É claro que não há lado negativo de uma vitória. Ainda mais num mata-mata de Libertadores. Por isso, soa estranho dizer que o 1 a 0 de ontem sobre o Defensa y Justicia terminou com motivos para deixar o torcedor do Flamengo preocupado. Mas, sem funcionar tanto defensivamente quanto na criação, a equipe rubro-negra esteve irreconhecível. Na estreia do técnico Renato Gaúcho, a impressão é de que o time começou do zero.

Não se pode esquecer que o recém-chegado Renato só teve dois dias para trabalhar. Mais: entre lesionados e suspensos, ele não pôde contar com quatro atletas que vinham atuando como titulares. Mas, ao optar por não aproveitar nada do que o time vinha fazendo com o antecessor, o treinador deixou os jogadores perdidos e os expôs ao risco de uma derrota que poderia ter custado caro.

Passada a tensão na Argentina, fica a esperança de que, no jogo de volta, na próxima quarta, a equipe apresente um futebol melhor. Agora com a vantagem do empate.

— Ir para o Brasil com a vantagem do 1 a 0 é bom. Mas não podemos nos acomodar, porque tudo pode acontecer — alertou Michael, autor do gol.

Antes mesmo do apito inicial já era possível ver algumas novidades. A começar pela dupla de zaga, formada por Gustavo Henrique e Léo Pereira. Neste caso, Renato não tinha muitas alternativas, já que Rodrigo Caio estava lesionado e Willian Arão, suspenso.

Outra mudança foi o uso de uma dupla de volantes, com Thiago Maia e João Gomes. Na frente, Renato optou por um quarteto formado por Arrascaeta centralizado, Everton Ribeiro e Michael pelos lados e Gabigol como referência do ataque.

Com a bola rolando, contudo, nada disso pareceu ter dado certo. Os zagueiros tiveram muita dificuldade de se posicionar e ainda mostraram falta de sintonia com Diego Alves com a bola nos pés.

Os volantes, por sua vez, não funcionaram na construção. A marcação adiantada da equipe argentina os levou a errar demais. Na maioria das vezes em que o Flamengo conseguiu sair foi pelos lados, com sua dupla de laterais ou com Michael.

A consequência é que Arrascaeta, Ribeiro e Gabigol pouco viram a bola. Em todo o primeiro tempo, o Flamengo só finalizou duas vezes, algo incomum para uma equipe que se acostumou a ser tão perigosa.

Não à toa o gol, aos 20 da primeira etapa, saiu com a ajuda do acaso. Em jogada que começou com saída errada do goleiro, Michael arriscou de fora. A bola desviou em Frías e entrou.

Mas o gol não condisse com o que foi o desenho da partida: um Flamengo extremamente reativo, sem qualidade para sair até mesmo nos contragolpes, tentando resistir como pôde ao maior volume de jogo do adversário.

Se o Defensa y Justicia não chegou ao gol, deveu-se a escolhas erradas de seus atletas na frente — o que talvez se explique pelo fato de o time ter voltado de 48 dias sem jogos — e as muitas defesas de Diego Alves. Espera-se que, no próximo jogo, os rubro-negros não precisem contar de novo com esta série de fatores.