é absurdo dizer que o Botafogo mereceu a classificação. Fez por onde, foi superior e contou com o brilho de Erison para sentir o gosto da vaga. Muito porque soube explorar bem as fragilidades do Fluminense, a começar pelo esquema de três zagueiros que mais uma vez não deu certo.

Apesar de ter Luccas Claro, Manoel e David Braz na defesa, os volantes André e Martinelli não tiveram boa atuação e deixaram o caminho livre os meias alvinegros, principalmente Chay, um dos melhores em campo, deitarem e rolarem. Um problema tático que o Fluminense não conseguiu resolver. Pelo lado alvinegro, também ficam as críticas à arbitragem de Paulo Renato da Silva Coelho, principalmente por não deixar o Botafogo cobrar a última falta a seu favor, já após o Fluminense marcar.

— Eu nunca vi na minha vida um negócio tão ridículo. O Campeonato Carioca tem que acabar. É simples… — disparou o lateral-direito Rafael, com críticas que ganharam coro do dono do Botafogo, John Textor:

— Em 2023, o Carioca vai ser um bom torneio para nosso time B — escreveu.

Mais comedido, Lúcio Flávio elogiou a postura da equipe alvinegra.

— Eles fizeram o jogo que a gente passou. Foi um jogo bom, mas não teve o resultado que nos credenciaria à final. Foi uma vitória que mostra capacidade da equipe. Todos que acompanharam o jogo podem perceber isso. Para o futuro próximo, cria uma expectativa boa.

Nesta semifinal ilógica, melhor para o Fluminense. O tempo porém é curto para a decisão. E será preciso corrigir os erros em tempo recorde se quiser mostrar que pode ser campeão.