A apresentação da garotada sub-20 do Flamengo na estreia do Campeonato Carioca menos de uma semana depois da conquista do Brasileirão nos lembra a importância de colocar o jogo contra o Nova Iguaçu em perspectiva. A vitória magra por 1 a 0, conseguida nos acréscimos, está longe de significar que a safra de jovens da equipe rubro-negra está aquém das tradições do clube. Ou que nenhum deles atenderá ao time principal nesta temporada 2021 que se inicia. O golaço de Max aos 48 minutos é um bom indício do contrário. E evita julgamentos precoces, tão comuns atualmente no futebol brasileiro. Sobretudo quando se ensaia comparar dois mundos distintos que separam a base do profissional.

Para entender a atuação sonolenta do Flamengo é preciso separar as fases do jogo. Contra um time recuado, a defesa foi protagonista. Não era para menos. Do goleiro aos laterais, passando pelos zagueiros, a linha de zaga era o que o time tinha de mais experiente. Gabriel Baptista, Matheuzinho, Noga, Natan e Ramon jogaram alguns jogos em 2020 pelo time de cima. O goleiro, o lateral direito e o zagueiro pela esquerda subiram e não desceram mais. E viveram de perto o estilo de jogo com saída vertical, jogadas com apoio dos laterais e marcação pressão sobre a defesa adversária.

Soma-se a isso a participação do volante João Gomes, utilizado por Rogério Ceni na reta final do título nacional, pensar na derrota era improvável. Daí para frente, era um Flamengo basicamente sub-20. O que fez muita diferença e explicou uma equipe que criou e finalizou muito pouco. E poderia ter saído do Maracanã derrotada.

O time se apresentou bem distante do padrão da equipe campeã brasileira. Mas não faltou vontade e movimentação. Os garotos buscaram tomar as rédeas do jogo com a posse de bola desde a defesa. Com o Nova Iguaçu todo atrás, a estratégia foi abrir as jogadas pelas laterais. Tanto Matheuzinho como Ramon subiram bastante. Faltou triangulação.

Mais que isso, faltou um meio-campo que rompesse as linhas e ativasse o ataque para imprimir um ritmo mais intenso. Daniel Cabral e João Gomes demonstraram perfil mais combativo e de toque de bola mais simples. Lázaro, camisa 10, deveria ser o principal articulador. Atuando aberto na esquerda, não apareceu muito na armação. Mas, quando deu o ar da graça, deu belo passe para Daniel Cabral na melhor chance do Flamengo no primeiro tempo, quando o time finalizou apenas duas vezes. Quando não jogava pelo fundo, o Flamengo lançava bolas longas para Muniz, de porte mais avantajado, levar vantagem. Mas o centroavante, quando teve chance, finalizou mal. O destaque da etapa inicial foi Thiaguinho, que era do Náutico, e aliou disposição com uma pitada de jogadas insinuantes, em meio a raros momentos de habilidade.

No segundo tempo, o técnico Maurício Souza não demorou a fazer alterações. Daniel Cabral sentiu dores, e foi trocado por Max. Yuri Oliveira deu lugar a Mateusão, e Thiaguinho saiu para a entrada de Gabriel Barros. Todas as mudanças no ataque deixaram a equipe do Flamengo ainda menos entrosada e dependente de um lance individual, Antes disso, o Nova Iguaçu saiu mais para o jogo e quase levou a vitória. Aos 35 minutos, Abuda chutou de longe e acertou o travessão. O goleiro Gabriel Batista fez golpe de vista e só olhou. Nos acréscimos, Gabriel salvou o Flamengo da derrota, após abafar finalização na pequena área, em raro momento de descuido da defesa. No chute de Max da intermediária, voltou a esperança nos Garotos do Ninho.