“Depois de dois meses de férias, não existe poupar jogador”: ex-fisiologista do Fla contesta comissão técnica de Vítor Pereira

Segundo fisiologista, estratégia de Vítor Pereira prejudica parte física de jogadores do Flamengo

Por: Higor Neves e Leonardo José

A temporada do Flamengo está apenas nos primeiros jogos, porém, já tem enfrentado duelos de alto nível de exigência. No último sábado (28), o Rubro-Negro encarou o Palmeiras, pela Supercopa do Brasil, e acabou perdendo por 4 a 3. Agora, o time se prepara para ir ao Mundial de Clubes. Para preparar a equipe, o técnico Vítor Pereira tem optado por poupar jogadores, no entanto, o Dr. Alex Souto Maior, especialista em fisiologia do futebol, condena a postura.

Alex Souto, que atuou no Flamengo entre 2016 e 2018, concedeu entrevista exclusiva ao Coluna do Fla, na qual explicou como é feita a ‘preparação ideal’ de um jogador que retorna de pré-temporada. Além disso, o profissional fez críticas à forma como Vítor Pereira e a comissão técnica do clube têm trabalhado na parte física. Segundo Alex, as ideias implementadas prejudicam os atletas no que diz respeito a ritmo de jogo e, além disso, propicia lesões.

— Eu acho de suma irresponsabilidade (poupar jogadores no início da temporada). Se você pegar o calendário inicial do ano do Flamengo, o time fez seis jogos. Não existe, em nenhum esporte, você poupar o atleta. O atleta se apresenta com a capacidade mínima em torno de 70% do máximo dele. Com uma boa periodização de treino e pré-temporada, o jogador não tem que ser poupado. Entra a questão do ritmo de jogo, o atleta precisa de minutagem para ele chegar no tempo de bola perfeito.

Cuéllar treina no Flamengo, ao lado de Alex Souto Maior, especialista em fisiologia

Para Alex, o Flamengo já foi prejudicado esportivamente por conta das decisões da comissão técnica. Segundo ele, no jogo da Supercopa do Brasil, contra o Palmeiras, o Rubro-Negro teria um melhor desempenho se os atletas tivessem recebido uma sequência de partidas antes do confronto com a equipe paulista.

— É óbvio (que prejudicou o Flamengo). Num jogo aberto como aquele, com 7 gols, com certeza. Perda de tempo de bola e de velocidade prejudicaram. Para o atleta se manter fisicamente ativo, ele tem que treinar com um profissional que entenda de esporte, não um profissional aleatório. O profissional precisa entender a fisiologia e a biomecânica do futebol. Poupar jogadores nessa fase inicial é um tiro no pé. Posso dizer, com certeza: depois de dois meses de férias, não existe poupar jogador.

CONFIRA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA:

Isso depende do profissionalismo do atleta. Acredito que grande parte dos atletas mantenham ritmo de treino. Eu treino diversos atletas, até de clubes internacionais, e durante as férias eles costumam manter carga de treinamentos físicos. Esses treinos incluem estabilidade, mobilidade, força e potência.

Faz parte da responsabilidade do clube controlar essa parte física, para que o atleta se apresente com pelo menos 75 a 80% da sua condição física ideal. É de suma responsabilidade do clube controlar essa condição, para que na pré-temporada os atletas não tenham grandes riscos de lesões.

Chegando nessas condições, o atleta precisa de aproximadamente três semanas, para ele chegar nos níveis de 100% e manter o trabalho durante a temporada, com a sequência de jogos. Assim a gente mantém o atleta em alto nível.

Everton Cebolinha (FLA) disputa a bola com Mayke (PAL)

A gente trabalharia mobilidade, aceleração, desaceleração, força de potência e resistência, além da estabilidade dos músculos das articulações. Junto a isso, obviamente, não pouparia jogador. Tem que colocar para jogar. O Flamengo faz o sétimo jogo da temporada nesta quarta. Daqui a uma semana, a equipe estreia na semifinal do Mundial de Clubes. Se poupar jogador, perde minutagem, e assim perde capacidade física. Além disso, é importante destacar que vamos enfrentar clubes que já estão na temporada, com níveis físicos ideais, então é necessário que esses jogadores estejam no ritmo similar ao dos adversários.

Isso vem da periodização do treino, desde a pré-temporada. Enquanto estive no Flamengo, a gente dosava a limitação do treino a partir do controle de carga. A partir do momento que a gente percebia algum atleta fora da média do clube, ele tinha que treinar um pouco mais para atingir esses níveis. A gente controla tanto a parte fisiológica quanto a biomecânica. O Flamengo tem tecnologia avançada para isso.

Tem jogadores que perdem o tempo de bola, justamente por serem poupados. A velocidade, a potência, o ritmo, a mudança de direção… tudo isso diminui. Consequentemente, aparecem as lesões e os resultados ruins. Fazendo uma analogia com um piloto de avião: o que dá a performance para eles é a minutagem de voo. O atleta de futebol precisa da minutagem aumentada, para que ele tenha capacidade física melhorada. Não existe poupar jogador. O próprio jogador pede para estar em campo, justamente para melhorar.

QUEM É ALEX SOUTO MAIOR?

Alex Souto Maior é Doutor em Fisiologia e Mestre em Engenharia Biomédica. Ele trabalhou no Flamengo entre 2016 e 2018. Atualmente, ele faz trabalho específico com jogadores de futebol e é especialista em alta performance, sendo um dos líderes A&D Centro de Treinamento: Performance e Prevenção de Lesões.

Fonte: https://colunadofla.com/2023/02/depois-de-dois-meses-de-ferias-nao-existe-poupar-jogador-ex-fisiologista-do-fla-contesta-comissao-tecnica-de-vitor-pereira/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=depois-de-dois-meses-de-ferias-nao-existe-poupar-jogador-ex-fisiologista-do-fla-contesta-comissao-tecnica-de-vitor-pereira