Matheus Brum: “O futebol como palanque político”

Olá, companheiros e companheiras de Coluna do Fla. Vencemos o Carioca, deixando o Vasco mais uma vez com o vice e estamos na véspera de uma decisão na Libertadores. Minha visão sobre o time e o desempenho em campo, já deixei claro aqui em diversas colunas. Quero usar o espaço pra tratar de outro tema.

Certa vez, Thiago Leifert, hoje apresentador do Big Brother Brasil, escreveu um artigo dizendo que “evento esportivo não é lugar de manifestação política”. Na época, tal declaração deu um quiprocó danado. Muita gente metendo o pau e muitos concordando, naquele Fla x Flu de opiniões que infelizmente vivemos no Brasil.

O futebol, assim como o esporte, também é político. Afinal de contas, construir praças para que a população pratique atividades físicas é uma forma de política; um banco público patrocinar clubes é política; o esporte enquanto ferramenta de inclusão é política; bolsa atleta para que nossos desportistas vivam 100% do esporte é política. Enfim, os exemplos são fartos. Só que há uma diferença entre política e politicagem.

A presença do Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) e do juiz “estrela” Marcelo Bretas, em um dos camarotes do Maracanã na final do Carioca é politicagem; entregar uma camisa para o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), depois de negar participação na homenagem ao ex-atleta Stuart Angel, que foi torturado e morto pela ditadura militar, e ainda publicar uma nota dizendo que a instituição “não se posiciona sobre assuntos políticos”, é politicagem; a polêmica sobre o veto da expressão “festa na favela” e a consequente nota oficial, que não foi conclusiva, também é politicagem.

A diferença entre política e politicagem é simples. A primeira é o conceito como um todo. É utilizar seus agentes em prol da sociedade, buscando a melhoria da vida de todas as pessoas que vivem na mesma comunidade. A segunda é a política barata, de interesses espúrios e que olha apenas para o próprio umbigo.

Infelizmente, tal prática não acontece apenas no Flamengo. Na comemoração do título paulista, um senador e um deputado estadual estiveram entregando medalhas para os jogadores do Corinthians. Um deles, inclusive, vestindo uma camisa da seleção brasileira com o número do seu partido. Isso, em uma partida que teve mais de 36 pontos de Ibope na TV aberta. No fim, os políticos levaram a medalha para casa, ao contrário de alguns funcionários do clube que voltaram de mãos abanando.

Ou seja, a politicagem está a solta no futebol brasileiro. E acontece nos dois espectros ideológicos. Alguns exemplos clássicos. Seleção campeã do mundo de 2002, visitando Fernando Henrique Cardoso, em Brasília. Corinthians, campeão da Copa do Brasil visitando Lula, também na capital federal. E assim vai.

Essa associação é extremamente perigosa. Como futebol mexe com emoção, atitudes como essa podem interferir diretamente na urna. Basta ver a quantidade de ex-dirigentes e atletas que hoje atuam ou atuaram na política. A esmagadora maioria deles não foi eleita com projetos claros, e sim por conta da identificação com alguma torcida. Muitos destes deixaram clubes completamente sucateados apenas para poder conseguir a projeção necessária pra um cargo legislativo.

A politicagem destrói o país. Estamos neste limbo econômico, cultural, moral e ideológico por causa dessa prática nefasta. E o futebol, com toda a entrada que tem na sociedade, acaba se tornando um grande palanque. Por isso, é preciso que a torcida esteja unida contra essas práticas. Na véspera da decisão do estadual, um grupo de rubro-negros escreveu uma carta endereçada ao presidente, pedindo uma atenção redobrada para que nenhum político tirasse proveito da festa, caso viesse um título.

Sabemos que o Flamengo, no caso, precisa de respaldo legislativo e executivo para aprovar projetos de interesse social e da instituição. Mas, tem capacidade, principalmente através de seus dirigentes de conseguir fazer isso sem apelar pra politicagem.

O esporte em geral precisa fazer política. Estar junto com os prefeitos, secretários, governadores, presidentes para pensar em projetos de política pública; apoiar construção de espaços esportivos, criação de escolinhas em zonas de vulnerabilidade social; planos de sócio-torcedor que contemple os torcedores de baixa renda; atividades culturais e esportivas nas sedes sociais. Há muitas ideias, mas pouca ação. E neste ínterim, aparece a politicagem simples, mas que é suja e barata.

E numa hora, esses mesmos que estão presentes, vestindo a camisa, abraçando, prestando apoio, podem dar as costas. Afinal de contas, a politicagem não é séria. E sim, um grande jogo de interesses.

Matheus Brum
Jornalista
Twitter: @MatheusTBrum

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Fonte: https://colunadoflamengo.com/2019/04/matheus-brum-o-futebol-como-palanque-politico/