Uma vitória de um Flamengo mais maduro em Libertadores. Ainda assim, uma vitória do Flamengo. O que por si torna pouco surpreendente um roteiro dramático como os que o clube tem costume de viver na competição. Quando parecia que nem a altitude alteraria a rota de um voo seguro, uma pane no segundo tempo tranformou o jogo em dois capítulos totalmente distintos.

Mas houve mais pontos positivos do que negativos no 3 a 2 sobre a LDU em Quito. O primeiro e mais representativo: autor de dois dos três gols — Bruno Henrique fez o outro —, Gabigol chegou a 16 com a camisa do Flamengo na competição. E igualou Zico como maior artilheiro do clube em Libertadores. Com o resultado, o Flamengo pode se classificar de forma antecipada se vencer o La Calera na próxima rodada. Foi a primeira vez que o time emplacou três triunfos seguidos na fase de grupos.

A queda física e psicológica também em função da altitude não apagam as boas notícias para o torcedor rubro-negro. Os primeiros 45 minutos foram dignos de almanaque. Na altitude tão temida em outras participações, o Flamengo mostrou inteligência tática. Pegou um sistema defensivo com três zagueiros, e se aproveitou com um posicionamento bem aberto e compacto.

A quebra de linhas foi possível não só pela boa movimentação coletiva, mas principalmente pela participação de Éverton Ribeiro, que voltou a se apresentar em seu melhor nível. Logo aos 2 minutos, o meia achou Gabigol, que entrou na área e tocou na saída do goleiro.

O gol cedo desnorteou os donos da casa e deu ainda mais tranquilidade para o Flamengo fazer o seu jogo. Rogério Ceni preservou o estilo da equipe ao lançar o jovem João Gomes na vaga de Gerson, lesionado. O volante fez boas intervenções defensivas. E protegeu a zaga formada por Bruno Viana e Arão. A construção do jogo a partir dos zagueiros foi outro ponto alto, que levou a LDU a dar espaços.

Em uma rápida transição, o Flamengo ampliou. Em trama com a participação do trio ofensivo, Arrascaeta fez jogo de corpo, Gabigol ajeitou e Bruno Henrique acertou um chute de rara felicidade. As jogadas ofensivas tinham a presença dos meias e atacantes apoiados pelos laterais. Mais Filipe Luís do que Isla.

Na volta para o segundo tempo, o encantou se quebrou. Primeiro o Flamengo perdeu Diego Alves, com dores na coxa. Em seguida, João Gomes sentiu. Em 15 minutos, o jogo estava empatado. Em duas jogadas aéreas pela esquerda, Borja e Amarilla deixaram tudo igual. No primeiro gol, Arão não conseguiu alcançar o atacante. Em seguida, falha geral após cruzamento. Bastou a LDU dar fim ao sistema com três zagueiros que o comportamento foi outro.

As entradas de Hugo Souza e Hugo Moura queimaram duas substituições e, diante da queda de produção acentuada, o empate soou como um bom resultado para o Flamengo no decorrer da etapa final. O time tentou voltar a preservar a posse de bola para levar menos sufoco. Mas sofreu para conseguir trocar passes, muito pressionado e já sem o mesmo fôlego. Ceni então lançou Vitinho no lugar de Éverton Ribeiro, o que trouxe mais fôlego e velocidade para os contra-ataques. Bruno Viana também sentiu o desgaste e deu lugar a Gustavo Henrique. Minimamente renovado, o Flamengo conseguiu encaixar ao menos um ataque. E nele Arrascaeta sofreu pênalti. Aos 39 minutos, Gabigol colocou o time na frente outra vez. Um resultado merecido pelo comportamento do Flamengo no começo do jogo. Não tanto pelo segundo tempo, em que o time ficou sem a bola e sofreu. Ainda assim, teve cabeça para absorver o momento ruim na partida e se recuperar. Sinais claros de uma equipe bem treinada e com a consciência do que acontece no campo. Com isso, não se deixou levar pelo nervosismo e chegou à terceira vitória.