Flamengo na final da Libertadores chega a Lima com confiança, mas também com dúvidas, cobranças e decisões externas que podem influenciar diretamente o futuro do elenco. Nesta véspera de decisão, a voz de José Boto, as incertezas sobre Pedro, críticas e negociações abortadas dominam o cenário rubro-negro.
O diretor de futebol José Boto tem sido figura central nas últimas declarações do clube. Em entrevistas recentes, Boto não só projetou a dimensão social do Flamengo como também respondeu a questionamentos sobre contratações e desempenho do elenco. As falas do dirigente ganharam repercussão entre torcedores e analistas, que acompanham passo a passo a preparação para a final continental.
Na sexta-feira, 28/11/2025, a delegação rubro-negra segue concentrada em Lima, onde encara o Palmeiras neste sábado (29). A atmosfera é de decisão: enquanto a equipe trabalha o aspecto tático com Filipe Luís, a diretoria administra reclamações, expectativas e o impacto da opinião pública nas escolhas fora de campo.
“Se olharmos para os 45 milhões de adeptos, a mobilização de praticamente um país, e os vários órgãos de comunicação social que falam diariamente sobre si, então o Flamengo é claramente o maior clube onde estive”
“Por outro lado, a emoção e a forma como as pessoas vivem o Flamengo, quase como uma religião, isso nunca tinha visto em lado nenhum. Uma emotividade e um culto que nunca tinha visto, nem no Benfica, que também é um clube gigante”
O recado de José Boto
As declarações de Boto traduzem tanto orgulho quanto uma tentativa de blindar o elenco e a gestão diante da pressão externa. Ao valorizar a dimensão do Flamengo, o diretor também colocou sobre a mesa a responsabilidade do clube em lidar com expectativas massivas — algo que tem reflexo direto nas decisões de mercado e na paciência com contratações.
Além do aspecto emocional, Boto tem usado entrevistas para justificar escolhas e explicar os motivos por trás de contratações que nem sempre agradaram a torcida. A mensagem é clara: há limitações de mercado, hierarquia interna e avaliações técnicas que antecedem escolhas públicas.
Juninho: defesa pública e avaliação do rendimento
Entre os pontos levantados por Boto está a defesa de Juninho, contratado em janeiro e alvo de críticas por rendimento ofensivo. O diretor ressaltou que a chegada do jogador foi uma opção de mercado e destacou suas contribuições em momentos decisivos, tentativa de reduzir a pressão sobre o centroavante.
“O Juninho foi a opção de mercado possível na época em que foi contratado. É um jogador que, sempre que foi chamado a participar, teve atuações positivas e gols decisivos, na Libertadores, no Carioca e no Brasileirão”
“É óbvio que as pessoas esperam sempre que qualquer jogador contratado seja titular absoluto e marque 50 gols, mas nós sabíamos para que ele vinha, e ele está cumprindo os objetivos. Estamos satisfeitos com a contratação”
Os números de Juninho na temporada (31 jogos e quatro gols) estão longe do esperado por uma parte da torcida, mas a diretoria e a comissão técnica preferem avaliar o jogador por objetivos táticos e momentos decisivos em que participou. Para Filipe Luís, essas alternativas ofensivas têm peso diferente do mero índice de gols.
Essa postura de defesa pública abre espaço para debates internos: até que ponto a diretoria mantém confiança em contratações recentes frente à exigência da Nação? A resposta pode moldar a janela de 2026 e influenciar o perfil de reforços buscados.
Negociação frustrada: o caso Mikey Johnston
Outro capítulo que atingiu os bastidores foi a tentativa de contratação do atacante Mikey Johnston, ligada ao West Bromwich. O negócio teria sido influenciado por avaliações do scouting, mas foi abortado em meio a críticas públicas e discussões internas sobre riscos físicos e desgaste institucional.
“O Mikey era um jogador indicado pelo nosso setor de scouting, que eu e o treinador aprovamos, e que possuía as características de que precisávamos. Agora, ficar desgastado não me pareceu adequado, até porque o presidente sempre me apoiou”
“Fiquei chateado? Fiquei, mas também compreendo as hierarquias, entendo a dinâmica do clube. Eu não sou nem dono nem presidente, e há alguém acima de mim que tem todo o direito de vetar qualquer decisão. Ele achou por bem fazê-lo; na época, não concordei, mas aceitei e seguimos em frente”
O fechamento do negócio, que chegou a envolver valores e viagem marcada, rendeu questionamentos sobre transparência e controle de danos. Oficialmente, a justificativa foi ligada a problemas físicos do atleta, mas a pressão popular também foi apontada como fator determinante para o cancelamento.
Esse episódio escancara um dilema recorrente: conciliar avaliações técnicas com o apelo da torcida e a gestão de imagem pública. Para Boto e a diretoria, a prioridade — segundo deixou claro — tem sido evitar desgastes que prejudiquem o ambiente dentro do clube.
Torcida em Lima: pedidos, cobrança e expectativas
Em Lima, a presença da torcida rubro-negra reforçou o clima de mobilização: nas imediações do hotel da delegação houve manifestações e pedidos diretos a José Boto. Entre as solicitações mais sonoras, nomes de impacto como Neymar e pedidos por retorno de ídolos foram ouvidos, revelando tanto carinho quanto impaciência.
Esses episódios mostram que, mesmo em um momento de foco total na final, a pressão por reforços e atenções extras não cessa. Para a diretoria, administrar a Nação significa também equilibrar respostas rápidas com planeamento de médio prazo.
Pedro: a dúvida física que pode mexer na escalação
Uma das principais incógnitas para a decisão é a condição de Pedro. O atacante segue em tratamento por uma lesão muscular na coxa esquerda e não participou de atividades em campo nos treinos abertos à imprensa, optando por trabalhos na academia.
Embora tenha viajado com o elenco para Lima, a presença de Pedro entre os relacionados segue em dúvida. A comissão técnica acompanhará a evolução nas próximas horas para definir se contará com o centroavante na lista de inscritos para a final.
A dúvida sobre Pedro altera não só a estrutura ofensiva do Flamengo como também pode influenciar ajustes táticos de Filipe Luís, que precisa decidir entre manter características de posse e transição ou privilegiar alternativas de velocidade e movimentação sem o camisa 9 titular.
O jogo e os cenários pós-final
Flamengo x Palmeiras, neste sábado (29), às 18h (horário de Brasília), no Estádio Monumental U, em Lima, vale o tetracampeonato da América do Sul para o Rubro-Negro. Além do troféu, a partida tem potencial para consolidar ou reconfigurar avaliações sobre elenco, comissão e diretoria.
Uma vitória reforçaria a leitura pública do projeto de Boto e da gestão atual, trazendo maior margem para decisões futuras no mercado. Por outro lado, um resultado negativo aumentará o escrutínio sobre escolhas de contratação e gestão de elenco para 2026.
O que vem depois: planejamento, mercado e imagem
Independente do resultado, o Flamengo terá um calendário intenso e decisões estratégicas pela frente. Ajustes na janela, avaliações do setor de scouting, a montagem de elenco e a relação com a torcida serão temas centrais. José Boto já sinalizou que existe flexibilidade, mas também hierarquia nas decisões.
A forma como a diretoria conduzirá a resposta às cobranças — conciliando ambição esportiva com sustentabilidade e gestão de imagem — será determinante para manter o Flamengo como protagonista no Brasil e na América do Sul.
Na contagem regressiva para a final, a Nação acompanha com ansiedade: a combinação de emoção, responsabilidade e pragmatismo técnico será chave para transformar expectativas em conquista. O desfecho em Lima definirá, ao menos por enquanto, se a palavra de Boto se converte em título e se as escolhas adotadas terão aval popular.