Compra do Maracanã: por que o Flamengo não teria controle total mesmo sendo dono

A compra do Maracanã não garantiria ao Flamengo a autonomia que muitos torcedores imaginam. Apesar do debate público sobre a venda do estádio e da indicação do clube como comprador natural, o conjunto de tombamentos federais e municipais mantém restrições que limitam intervenções, uso e gestão mesmo com mudança de titularidade.

O Maracanã está tombado pelo Iphan desde 2000 e também protegido por decreto municipal desde 2002. Isso impede alterações significativas na fachada, na marquise, no anel das arquibancadas e na volumetria original sem aprovação prévia dos órgãos de patrimônio. Na prática, qualquer projeto de reforma ou adaptação precisa ser submetido a análises técnicas e obter aval formal antes de sair do papel.

“A preservação e a manutenção do bem tombado continuam sendo responsabilidade de seu proprietário, independentemente de quem o detenha. Portanto, cabe a ele submeter ao Iphan os projetos de qualquer intervenção, para análise e aprovação da autarquia.”

Além da tutela federal, o tombamento municipal abrange todo o complexo esportivo — Maracanãzinho, Parque Aquático Júlio Delamare e Estádio Célio de Barros — o que amplia as exigências para obras, mesmo as aparentemente simples, como troca de piso ou asfaltamento de áreas externas. Neste ano, Flamengo e Fluminense foram notificados após parte do Célio de Barros ter sido utilizada como estacionamento sem autorização técnica, mostrando que o rigor fiscalizador é efetivo.

Limites práticos e uso compartilhado

Na prática, ser proprietário não transformaria o clube no único gestor livre do espaço. Projetos para redesenhar arquibancadas, ampliar setores ou transformar áreas em estacionamento permanente dependem de parecer técnico do Iphan e de autorização da Gerência de Patrimônio Cultural da Prefeitura. Isso reduz significativamente a margem de manobra do comprador, seja ele o Flamengo ou qualquer outra instituição.

Mesmo com argumentos políticos de que o Flamengo seria o “único clube com capital e torcida para manter o Maracanã de pé”, defendidos por nomes como Alexandre Knoploch, a proposta frequentemente prevê condicionantes para preservar o caráter público e o uso compartilhado. Ou seja, o estádio permaneceria disponível para outras agremiações mediante regras e possíveis contratos de locação.

Por que o Gasômetro é a alternativa real

Em contraste, o projeto do Gasômetro surge como a alternativa capaz de entregar autonomia real ao Flamengo. O terreno na região central foi pensado para permitir uma arena com 72 mil lugares, investimento estimado em R$ 2,2 bilhões e um cronograma de longo prazo que dá ao clube liberdade para definir projeto arquitetônico, modelagem comercial e gestão de receitas sem as travas do patrimônio tombado.

Enquanto o Maracanã, avaliado em cerca de R$ 2 bilhões, seguiria submetido a restrições e a um modelo de uso público compartilhado, o Gasômetro oferece independência administrativa, controle sobre exploração comercial e a chance de construir um estádio pensado exclusivamente para a torcida rubro‑negra.

Portanto, mesmo que o Flamengo tivesse capacidade financeira para arcar com a compra do Maracanã, a conquista do controle efetivo sobre o estádio só seria completa por meio de um projeto próprio, sem as limitações formais impostas ao patrimônio tombado. Para a Nação rubro-negra, a decisão estratégica entre negociar um imóvel histórico e investir em um estádio próprio é também uma escolha sobre o futuro da identidade e da gestão do clube.