A abstração da última chance de Zé Ricardo

Zé Ricardo nunca pareceu tão abalado no Flamengo. Se a eliminação da Libertadores parecia significar seu pior momento à frente do banco de reservas, logo os acontecimentos se ajeitaram de tal forma que tudo conspirou para o aprofundamento da crise. Hoje, além da eliminação, o clube soma uma pífia classificação na Copa do Brasil contra o pior time da Série A e uma campanha muito abaixo da crítica nos seis primeiros jogos do Brasileiro.

O discurso da diretoria, porém, é de confiança no trabalho. Admiro essa tranquilidade por ser desacreditado em trabalhos de curto prazo, mas tudo na vida chega a um limite. E, após a desprezível partida contra o Sport, a corda parece se esticar até o jogo do próximo domingo, contra o Avaí. Jogaremos fora de casa, é verdade, mas estaremos acompanhados da fervorosa torcida que esgotou os ingressos em dez horas e enfrentaremos um dos piores times do torneio. É jogo pra vencer e vencer bem.

No entanto, convenhamos que nem é preciso ser brilhante pra ganhar do Avaí com o elenco que temos. É bem possível ultrapassar os catarinenses com um futebol meia-boca e contestado, como poderia ter acontecido contra o Sport e como nos ocorreu em outros certames recentes. E se isso acontecer? Estaremos deixando a casualidade de um resultado definir o futuro do Flamengo na temporada?

A análise deve ser conjuntural e não imediata. Claro que os resultados contam e muito na avaliação do trabalho de um treinador, mas eles por si só não são tudo. E, portanto, olhar somente para o placar da partida não trará relevância nenhuma. Seria um desrespeito com a instituição e uma evidência da falta de planejamento deixar tudo para o pós-jogo. Se a diretoria entende que há argumentos suficientes para a troca de comando, que demita Zé Ricardo. Caso contrário, que permaneça com ele. Espero uma análise profissional em cima da mudança de postura – este sim é o nosso foco, e não somente na mudança de resultado. Isso significa que mesmo uma vitória pode não representar nada a favor do técnico.

Deposito minhas últimas esperanças em Zé por ele finalmente ter dado indícios de que precisa rever as peças da equipe e alterá-la tecnicamente. Ele havia começado este processo com Rafael Vaz, mas, ao meu ver, não teve coragem suficiente para avançá-lo a outros postos. Agora é a hora. Torço por um time bem reformulado na Ressacada, se possível até com variação de esquema. Tudo isso, aliado ao bom conhecimento tático e à pratica estudiosa de Zé, me faz ter um resquício de esperança nele.

Quanto à diretoria, desta deve partir a mudança de postura. Boa administração à parte, dela também espero cobrança e muita hombridade. Batam na portinha do CT e cobrem que cada jogador faça jus ao salário astronômico que recebe. Poderiam, inclusive, dedicar mais tempo a isso do que a filtrar falsos e verdadeiros rubro-negros – esta não é sua função. Espero também que aprendam a lidar com momentos complicados, pois é no mínimo curioso ver o presidente escapando na surdina enquanto o elenco e comissão técnica são apunhalados pela torcida numa saída de aeroporto.

Não nos decepcione mais, diretoria. Agarre sua última oportunidade, Zé Ricardo. Sejamos Flamengo. Não deixem que o medo de avançar lhes prenda na inércia.

Rodrigo Coli

Twitter: @_rodrigocoli

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2017/06/abstracao-da-ultima-chance-de-ze-ricardo/

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