Uma nota oficial publicada pelo Flamengo na tarde desta segunda-feira causou polêmica nas redes sociais. No texto, o clube negou a autoria da homenagem a Stuart Angel, ex-remador rubro-negro que foi preso e assassinado durante a ditadura militar, em 1971.
Na tarde de domingo, dia em que o golpe militar completou 55 anos, torcedores do clube fizeram ato em memória a Stuart Angel na sede de remo do Flamengo, no bairro carioca da Lagoa. Nesta segunda, o colunista Ancelmo Gois, de "O Globo", publicou que o Rubro-Negro prestou homenagem e estampou o nome do ex-remador em camisa do clube.
Grupo de torcedores homenageou Stuart Angel na sede de remo do Flamengo — Foto: Reprodução Twitter
A nota oficial emitida pelo Flamengo nega qualquer homenagem a Stuart Angel:
"Em relação à nota publicada nesta segunda-feira na coluna Ancelmo Gois – do jornal O Globo – o Clube de Regatas do Flamengo esclarece que, por ser uma verdadeira Nação, formada por mais de 42 milhões de torcedores das mais diversas crenças e opiniões, não se posiciona sobre assuntos políticos.
A homenagem citada na nota foi realizada diretamente por um grupo de sócios e torcedores do Clube, sem nenhuma participação da instituição – algo que, inclusive, é estatutariamente vedado."
A publicação causou polêmica nas redes sociais. Dezenas de rubro-negros criticaram a postura do clube. Muitos deles destacaram que o Rubro-Negro não fez manifestações no dia 31 de março. Clubes como Bahia, Corinthians e Vasco fizeram posts no domingo – data que marcou o aniversário de 55 anos da queda do governo João Goulart – em favor da democracia.
Uma postura LAMENTÁVEL do clube mais popular do país, mas que se acovarda em momentos importantes. Não se trata de defender essa ou aquela ideologia, mas de lembrar de um atleta dos seus quadros que foi torturado e assassinato num capítulo obscuro da história. Melhore. @Flamengo!
Há momentos na história em que é importante se posicionar. Em defesa da Democracia, sempre valerá a pena.
Outra parcela de rubro-negros defendeu o comportamento do clube e disseram que o Flamengo não deve se manifestar sobre o assunto.
Se o Flamengo fosse pessoa física eu concordaria, mas é uma instituição com mais de 42kk de apoiadores, não tem que ficar se posicionando mesmo. Que também é vedado pelo estatuto.
Integrante do grupo Flamengo da Gente, que organizou a homenagem a Stuart Angel na sede de remo do Flamengo, David Butter se posicionou sobre o caso no Twitter.
– No ato de ontem, homenageamos, em nome dos organizadores do ato, a jornalista e guerreira pela memória Hildegard Angel (irmã de Stuart). Foi um ato breve, emocionante para todos. Falamos sobretudo da solidariedade que unia Stuart a outros atletas que, em muitos casos, discordavam dele politicamente. De solidariedade e de vida. Foi por isso que, na camisa que mandamos personalizar para presentear Hildegard Angel, escrevemos "25", idade de Stuart quando massacrado pela repressão. Os captores e assassinos dele habitam o rodapé. Nós não colocamos Stuart Angel no panteão do Flamengo. Ele já estava lá. Por decisão do clube.
De acordo com Butter, que é conselheiro e sócio-proprietário do clube, o Flamengo da Gente é um grupo "movido por um conjunto limitado de bandeiras – destaque para a defesa da matriz popular do clube e dos direitos humanos".
Torturado e morto
Stuart era filho da figurinista e estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, e do americano Norman Jones. No fim dos anos 1960 e início dos 1970, se integrou ao grupo MR-8, que fazia a luta armada contra o regime militar. Foi preso, torturado e morto por membros do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa) em 14 de junho de 1971, aos 25 anos. Mesmo fim teve sua mulher, a também militante e guerrilheira Sônia Morais Jones, morta dois anos depois e igualmente dada como desaparecida.
Durante anos, Zuzu lutou para esclarecer o caso, mas morreu sem saber o paradeiro do filho.