No dia em que colocou em campo sistema tático e oito dos 11 titulares da conquista da Libertadores, era natural que a campanha de 2019 fosse um balizador das expectativas rubro-negras. E a estreia no mata-mata do torneio conservou traços de um ano atrás, na derrota para o Emelec. Um treinador recém-chegado, oscilações e momentos ruins no jogo, por exemplo. Mas também é fato que, em Buenos Aires, quando viveu seu melhor momento na segunda etapa, o time esteve a ponto de virar o jogo. E trouxe para o Rio um resultado melhor do que há um ano, no Equador: o 1 a 1 com o Racing permitirá ao Flamengo se classificar até com um 0 a 0 no Maracanã, na próxima terça-feira.

Tanto se falou sobre a retomada da dupla de ataque de 2019 como forma de potencializar Gabigol e Bruno Henrique, mas a melhor versão recente deste último surgiu pela ponta esquerda, não exatamente formando uma parceria pelo centro do ataque. A questão é que, seja pelo centro ou pela ponta, Bruno Henrique cresce demais quando se cria um contexto favorável a ele. Ontem, Rogério Ceni o fez com uma mudança no primeiro tempo.

O Flamengo tinha dificuldade para sair de trás nos minutos iniciais. O Racing surpreendeu ao usar um sistema com três zagueiros, mas mantinha o hábito de pressionar muito com seus três atacantes. Neste período, o rubro-negro sofreu o gol de Fértoli e se viu desconfortável sem conseguir conservar a bola.

A partir daí, Ceni mudou o sistema. Talvez para explorar os avanços de Domínguez pela ala, talvez porque os três defensores do Racing não cobrissem a largura do campo, ou por buscar uma alternativa para escapar em velocidade. Fato é que, pouco antes de levar o gol, moveu Arrascaeta para a meia central e colocou Bruno Henrique na esquerda, num 4-2-3-1.

Criou espaço para Bruno Henrique correr, arrancar, exibir sua melhor característica. O tal contexto favorável. Na primeira chance, ele deu o gol de empate a Gabigol. Pouco depois, criou ótimo lance com Arrascaeta e chutou no travessão.

Ainda assim, o Flamengo não fazia grande jogo. E, sempre que pressionado, exibia dificuldade para defender. No gol de empate do Racing, ao grande lance de Fabrício Dominguez se seguiu uma sucessão de erros: batido Filipe Luís, Léo Pereira errou a cobertura, Thuler abandonou a área para também ser batido e não houve cobertura. Renê ficou sozinho defendendo a área.

O Racing dobrou a aposta na segunda etapa e repetiu a pressão inicial, mas desta vez o Flamengo resistiu. Ainda assim, quase todos os cruzamentos geravam perigos, como no gol perdido por Lisandro López. Até o fim do jogo, disputas perdidas na área geraram dois gols dos argentinos, que acabaram anulados.

Ceni já devolvera Bruno Henrique ao centro do ataque, mas perdeu Gabigol e colocou Vitinho. O Flamengo apostava no contragolpe, até o fôlego do Racing chegar ao limite e o rubro-negro viver seu melhor momento.

Por cerca de 20 minutos da etapa final, controlou a bola, trocou passes diante de um rival que já não defendia tão bem e teve boas chances com Vitinho e Everton Ribeiro.

Aliás, havia outro motivo para o jogo do Flamengo fluir mais pela esquerda. Após perder o chileno Isla no aquecimento, Ceni optou pela solução experiente ao improvisar Renê, mas o pé invertido lhe criou muitos problemas, defendendo e atacando.

Ainda assim, o time não foi mais incomodado, nem mesmo após a expulsão de Thuler. E volta ao Rio em boa situação na Libertadores.